São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

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NO "CINGAPURA"

"À noite, é tiro, briga e gritaria", diz morador

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

"De dia, é tudo uma tranqüilidade, até parece um cemitério. De noite, é tiro pra todo lado, gritaria e briga aqui na frente. Não dá nem pra abrir a porta. Na semana passada, encontrei uma cápsula de bala no quintal", afirma Francisco Ferreira da Silva, 77, morador da Vila Dignidade, conjunto habitacional de seis casas para a terceira idade, ao lado do projeto Cingapura da Água Branca (zona oeste), entregues pelo então prefeito Celso Pitta, em abril de 1997.
Sete anos depois da inauguração, as casas estão bem conservadas e ocupadas por idosos. Mas a visita semanal de um médico, a distribuição de cesta básica e a segurança prometidas pela prefeitura nunca apareceram.
Só um detalhe diferencia as unidades de outras construções: uma lâmpada de alarme, do lado de fora de cada casa, para ser acionada em caso de problemas. O botão fica no quarto, mas não teve utilidade até hoje. "Ele já foi acionado três ou quatro vezes, mas sempre sem querer", relata Silva, que vive com a mulher, Maria de Lourdes da Silva, 76, e se considera "a autoridade do pedaço".
"O seu Francisco é quem manda aqui. Não adianta reclamar. Sou eu que resolvo tudo. Sou bastante rigoroso. Quando eu sair, essa área aqui vai virar uma bagunça", afirma, depois de dar uma bronca no aposentado Benedito Lambert Brito, 73, que atendia a reportagem sem chamá-lo para falar.
Os dois são moradores originais da Vila Dignidade, assim como uma senhora conhecida por "dona Maria". Os demais substituíram um senhor que, contam, "morreu de velhice", uma mulher que foi morar com os filhos e um idoso "expulso" após bater nela.
Eles dizem que a prefeitura demorou dois anos para indicar um novo morador para uma dessas casas, que virou alvo de moradores do Cingapura. Mesmo com a vila cercada por grades e com portões trancados com cadeados, Silva e Brito afirmam que houve tentativa de invasão.
A preocupação é com a "barulheira" e a "bagunça" durante a madrugada. "O que eu vou fazer? Eles ficam na rua, a rua não é minha, eu não posso mandar neles. Tenho que deitar e tentar dormir", afirma Brito, que, como os demais, não paga pela moradia.
A gestão Marta Suplicy tem um projeto de habitação popular para a terceira idade, a Vila dos Idosos. O condomínio de 145 apartamentos no Pari, centro, deve ser construído a partir deste ano e ter elevadores e banheiros largos.


Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI, da Reportagem Local

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