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"Meu suor cheirava a veneno", diz lavrador
DO ENVIADO ESPECIAL
O agricultor Valdomiro José
Schuster, 50, conta que conheceu
o rosto da morte em novembro de
2000. Ficou seis dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) depois
que rompeu uma mangueira no
tambor de agrotóxico que ele aplicava no fumo. Dentro dele havia
400 litros de agrotóxico.
"Tive que fechar o tambor com
a mão. Depois disso, bastava eu
suar para voltar o cheiro do veneno", diz. Agora, ele só planta arroz
e abandonou os agrotóxicos.
Schuster afirma que médicos da
unidade do SUS (Serviço Único
de Saúde) de Santa Cruz do Sul
não quiseram interná-lo por intoxicação. "Aqui, se você está intoxicado, o médico diz que é leptospirose. Fui internado assim", conta. Os sintomas, afirma, são parecidos: vômito, dores nas pernas e
a urina fica escura.
Depois que saiu da UTI, ele afirma que fez dois exames de leptospirose e o resultado deles foi negativo. Para Schuster, os casos de intoxicação são recusados porque
as empresas de fumo temem que
a imagem delas saia arranhada.
A secretária da Saúde de Santa
Cruz do Sul, Denise Struecker, 38,
diz que o SUS nunca se recusou a
atender casos de intoxicação. "Seria omissão de socorro. Fazemos
trabalho preventivo com os agricultores sobre agrotóxicos." Segundo ela, intoxicação não é caso
de notificação compulsória.
O trabalho de prevenção parece
não funcionar. Na última semana,
Carlos Alberto Moraes, 33, aplicava o herbicida Gamit sem a roupa
de proteção e sem máscara. "Trabalho com muito veneno desde os
12 anos e nunca me fez mal. É porque sou forte. Sem o agrotóxico, a
safra fica muito menor."
Cultura tóxica
O fumo tem essa imagem de
cultura tóxica por causa do passado, de acordo com Marco Dornelles, 40, agrônomo da Afubra (Associação dos Fumicultores do
Brasil).
Há 20 anos, afirma, um hectare
de fumo consumia cerca de 60 kg
de agrotóxico. No ano passado,
foram 2 kg de princípio ativo por
hectare. Os EUA empregam 34 kg
na mesma área.
"O fumo brasileiro é o que usa
menos agrotóxico no mundo",
afirma Claudio Henn, 66, presidente do Sindifumo (Sindicato da
Indústria do Fumo).
O país atingiu essa marca por
exigência do mercado internacional -os três Estados do Sul do
Brasil exportam 85% do fumo
que produzem.
Segundo Henn, o fumo "limpo"
e o combate ao trabalho infantil
são as prioridades da entidade.
A razão dessas preocupações
por parte da indústria é econômica: os compradores internacionais querem produtos socialmente corretos e sem agrotóxicos.
"Se tiver resíduo tóxico, o comprador recusa o fumo. Os chineses já fizeram isso com a soja brasileira", compara.
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