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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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INFÂNCIA

Meninas disseram que a diretora de um abrigo no Rio batia em seus rostos com tamanco; acusada negou as acusações à Justiça

Freira torturou por 4 anos, diz Promotoria

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Segundo denúncia do Ministério Público de São Gonçalo (região metropolitana do Rio), a freira Luzia Helena de Souza, 50, presa na sexta-feira, torturou crianças durante quatro anos. As vítimas são meninas de um a dez anos de idade, de famílias pobres, que viviam internadas em um abrigo da Congregação das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima naquele município.
A freira era diretora do abrigo e foi afastada do cargo em dezembro, por ordem judicial, depois que uma sindicância do Juizado da Criança e do Adolescente confirmou a existência de indícios de tortura.
Oito meninas depuseram na sexta-feira passada e descreveram as torturas a que foram supostamente submetidas. A religiosa, nascida em Uberlândia (MG), saiu da audiência para a 53ª Delegacia Policial, onde está presa.
Quatro meninas acusaram a freira de tê-las golpeado com tamanco no rosto e duas disseram que apanharam de cabo de vassoura diversas vezes.
Uma menina de seis anos relatou à juíza que, além de apanhar no rosto, também tinha de limpar os pés da religiosa.
Outra menina, de nove anos, contou que foi colocada de joelhos sobre grãos de feijão como castigo por brincadeiras que irritaram a freira.
A mesma garota disse também que as meninas que faziam xixi na cama eram colocadas nuas no corredor, de frente umas para as outras, como punição, e que sentiam ""muita vergonha" da situação. Pelo mesmo motivo, outras meninas foram obrigadas a dormir no banheiro, segundo depoimento das crianças.
Uma menina de sete anos relatou que a freira, a quem as crianças se referiam como ""tia Helena", por várias vezes a prendeu em quarto escuro.
Na denúncia do promotor, consta que a freira obrigou uma interna a bater na irmã por causa de travessuras e que ela ameaçava as crianças com mais espancamentos se contassem o que acontecia aos parentes.

Acusações
A freira começou a ser investigada a partir de uma denúncia anônima feita ao juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio, Siro Darlan de Oliveira, em setembro do ano passado.
Segundo Patrícia Acioli, juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo e autora da ordem de prisão temporária, a freira negou as acusações e acusou outra freira de ter induzido as crianças a denunciá-la com o propósito de tomar-lhe o cargo de diretora.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não quis se pronunciar sobre as acusações.
A Arquidiocese de Niterói, à qual estão subordinadas as irmãs missionárias de São Gonçalo, disse ontem, via nota do seu administrador diocesano, Monsenhor José Geraldo da Silva, que achou por bem não se pronunciar, deixando as declarações por conta da superiora do Instituto das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima, Madre Dálida de Oliveira.
A nota diz que, aconselhada por advogados, a superiora da congregação também não dará declarações e que os advogados darão uma entrevista coletiva ""oportunamente".
A juíza Patrícia Acioli disse que determinou a prisão temporária da religiosa para impedir que ela deixasse o país ou que fosse enviada pela congregação para outro Estado, onde poderia voltar a agredir crianças.


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