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Até furgões e microônibus viram presídios
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
Quando visitas chegam à cadeia modular de Serra (Grande
Vitória), têm de se contentar
em ver, atrás de três cercas e a
dez metros de distância, somente o rosto dos presos nas
janelas das celas. Também não
podem entregar os "malotes",
como são chamados os embrulhos com itens de toda ordem,
de alimentos a colchões.
Essas são as principais queixas dos 90 detentos da cadeia,
maior aposta do governo capixaba contra a superlotação carcerária. Inaugurada em maio, é
formada por dez contêineres de
transporte de carga, com 30 m2
e dez presos cada. As caixas de
ferro têm cama individual, lençol e banho quente.
O Estado justifica o projeto
pela economia (R$ 5.000 por
cela contra R$ 30 mil por cela
de concreto) e pela rapidez de
instalação. Vigiados por 26 câmeras, os presos reclamam da
rotina sem TV e visitas íntimas.
No último dia 28, a cadeia teve a segunda rebelião: presos
atearam fogo a colchões e tentaram fugir, sem sucesso.
O projeto é alvo de críticas.
"A cadeia vai ficar muito quente durante o verão", diz o padre
Xavier Paolillo, da Pastoral
Carcerária da Arquidiocese de
Vitória. "Se fosse provisória,
daria até para aceitar."
Na Divisão de Homicídios de
Grande Vitória, os presos são
colocados em um furgão até
que apareçam vagas. Ficam
sentados o tempo todo e são levados ao banheiro três vezes ao
dia. Antes, porém, eram algemados nas escadas da divisão.
O chefe da divisão, delegado
Danilo Bahiense, disse que na
último dia 21 havia 16 presos
no furgão. "O sistema facilita
nossa vida aqui, porque tomar
conta de preso é complicado."
No DPJ (Departamento de
Polícia Judiciária) de Vitória,
os presos ficam em um microônibus -eram 17 no último dia
23. "Foi a maneira de dar uma
condição melhor para eles",
disse o delegado Marco Jager.
No Espírito Santo, há 1.899
presos em 46 delegacias. Outros 5.119 detentos estão nos 15
presídios, que somam 3.503 vagas (déficit de 1.616 vagas).
Dos 443 funcionários do sistema prisional, apenas 95
(21%) são concursados. Para o
juiz Carlos Eduardo Lemos, isso gera corrupção no sistema.
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