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NO FLAT
Aposentada pedala em academia e faz hidro
DA REPORTAGEM LOCAL
A agenda da professora aposentada Mafalda Barreiros Adami,
79, está lotada até o dia 4. Viúva há
quatro anos, ela organiza seu octagésimo aniversário, um jantar
dançante para 116 pessoas. Os docinhos vêm de Campos (RJ), os
vinhos e os espumantes são italianos e o bolo terá 80 velinhas. "Vai
parecer uma fogueira", brinca.
Mais reservada, Carmen Costa
Verlangieri comemora hoje 80
anos, acompanhada de quatro filhas, oito netos e um bisneto. "Vamos almoçar juntos e depois terá
um bolinho para os amigos", conta Carmen, que costuma passear
com outras idosas.
Na academia, Clélia Affonseca
Ferraz, 75, pedala com vigor a bicicleta ergométrica. Em seguida,
faz hidroginástica. À noite, vai a
teatros, museus e cinemas. Admite que ficou exigente por causa da
idade, inclusive em relação aos
"fãs". "Dispensei um que adorava
declamar Homero [poeta grego
que teria vivido no século 8 a.C.]."
Em comum, elas têm o fato de
serem saudáveis, independentes e
viverem em um prédio de luxo na
região da av. Paulista, projetado
para recebê-las. As diferenças começam no elevador: sistema de
voz para anunciar os andares e
painel com letras garrafais.
Nos flats, equipados com cozinha americana, sala, quarto e banheiro, há botões de alarme nos
ambientes. Se acionados, disparam no posto médico, que funciona 24 horas. No banheiro há piso
antiderrapante, barras de apoio e
espaço para cadeira de rodas.
O residencial conta também
com piscina, sala de ginástica e
restaurante, além de vans que levam os idosos a seus programas.
A idade média dos hóspedes
-90% são mulheres viúvas- é
de 80 anos. A maioria alugou ou
vendeu seus imóveis, onde viviam
sozinhos ou com empregadas, para bancar o aluguel de R$ 5.000.
Mafalda tinha uma casa no Butantã (zona oeste) com 400 m2 de
jardim. Clélia morava no Morumbi (zona sul) e Carmen, em Moema (zona sul). "Distribuí tudo
[móveis e objetos] aos meus filhos. Foi uma decisão acertada.
Eles protestaram, achando que eu
envelheceria mais rápido. Mas
hoje me sinto mais jovem, mais
ativa e mais feliz", diz Carmen,
que dirige seu carro, viaja sozinha
ao exterior e faz cursos na Universidade de Terceira Idade.
Mafalda não é diferente. Faz ginástica diariamente e hidro duas
vezes por semana, adora dançar e
ler. Na última semana, reclamava
do "texto confuso" de Chico
Buarque no livro "Budapeste",
um dos mais vendidos do mês e
que deve virar filme. "Quase não
tem parágrafo. Isso é literatura?"
avalia a professora aposentada.
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