São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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À espera da 21ª Fashion Week, moda se prepara

Nova edição do evento em São Paulo começa nesta quarta, no Ibirapuera

Para os fashionistas de carteirinha, "concentração" para o campeonato fashion começa com a definição de figurinos que irão usar

NINA LEMOS
DA REVISTA DA FOLHA

Há um mês, a compradora da Daslu Mariana Penteado, 29, aproveita todas as pausas para fazer anotações em uma agenda. Meio um diário às avessas, não que já foi, mas do que está por vir, com um detalhamento, no capricho, de tudo o que vai usar em cada um dos sete dias da São Paulo Fashion Week, cuja 21ª edição começa nesta quarta. Mariana não é modelo nem estilista, mas faz parte da turma que também desfila, só que em outra passarela: os corredores da Bienal, transformados, a partir de quarta, no grande circo do povo da moda.
Para os fashionistas de carteirinha (Prada, de preferência), a "concentração" para o campeonato fashion começa semanas antes, com direito até a síndrome que acomete modelos em véspera de temporada, "a dieta do alface", para chegar ao evento com o "phisique du rôle" perfeito. Mas a maior preocupação é o figurino. A turma -formada por editores de moda, compradores de loja, jornalistas, modernos- edita seus looks como se fossem stylists da coleção mais importante da temporada, a que será desfilada por eles mesmos.
"Já tenho várias roupas separadas", diz Mariana. "Penso no conjunto. Nunca repito bolsa. Eu me preparo para o evento como se estivesse montando uma mala de viagem."
"Uma mala" é força de expressão. Quem vem realmente de fora sabe que uma mala só não faz sensação. Xavier Netto, diretor de compras da Clube Chocolate que mora no Rio, precisa de ao menos duas. Uma delas só para os 20 pares de sapatos. "Em um evento como esse, dou entrevistas, e todos querem saber o que estou usando." Ele tem "um conceito" para explicar as roupas que usa. "Não gosto de "logo" (logomarca). Prefiro usar roupas que só quem é da moda percebe de quem são."
Não, não é uma questão de discrição; funciona como uma espécie de dialeto acessível apenas aos iniciados. Fashionista que é fashionista é capaz de reconhecer uma peça de grife internacional de longe.
Tanto assim que o editor de moda da revista da SPFW, Aílton Pimentel, 35, encomendou peças Yves Saint Laurent para um amigo que viajou recentemente para Londres. Uma semana antes do evento, Aílton pensava e agia como um estilista prestes a lançar coleção. "Já tenho metade dos meus looks "editados'", avisava, repetindo o jargão que os profissionais de moda usam para definir os modelos que realmente vão ser desfilados. Para fazer a edição de si mesmo, Aílton desce a detalhes. "Fotografo os meus looks completos e depois coloco no computador, com legenda." O "trabalho de edição" só acaba com a definição do "line-up", outro jargão usado para nomear o cronograma dos desfiles. "Não posso ir, por exemplo, vestido de Alexandre Herchcovitch em dia de desfile dele, é um mico."
Ou pode ser exatamente o contrário. "Procuro usar uma peça de algum estilista de que eu goste em cada dia de desfile", explica a consultora de moda Manu Carvalho, 35. Como em qualquer pré-estréia, esse é um "momento de adrenalina" para quem trabalha com moda, diz ela. Manu monta araras móveis em seu apartamento, com os looks completos, para não enfrentar imprevistos.
Técnica de quem sabe bem que, no mundo fashion, as línguas são bem mais afiadas que as tesouras, e a "costura" sobre a desgraça alheia faz parte da diversão.
"Uma semana antes, eu coloco todo o meu guarda-roupa para baixo e decido quais roupas vou usar. Não improviso. Cada dia que passa sou mais exigente. Não quero sentir que estou com uma roupa meio errada", declara a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato, 65.
Para a edição deste ano, ela já separou sete pares de óculos ("Mas no fundo sei que acabo usando uns três") e roupas que combinem com o clima e a correria. "Estou me lixando para tendência", afirma. Reconhecida como uma referência da moda brasileira, Costanza pode até se dar a esse luxo, mas também não escapa de alguns dilemas. "Tenho umas plataformas imensas, que adoraria usar. São lindas. Mas preciso do raciocínio. Sou uma mulher mais velha e meu pé pode doer." Até a conclusão desta edição, ela não sabia se arriscaria o salto. "Será que eu levo um chinelo na bolsa ou tomo uma anestesia no pé?"


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