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À espera da 21ª Fashion Week, moda se prepara
Nova edição do evento em São Paulo começa nesta quarta, no Ibirapuera
Para os fashionistas de carteirinha, "concentração" para o campeonato fashion começa com a definição de figurinos que irão usar
NINA LEMOS
DA REVISTA DA FOLHA
Há um mês, a compradora da
Daslu Mariana Penteado, 29,
aproveita todas as pausas para
fazer anotações em uma agenda. Meio um diário às avessas,
não que já foi, mas do que está
por vir, com um detalhamento,
no capricho, de tudo o que vai
usar em cada um dos sete dias
da São Paulo Fashion Week,
cuja 21ª edição começa nesta
quarta. Mariana não é modelo
nem estilista, mas faz parte da
turma que também desfila, só
que em outra passarela: os corredores da Bienal, transformados, a partir de quarta, no grande circo do povo da moda.
Para os fashionistas de carteirinha (Prada, de preferência), a "concentração" para o
campeonato fashion começa
semanas antes, com direito até
a síndrome que acomete modelos em véspera de temporada,
"a dieta do alface", para chegar
ao evento com o "phisique du
rôle" perfeito. Mas a maior
preocupação é o figurino. A turma -formada por editores de
moda, compradores de loja,
jornalistas, modernos- edita
seus looks como se fossem
stylists da coleção mais importante da temporada, a que será
desfilada por eles mesmos.
"Já tenho várias roupas separadas", diz Mariana. "Penso no
conjunto. Nunca repito bolsa.
Eu me preparo para o evento
como se estivesse montando
uma mala de viagem."
"Uma mala" é força de expressão. Quem vem realmente
de fora sabe que uma mala só
não faz sensação. Xavier Netto,
diretor de compras da Clube
Chocolate que mora no Rio,
precisa de ao menos duas. Uma
delas só para os 20 pares de sapatos. "Em um evento como esse, dou entrevistas, e todos querem saber o que estou usando."
Ele tem "um conceito" para explicar as roupas que usa. "Não
gosto de "logo" (logomarca).
Prefiro usar roupas que só
quem é da moda percebe de
quem são."
Não, não é uma questão de
discrição; funciona como uma
espécie de dialeto acessível
apenas aos iniciados. Fashionista que é fashionista é capaz
de reconhecer uma peça de grife internacional de longe.
Tanto assim que o editor de
moda da revista da SPFW, Aílton Pimentel, 35, encomendou
peças Yves Saint Laurent para
um amigo que viajou recentemente para Londres. Uma semana antes do evento, Aílton
pensava e agia como um estilista prestes a lançar coleção. "Já
tenho metade dos meus looks
"editados'", avisava, repetindo o
jargão que os profissionais de
moda usam para definir os modelos que realmente vão ser
desfilados. Para fazer a edição
de si mesmo, Aílton desce a detalhes. "Fotografo os meus
looks completos e depois coloco no computador, com legenda." O "trabalho de edição" só
acaba com a definição do "line-up", outro jargão usado para
nomear o cronograma dos desfiles. "Não posso ir, por exemplo, vestido de Alexandre
Herchcovitch em dia de desfile
dele, é um mico."
Ou pode ser exatamente o
contrário. "Procuro usar uma
peça de algum estilista de que
eu goste em cada dia de desfile",
explica a consultora de moda
Manu Carvalho, 35. Como em
qualquer pré-estréia, esse é um
"momento de adrenalina" para
quem trabalha com moda, diz
ela. Manu monta araras móveis
em seu apartamento, com os
looks completos, para não enfrentar imprevistos.
Técnica de quem sabe bem
que, no mundo fashion, as línguas são bem mais afiadas que
as tesouras, e a "costura" sobre
a desgraça alheia faz parte da
diversão.
"Uma semana antes, eu coloco todo o meu guarda-roupa
para baixo e decido quais roupas vou usar. Não improviso.
Cada dia que passa sou mais
exigente. Não quero sentir que
estou com uma roupa meio errada", declara a empresária e
consultora de moda Costanza
Pascolato, 65.
Para a edição deste ano, ela já
separou sete pares de óculos
("Mas no fundo sei que acabo
usando uns três") e roupas que
combinem com o clima e a correria. "Estou me lixando para
tendência", afirma. Reconhecida como uma referência da moda brasileira, Costanza pode
até se dar a esse luxo, mas também não escapa de alguns dilemas. "Tenho umas plataformas
imensas, que adoraria usar. São
lindas. Mas preciso do raciocínio. Sou uma mulher mais velha e meu pé pode doer." Até a
conclusão desta edição, ela não
sabia se arriscaria o salto. "Será
que eu levo um chinelo na bolsa
ou tomo uma anestesia no pé?"
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