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EDUCA€ÃO
Adolescentes afirmam que pais não os acompanham; resultado está em tese de mestrado defendida na USP
Filho sente falta dos pais
na vida escolar
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
"Meu pai não pergunta muito.
Ás vezes é ruim porque quando
chega o boletim, as notas não são
as que ele esperava. Daí ele cobra,
mas nem sabe direito como as coisas aconteceram."
"Sinto falta do carinho do meu
pai. Isso me afeta na escola. Fico
pensando em problemas e não
presto atenção. Se fosse diferente,
poderia ir melhor."
As declarações de J.V.B. e S.W.,
ambos de 15 anos, sintetizam um
sentimento de abandono com que
muitos terapeutas, psicólogos e
orientadores educacionais têm
convivido com mais e mais frequência e que se tornou tema de
uma dissertação de mestrado defendida recentemente na USP
(Universidade de São Paulo)-a
falta de participação dos pais na
vida escolar dos filhos.
"Parte da responsabilidade é da
escola porque não tem claro como
quer que os pais participem. Mas
os pais nem sempre têm claro como educar os filhos", diz o psicólogo Leonardo de Perwin e Fraiman, autor da dissertação -trabalho que se baseia em sua experiência como orientador no colégio Renascença, em São Paulo.
A mudança do modelo de família (mães que trabalham fora, pais
que se separam e se casam novamente, etc) explica parte do problema, mas não é tudo. "Quem
tem filho na adolescência hoje nega a educação que recebeu dos
pais. O problema é que, ao negar,
quebra a relação entre direito e dever. A sensação de abandono aparece na adolescência, mas é consequência de um processo que começa na infância", diz a psicoterapeuta Lisandre Castello Branco.
Atualmente, diz Lisandre, os direitos prevalecem sobre os deveres
e os pais assumem o papel de
"provedores de felicidade" em
vez de atuar como pais. "Criança
é criança. Não dá para confundir
com adulto. Pai não é um amiguinho do filho, mas figura de autoridade. Tem de colocar limite."
Notas baixas, falta de capacidade
de concentração e indisciplina podem ser algumas das consequências da ausência de limites. "O
adolescente vai mal na escola porque não está acostumado desde
criança a ser cobrado por seus resultados", diz Içami Tiba, psiquiatra de jovens há 30 anos.
Diante do problema, os pais acabam reforçando a atuação como
"provedores de felicidade" buscando soluções que nem sempre
são as mais adequadas.
"Os pais vêem as notas ruins e
mandam os filhos para ter aula
particular. Mas na testagem que
fazemos percebemos que os problemas são mais profundos", diz
Marisa Tamashiro, que há dez
anos tem uma escola de aulas particulares.
Se os adolescentes reclamam da
distância dos pais, estes, por sua
vez, dizem estar preocupados em
garantir o espaço dos filhos.
"Trabalho muito. Por isso tento
criar um referencial para manter a
coesão familiar e o espaço de liberdade de cada um. Acho que tem
funcionado", diz A.V.B., pai de
J.V.B., que preferiu não ter a identidade revelada, .
Embora a intenção seja boa, a
atitude pode revelar falta de orientação dos pais. "Nas palestras das
escolas, os pais me enchem de perguntas. Eles estão perdidos", diz a
psicóloga Rosely Sayão.
A saída pode estar numa definição mais clara dos parâmetros de
educação. "Muitos pais têm a sensação de que não têm como remar
contra a maré e deixam os filhos
fazer o que querem. Isso é um erro."
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