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INFÂNCIA
Meninas disseram que a diretora de um abrigo no Rio batia em seus rostos com tamanco; acusada negou as acusações à Justiça
Freira torturou por 4 anos, diz Promotoria
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Segundo denúncia do Ministério Público de São Gonçalo (região metropolitana do Rio), a freira Luzia Helena de Souza, 50, presa na sexta-feira, torturou crianças durante quatro anos. As vítimas são meninas de um a dez
anos de idade, de famílias pobres,
que viviam internadas em um
abrigo da Congregação das Irmãs
Missionárias de Nossa Senhora de
Fátima naquele município.
A freira era diretora do abrigo e
foi afastada do cargo em dezembro, por ordem judicial, depois
que uma sindicância do Juizado
da Criança e do Adolescente confirmou a existência de indícios de
tortura.
Oito meninas depuseram na
sexta-feira passada e descreveram
as torturas a que foram supostamente submetidas. A religiosa,
nascida em Uberlândia (MG),
saiu da audiência para a 53ª Delegacia Policial, onde está presa.
Quatro meninas acusaram a
freira de tê-las golpeado com tamanco no rosto e duas disseram
que apanharam de cabo de vassoura diversas vezes.
Uma menina de seis anos relatou à juíza que, além de apanhar
no rosto, também tinha de limpar
os pés da religiosa.
Outra menina, de nove anos,
contou que foi colocada de joelhos sobre grãos de feijão como
castigo por brincadeiras que irritaram a freira.
A mesma garota disse também
que as meninas que faziam xixi na
cama eram colocadas nuas no
corredor, de frente umas para as
outras, como punição, e que sentiam ""muita vergonha" da situação. Pelo mesmo motivo, outras
meninas foram obrigadas a dormir no banheiro, segundo depoimento das crianças.
Uma menina de sete anos relatou que a freira, a quem as crianças se referiam como ""tia Helena", por várias vezes a prendeu
em quarto escuro.
Na denúncia do promotor,
consta que a freira obrigou uma
interna a bater na irmã por causa
de travessuras e que ela ameaçava
as crianças com mais espancamentos se contassem o que acontecia aos parentes.
Acusações
A freira começou a ser investigada a partir de uma denúncia
anônima feita ao juiz da 1ª Vara
da Infância e da Juventude do Rio,
Siro Darlan de Oliveira, em setembro do ano passado.
Segundo Patrícia Acioli, juíza da
4ª Vara Criminal de São Gonçalo
e autora da ordem de prisão temporária, a freira negou as acusações e acusou outra freira de ter
induzido as crianças a denunciá-la com o propósito de tomar-lhe o
cargo de diretora.
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) não quis se
pronunciar sobre as acusações.
A Arquidiocese de Niterói, à
qual estão subordinadas as irmãs
missionárias de São Gonçalo, disse ontem, via nota do seu administrador diocesano, Monsenhor
José Geraldo da Silva, que achou
por bem não se pronunciar, deixando as declarações por conta da
superiora do Instituto das Irmãs
Missionárias de Nossa Senhora de
Fátima, Madre Dálida de Oliveira.
A nota diz que, aconselhada por
advogados, a superiora da congregação também não dará declarações e que os advogados darão
uma entrevista coletiva ""oportunamente".
A juíza Patrícia Acioli disse que
determinou a prisão temporária
da religiosa para impedir que ela
deixasse o país ou que fosse enviada pela congregação para outro
Estado, onde poderia voltar a
agredir crianças.
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