São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

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NO FLAT

Aposentada pedala em academia e faz hidro

DA REPORTAGEM LOCAL

A agenda da professora aposentada Mafalda Barreiros Adami, 79, está lotada até o dia 4. Viúva há quatro anos, ela organiza seu octagésimo aniversário, um jantar dançante para 116 pessoas. Os docinhos vêm de Campos (RJ), os vinhos e os espumantes são italianos e o bolo terá 80 velinhas. "Vai parecer uma fogueira", brinca.
Mais reservada, Carmen Costa Verlangieri comemora hoje 80 anos, acompanhada de quatro filhas, oito netos e um bisneto. "Vamos almoçar juntos e depois terá um bolinho para os amigos", conta Carmen, que costuma passear com outras idosas.
Na academia, Clélia Affonseca Ferraz, 75, pedala com vigor a bicicleta ergométrica. Em seguida, faz hidroginástica. À noite, vai a teatros, museus e cinemas. Admite que ficou exigente por causa da idade, inclusive em relação aos "fãs". "Dispensei um que adorava declamar Homero [poeta grego que teria vivido no século 8 a.C.]."
Em comum, elas têm o fato de serem saudáveis, independentes e viverem em um prédio de luxo na região da av. Paulista, projetado para recebê-las. As diferenças começam no elevador: sistema de voz para anunciar os andares e painel com letras garrafais.
Nos flats, equipados com cozinha americana, sala, quarto e banheiro, há botões de alarme nos ambientes. Se acionados, disparam no posto médico, que funciona 24 horas. No banheiro há piso antiderrapante, barras de apoio e espaço para cadeira de rodas.
O residencial conta também com piscina, sala de ginástica e restaurante, além de vans que levam os idosos a seus programas.
A idade média dos hóspedes -90% são mulheres viúvas- é de 80 anos. A maioria alugou ou vendeu seus imóveis, onde viviam sozinhos ou com empregadas, para bancar o aluguel de R$ 5.000.
Mafalda tinha uma casa no Butantã (zona oeste) com 400 m2 de jardim. Clélia morava no Morumbi (zona sul) e Carmen, em Moema (zona sul). "Distribuí tudo [móveis e objetos] aos meus filhos. Foi uma decisão acertada. Eles protestaram, achando que eu envelheceria mais rápido. Mas hoje me sinto mais jovem, mais ativa e mais feliz", diz Carmen, que dirige seu carro, viaja sozinha ao exterior e faz cursos na Universidade de Terceira Idade.
Mafalda não é diferente. Faz ginástica diariamente e hidro duas vezes por semana, adora dançar e ler. Na última semana, reclamava do "texto confuso" de Chico Buarque no livro "Budapeste", um dos mais vendidos do mês e que deve virar filme. "Quase não tem parágrafo. Isso é literatura?" avalia a professora aposentada.


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