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Ruído nocivo de Congonhas atinge o Itaim
Barulho gerado pelo aeroporto chega a níveis agressivos à audição em área maior do que se imaginava, aponta estudo
Mapa feito pela UFRJ mostra ampliação da região em que a emissão sonora dos aviões supera o limite considerado saudável para o organismo
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DÉBORA FANTINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Estudo contratado pela empresa que administra o aeroporto de Congonhas, na zona
sul de São Paulo, mostra que a
área em que o ruído nocivo à
saúde humana provocado pelas
operações aeroportuárias cresceu 117% entre 1984, quando foi
feito o levantamento anterior, e
2004, ano em que foi realizada
a nova pesquisa, que será tornada pública em agosto.
A chamada área de ruído
rompeu os limites de Campo
Belo e Jabaquara, bairros próximos ao aeroporto, e chegou
ao Itaim Bibi e ao zoológico.
Nesses locais, o barulho alcança 65 decibéis e, de acordo
com a legislação brasileira, não
poderia ser permitido instalar
casas e escolas, por exemplo. É
o que diz a pesquisa, feita pelo
laboratório de acústica e vibrações da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
Uma projeção realizada pelo
engenheiro Ricardo Stroppa,
37, mostra que, com base na
média de habitantes da região,
a mancha de ruído afeta cerca
de 427 mil pessoas, o equivalente à população de Santos
-antes, eram cerca de 195 mil.
Viver nesses locais, segundo
médicos, provoca distúrbios
como perda de sono, irritação,
falta de concentração e aumento do estresse, além de poder
causar surdez.
Segundo o professor Jules
Slama, que coordena a pesquisa, a maior causa é o aumento
de operações no aeroporto. As
principais origens dos ruídos
são os pousos, as decolagens e o
taxiamento. Além disso, como
enfrenta problema de superlotação, existe a necessidade de
aviões ficarem sobrevoando o
aeroporto à espera de uma vaga
na pista de pouso.
"A segunda pista entrou em
uso mais tarde e comporta 25%
dos movimentos de aeronaves", diz o professor, referindo-se ao estudo anterior, de 1984.
O número de operações e de
passageiros não pára de crescer. Nos cinco primeiros meses
de 2003, passaram pelo aeroporto 92 mil aeronaves e 4,6
milhões de passageiros. De janeiro a maio deste ano, foram
96 mil aeronaves e 7,4 milhões
de pessoas, recorde histórico
desde a inauguração, em 1936.
Em relação a 2005, o número
de passageiros subiu 13,89%.
Há planos da Infraero (empresa federal de aeroportos) de
transferir parte das operações
de Congonhas para Viracopos,
em Campinas, mas o projeto
ainda não saiu do papel.
A empresa contratou o estudo nos 65 aeroportos que administra no país para implantar
sistemas de redução de ruído. A
meta é diminuir o impacto sonoro em ao menos dez decibéis.
Slama diz ser possível alcançar tal meta com mudanças na
operação. Se a aeronave cortar
a potência a 250 metros do solo
no pouso e só aumentá-la a mil
metros na decolagem, é possível alcançar o resultado, diz.
Como bairros como Moema,
Vila Mariana, Jabaquara e
Campo Belo cresceram ao longo do aeroporto, atividades que
não poderiam estar na mancha
de ruído operam normalmente,
como a escola municipal João
Carlos da Silva Borges. Lá, o
ruído alcança 65 decibéis, e o
tolerado para aulas é de 60 decibéis (leia texto nesta página).
Procurada pela Folha, a Secretaria Municipal do Planejamento, que encabeça o grupo
intersecretarial que proporá
mudanças no Plano Diretor até
outubro, afirmou que não está
definido se a zona de ruído será
incorporada à nova legislação.
Há opiniões favoráveis a
reordenar a ocupação do solo
nessas áreas, como a da urbanista Regina Monteiro, diretora da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).
"Poderíamos, por exemplo,
ir reordenando [transferir escolas para outros locais], para
deixar escolas e hospitais cada
vez mais longe de Congonhas."
A Infraero pediu o estudo à
UFRJ para seguir a recomendação da Icao (sigla em inglês
para a Organização Internacional de Aviação Civil). No início
de 2004, a entidade aprovou
documento sobre poluição sonora no entorno de aeroportos.
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