São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Espírito Santo deixa presos em contêiner

Estado vive crise na segurança pública com rebeliões em presídios, ônibus queimados e toque de recolher no comércio

Presos foram transferidos após a polícia descobrir que eles queriam organizar uma onda de violência no Estado como houve em São Paulo

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA

Presos que passam a noite sentados em ônibus ou guardados em contêineres são uma síntese do panorama da segurança pública no Espírito Santo. Alvo de rebeliões e ataques criminosos, o Estado vive uma crise sem precedentes no setor.
Nas últimas semanas, houve queima de ônibus, toque de recolher no comércio e ações vinculadas a facções criminosas como PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho).
O capítulo mais recente dessa história começou em 10 de maio, quando cinco lideranças do sistema prisional do Estado foram transferidas da penitenciária de segurança máxima de Viana para a carceragem da PF (Polícia Federal) em Vila Velha, ambas na Grande Vitória.
A PF soube que eles organizavam, da cadeia, uma onda de violência no Estado concomitante com a do PCC em São Paulo, iniciada em 12 de maio. "Esses presos diziam que iriam "pôr fogo em Vitória'", disse o superintendente da PF-ES, Geraldo Guimarães.
Pelo menos um dos presos transferidos, o assaltante de bancos Cléber Nunes de Azevedo, o Doutorzinho, tem ligação com o PCC. Também transferido, o ex-fuzileiro da Marinha Erasmo Sérgio Alves treinou membros do CV no uso de armas pesadas.
"Temos provas desses cinco presos comandando da cadeia toda sorte de crimes, como assaltos a banco, homicídios, tráfico de armas e drogas", disse o juiz da 5ª Vara Criminal de Vitória, Carlos Eduardo Lemos.
Três rebeliões eclodiram no Estado desde 14 de junho. A pauta era a volta dos "irmãos". Saldo: quatro detentos mortos e as lideranças enviadas para um presídio de segurança máxima em Francisco Sá (MG).
Paralelamente às rebeliões, voltaram os ataques a ônibus. Dos 17 ocorridos até o último dia 23, em pelo menos 13 as ordens partiram dos presídios, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
O Espírito Santo tem uma das maiores taxas de homicídios dolosos por 100 mil habitantes do país. Em 2005, foram 50,6, contra 17,9 em São Paulo.
Há ainda 43 mil mandados de prisão expedidos, dos quais nem o Tribunal de Justiça sabe quantos foram cumpridos.

Crime organizado
Conhecido braço do crime organizado capixaba, a Scuderie Le Cocq -entidade acusada de agir como esquadrão da morte- perdeu força após apurações da CPI do Narcotráfico, encerrada em 2000.
De lá para cá, a criminalidade capixaba assumiu nova feição. "Não temos a comprovação de dominação por uma facção criminosa. Temos várias lideranças nas prisões, que se associam conforme a situação", disse o promotor Gustavo Senna.
A organização criminosa local mais conhecida é o PCG (Primeiro Comando de Guaranhuns), originada na periferia de Vila Velha e cujo chefe é Fernandes de Oliveira Reis, o Fernando Cabeção. Condenado por participação na morte, em março de 2003, do juiz Alexandre de Castro Filho, Reis integra as lideranças transferidas.
O Ministério Público e as polícias Civil e Federal dizem não ter indícios de operações do PCC no crime capixaba -a influência é apenas ideológica.
No caso do CV, a Justiça do tem informações de encomendas de drogas feitas por presos capixabas a detentos de Bangu 1, no Rio -onde estão os principais chefes da facção.
O CV também teria ensinado ao PCG técnicas de cooptação da comunidade, como distribuição de alimentos e de carros de som a igrejas evangélicas.


Texto Anterior: Néia abre o bar Liberdade diante da prisão e lidera o movimento pelos presos
Próximo Texto: Até furgões e microônibus viram presídios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.