São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Até furgões e microônibus viram presídios

DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA

Quando visitas chegam à cadeia modular de Serra (Grande Vitória), têm de se contentar em ver, atrás de três cercas e a dez metros de distância, somente o rosto dos presos nas janelas das celas. Também não podem entregar os "malotes", como são chamados os embrulhos com itens de toda ordem, de alimentos a colchões.
Essas são as principais queixas dos 90 detentos da cadeia, maior aposta do governo capixaba contra a superlotação carcerária. Inaugurada em maio, é formada por dez contêineres de transporte de carga, com 30 m2 e dez presos cada. As caixas de ferro têm cama individual, lençol e banho quente.
O Estado justifica o projeto pela economia (R$ 5.000 por cela contra R$ 30 mil por cela de concreto) e pela rapidez de instalação. Vigiados por 26 câmeras, os presos reclamam da rotina sem TV e visitas íntimas.
No último dia 28, a cadeia teve a segunda rebelião: presos atearam fogo a colchões e tentaram fugir, sem sucesso.
O projeto é alvo de críticas. "A cadeia vai ficar muito quente durante o verão", diz o padre Xavier Paolillo, da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Vitória. "Se fosse provisória, daria até para aceitar."
Na Divisão de Homicídios de Grande Vitória, os presos são colocados em um furgão até que apareçam vagas. Ficam sentados o tempo todo e são levados ao banheiro três vezes ao dia. Antes, porém, eram algemados nas escadas da divisão.
O chefe da divisão, delegado Danilo Bahiense, disse que na último dia 21 havia 16 presos no furgão. "O sistema facilita nossa vida aqui, porque tomar conta de preso é complicado."
No DPJ (Departamento de Polícia Judiciária) de Vitória, os presos ficam em um microônibus -eram 17 no último dia 23. "Foi a maneira de dar uma condição melhor para eles", disse o delegado Marco Jager.
No Espírito Santo, há 1.899 presos em 46 delegacias. Outros 5.119 detentos estão nos 15 presídios, que somam 3.503 vagas (déficit de 1.616 vagas).
Dos 443 funcionários do sistema prisional, apenas 95 (21%) são concursados. Para o juiz Carlos Eduardo Lemos, isso gera corrupção no sistema.


Texto Anterior: Espírito Santo deixa presos em contêiner
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.