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Peso da dívida em relação à receita cresce desde a gestão Maluf
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a dívida paulistana se
aproximando de uma encruzilhada -ou a prefeitura renegocia ou
a cidade pára-, especialistas tentam explicar de várias maneiras
como se chegou a esse ponto. Em
termos gerais, a responsabilidade
pelo problema pode ser dividida
entre todos os governantes da cidade nos últimos anos, não necessariamente em porções iguais.
No último ano do governo de
Luiza Erundina (89-92), então no
PT, a receita ainda era maior do
que a dívida. Essa relação é importante porque mostra a capacidade da prefeitura de cumprir
suas obrigações. Quanto maior a
dívida em relação à receita, pior a
situação financeira da cidade.
Na gestão Paulo Maluf (PP), a
prefeitura lançou títulos no mercado para obter verbas que deveriam ser usadas no pagamento de
precatórios (dívidas judiciais),
mas utilizou o dinheiro em outras
operações. Assim, além de não
pagar os débitos ordenados pela
Justiça, Maluf ainda aumentou a
dívida com os títulos. Segundo a
CPI dos Precatórios, que investigou o assunto, 70% das emissões
foram irregulares.
A assessoria de imprensa de
Maluf costuma afirmar que ele
pagou os precatórios em dia e que
a emissão foi legal, o que é refutado pelo relatório final da CPI.
Na administração de Celso Pitta, ex-secretário das Finanças de
Maluf e eleito com apoio do ex-prefeito, os juros do governo Fernando Henrique Cardoso (95-02)
aumentaram ainda mais a dívida.
Para tentar conter a desvalorização do real, o tucano FHC praticou uma política de juros altíssimos, que chegaram a beirar os
50% ao ano. Atualmente, estão
em 16,5%.
Em 2000, último ano de Pitta,
houve uma renegociação da dívida com o governo federal, por um
prazo de 30 anos. À época, o valor
era de R$ 10,5 bilhões. Ficou acertado que os juros seriam de 6% ao
ano, mais a variação do IGP-DI.
Além disso, estava prevista uma
amortização de 20% depois de 30
meses. Se não fosse paga, os juros
subiriam para 9% ao ano, recalculados sobre o total da dívida.
Para o especialista em contas
públicas Raul Velloso, o acordo
feito por Pitta foi ruim por, além
de comprometer 13% da receita
com a dívida, prever o aumento
dos juros de 6% para 9% se a
amortização não fosse paga. "A fixação do limite de 13% foi errada,
se havia possibilidade de pagar
9%", afirma.
Em novembro de 2002, a gestão
Marta não pagou a amortização,
de R$ 3 bilhões. A relação entre
dívida e receita, então em 2,03,
saltou para 2,36 -um salto de R$
4 bilhões. A prefeitura alega que a
parcela equivalia aos gastos em
saúde e educação previstos para
aquele ano. Pitta diz que, quando
fez o acordo, planejava vender
bens da cidade para quitar a parcela de R$ 3 bilhões.
O ex-prefeito cancelou empenhos -compromissos de pagamento por serviços realizados- e
não pagou por despesas. Assim, a
gestão Marta Suplicy teve de pagar R$ 1,1 bilhão de gastos do governo anterior.
"Sem dúvida a prefeita recebeu
a cidade em má situação, mas os
indicadores pioraram. E, se isso
ocorreu, é sinal de que está gastando mais do que arrecada", diz
o economista José Roberto Afonso, assessor do PSDB.
Uma das críticas mais recorrentes, a de que a prefeitura deveria
ter feito menos obras, é infundada, em parte. Obras como a da Faria Lima são financiadas por operação urbana -quem constrói
acima da altura permitida paga à
prefeitura e o dinheiro só poder
ser usado na própria área.
(PDL E FABIANE LEITE)
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