São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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SISTEMA PRISIONAL
Motim no Instituto Penal Paulo Sarasate, de Fortaleza, deixou cinco feridos; a Polícia Militar ocupou o presídio
No CE, preso morre na 5ª rebelião do ano

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Pelo menos um preso foi morto a tiros e outros cinco ficaram feridos na rebelião ocorrida ontem no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), na região metropolitana de Fortaleza. A Polícia Militar ocupou a cadeia.
É o quinto motim no presídio, só neste ano. Desde junho, quando seis presos foram mortos por policiais durante uma suposta tentativa de fuga, os detentos dominam os pavilhões, entrando e saindo das celas livremente, acompanhados apenas por agentes penitenciários desarmados.
Na rebelião de ontem, os 1.178 presos destruíram as grades que haviam sido refeitas, incendiaram a sala da administração, a enfermaria e a fábrica de bolas de futebol da prisão.
De manhã, a secretária de Justiça, Sandra Dond, ordenou que 250 policiais militares da Guarda de Choque entrassem no local para controlar a rebelião. Durante todo o dia, porém, foi possível ouvir tiros do lado de fora do presídio, enquanto mais policiais entravam para reforçar a guarda.
"Enquanto todos os presos não estiverem controlados, iremos manter a PM dentro do IPPS", disse a secretária.
Ela afirmou que irá pedir ajuda financeira ao Ministério da Justiça para a reconstrução das celas e a substituição dos equipamentos destruídos.
O governo do Ceará gasta, por mês, cerca de R$ 700 por detento do IPPS, considerado o principal presídio cearense. Ao todo, somados os 1.178 presos, o Estado gasta R$ 824.600 mensalmente. O estabelecimento tem capacidade para 880 detentos -dividem as celas 298 presos a mais.
Uma das medidas para retomar o controle do presídio será a transferência de 13 presos, considerados os líderes da rebelião, para o interior do Estado. Entre eles está o traficante Giovani Cesarino, acusado por policiais de liderar o tráfico de drogas de todo o Ceará de dentro do próprio IPPS.
Aliás, boa parte da família de Cesarino também está presa: a mãe, a mulher e a cunhada estão no presídio feminino do IPPS e o irmão está no Instituto Penal Presídio Olavo Oliveira.
Segundo Sandra Dond, os presos não fizeram reivindicações. "Só fizeram vandalismo." Ela não descarta a possibilidade de que existam ainda mais mortos nos pavilhões, que não foram completamente vistoriados até a noite de ontem.
Um carro do Instituto Médico Legal (IML) permaneceu na saída do presídio durante todo o dia, ao lado de carros do Corpo de Bombeiros. O preso que morreu se chamava Luís Carlos Gomes Matias, conhecido como Pantera. Ele foi encontrado com tiros no corpo e queimaduras graves.
A situação tensa no IPPS já vinha sendo denunciada pelos próprios carcereiros. Eles afirmam que os presos estão armados e que anunciam quando vão fazer "acertos de contas".
Não é de hoje que o IPPS apresenta problemas de segurança. Foi a partir da rebelião de junho, porém, que a Secretaria de Justiça descobriu que os presos têm armas dentro do presídio.


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