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Espírito Santo deixa presos em contêiner
Estado vive crise na segurança pública com rebeliões em presídios, ônibus queimados e toque de recolher no comércio
Presos foram transferidos após a polícia descobrir que eles queriam organizar uma onda de violência no Estado como houve em São Paulo
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
Presos que passam a noite
sentados em ônibus ou guardados em contêineres são uma
síntese do panorama da segurança pública no Espírito Santo. Alvo de rebeliões e ataques
criminosos, o Estado vive uma
crise sem precedentes no setor.
Nas últimas semanas, houve
queima de ônibus, toque de recolher no comércio e ações vinculadas a facções criminosas
como PCC (Primeiro Comando
da Capital) e CV (Comando
Vermelho).
O capítulo mais recente dessa história começou em 10 de
maio, quando cinco lideranças
do sistema prisional do Estado
foram transferidas da penitenciária de segurança máxima de
Viana para a carceragem da PF
(Polícia Federal) em Vila Velha,
ambas na Grande Vitória.
A PF soube que eles organizavam, da cadeia, uma onda de
violência no Estado concomitante com a do PCC em São
Paulo, iniciada em 12 de maio.
"Esses presos diziam que iriam
"pôr fogo em Vitória'", disse o
superintendente da PF-ES, Geraldo Guimarães.
Pelo menos um dos presos
transferidos, o assaltante de
bancos Cléber Nunes de Azevedo, o Doutorzinho, tem ligação
com o PCC. Também transferido, o ex-fuzileiro da Marinha
Erasmo Sérgio Alves treinou
membros do CV no uso de armas pesadas.
"Temos provas desses cinco
presos comandando da cadeia
toda sorte de crimes, como assaltos a banco, homicídios, tráfico de armas e drogas", disse o
juiz da 5ª Vara Criminal de Vitória, Carlos Eduardo Lemos.
Três rebeliões eclodiram no
Estado desde 14 de junho. A
pauta era a volta dos "irmãos".
Saldo: quatro detentos mortos
e as lideranças enviadas para
um presídio de segurança máxima em Francisco Sá (MG).
Paralelamente às rebeliões,
voltaram os ataques a ônibus.
Dos 17 ocorridos até o último
dia 23, em pelo menos 13 as ordens partiram dos presídios,
segundo a Secretaria de Segurança Pública.
O Espírito Santo tem uma
das maiores taxas de homicídios dolosos por 100 mil habitantes do país. Em 2005, foram
50,6, contra 17,9 em São Paulo.
Há ainda 43 mil mandados de
prisão expedidos, dos quais
nem o Tribunal de Justiça sabe
quantos foram cumpridos.
Crime organizado
Conhecido braço do crime
organizado capixaba, a Scuderie Le Cocq -entidade acusada
de agir como esquadrão da
morte- perdeu força após apurações da CPI do Narcotráfico,
encerrada em 2000.
De lá para cá, a criminalidade
capixaba assumiu nova feição.
"Não temos a comprovação de
dominação por uma facção criminosa. Temos várias lideranças nas prisões, que se associam
conforme a situação", disse o
promotor Gustavo Senna.
A organização criminosa local mais conhecida é o PCG
(Primeiro Comando de Guaranhuns), originada na periferia
de Vila Velha e cujo chefe é Fernandes de Oliveira Reis, o Fernando Cabeção. Condenado
por participação na morte, em
março de 2003, do juiz Alexandre de Castro Filho, Reis integra as lideranças transferidas.
O Ministério Público e as polícias Civil e Federal dizem não
ter indícios de operações do
PCC no crime capixaba -a influência é apenas ideológica.
No caso do CV, a Justiça do
tem informações de encomendas de drogas feitas por presos
capixabas a detentos de Bangu
1, no Rio -onde estão os principais chefes da facção.
O CV também teria ensinado
ao PCG técnicas de cooptação
da comunidade, como distribuição de alimentos e de carros
de som a igrejas evangélicas.
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