São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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SÃO PAULO
O bairro, localizado na zona leste, vem atraindo comércio sofisticado e serviços característicos de áreas nobres
Investimentos mudam perfil do Tatuapé

KARLA MONTEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os últimos cinco anos foram de bonança para o Tatuapé. O bairro, vizinho da Mooca, na zona leste, deixou de ser apenas dormitório. Com edifícios de luxo entremeados por um comércio sofisticado, compara-se hoje à Moema, bairro da região sul que registrou grande expansão econômica no final dos anos 70.
Em um raio de 2,5 quilômetros, concentram-se quatro shoppings centers, sete McDonalds, dois hipermercados, três concessionárias de carros importados e cerca de 26 agências bancárias, além de lojas de grifes famosas, bons restaurantes e casas noturnas badaladas na zona sul e oeste.
Não foi por acaso que o Tatuapé virou objeto de desejo dos investidores. O dinheiro que sustenta o comércio é o da classe média que emergiu ali mesmo e habita apartamentos de até R$ 1,5 milhão, somado ao dos forasteiros que migraram para o bairro na esteira da verticalização de luxo. São novos ricos ávidos por consumo.
A renda "per capita" no Tatuapé é de R$ 2.600 por mês, o dobro da média da Grande São Paulo.
"Antes era comum encontrar vizinhos no shopping Morumbi ou nos restaurantes dos Jardins. Agora temos tudo aqui. Não é mais preciso atravessar a cidade", diz a empresária Rosane Arthur, 35 anos, nascida no bairro.
A metamorfose do Tatuapé, antes povoado por casas simples, chácaras de pêssego e indústrias, começou no início dos anos 80.
O primeiro condomínio de luxo foi o Chácara Anália Franco, com apartamentos de 300 a 500 m2 de área útil. O preço de cada unidade gira em torno de R$ 1 milhão. Daí para a frente, pipocaram espigões de luxo para todos os lados.
"Começamos a construir bons prédios para atrair empresários que trabalhavam em regiões próximas, como Guarulhos, e tinham de cruzar a cidade para chegar à empresa", conta Manoel Jorge Gonçalves, dono da Ação Imóveis, imobiliária influente no bairro, com 30 anos no mercado.
A estratégia deu certo. De 94 a 99, foram construídos 117 prédios. Desse total, mais de 80% têm apartamentos de três ou mais quartos e mínimo de duas vagas de garagem por unidade.
Segundo o empresário, só este ano estão em construção 25 prédios luxuosos, com três e quatro quartos. O metro quadrado dos prédios em lançamento sai por R$ 2.500, R$ 1.000 a mais do que em prédios do Morumbi.
Também existem no bairro construções de altíssimo luxo, como três prédios com uma piscina por andar e coberturas que chegam a custar R$ 4 milhões.
Outro fator que propiciou a expansão imobiliária foi a migração de indústrias para as redondezas (Itaquera, Guarulhos e São Miguel). A fumaça das chaminés deu lugar à sofisticação.
Os cifrões estampados na imponência das residências e na sofisticação do comércio trouxeram violência. O Tatuapé ocupa hoje o 22º lugar no ranking de furtos e assaltos. Ganha de Moema, que está na 35º posição. O número de homicídios dobrou de 98 para 99. "É o preço que se paga pela urbanização: perda de qualidade de vida", lamenta Gonçalves.



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