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ABUSO DE PODER
Relatório da SOS Tortura mostra SP como campeão de denúncias
Policiais lideram tortura, diz ONG
FABIANA CIMIERI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Relatório da ONG SOS Tortura
que será apresentado em outubro
mostra que 78% dos 2.075 casos
de tortura denunciados ao governo federal a partir de novembro
de 2001 foram atribuídos a agentes institucionais (policiais, agentes penitenciários e monitores de
instituições para menores).
A Folha teve acesso aos dados
preliminares do relatório. Das
2.075 denúncias recebidas pelo
serviço Disque-Tortura, inaugurado em 2001 pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 614
(31%) ocorreram em delegacias.
Em seguida, são citadas casas
(19%) e presídios (15%). A tortura
é usada como castigo (37%) ou
para obter confissão (23%).
Em mais da metade das denúncias, o torturador é um policial.
Em um terço das vezes, o agressor
é um policial militar (33%). Em
29% das denúncias, um policial
civil é o responsável pelas agressões. A Polícia Federal responde
por menos de 1% dos casos.
São Paulo é o Estado campeão
de denúncias (16%), seguido de
Minas Gerais (14%) e Pará (9%).
O SOS Tortura é responsável
pela administração do Disque-Tortura, por meio de convênio.
Crime federal
Ao comentar os dados do relatório, o secretário especial adjunto de Direitos Humanos, Mário
Mamede, defendeu a federalização do crime de tortura, através
da modificação da lei 9.455/97,
que tipifica a prática.
"É um crime contra a humanidade. A suspeita de crime de tortura já deveria ser suficiente para
deslocar o caso para a esfera federal. É preciso deslocar a influência
das corporações locais."
A autonomia das perícias técnicas, hoje subordinadas às polícias,
também é vista pelo secretário-adjunto como item fundamental
para garantir a isenção nas investigações das denúncias.
Mamede disse acreditar que o
número de denúncias feitas ao
SOS Tortura está subdimensionado, pois não inclui casos encaminhados às ouvidorias de polícia,
delegacias e comissões estaduais
de direitos humanos.
"Há um volume de demanda
preocupante, que não encontra
solução adequada", disse.
Segundo Mamede, "os esforços
do governo" para que a tortura
seja denunciada "não se traduzem na ponta do problema, que é
a punição dos que cometem essa
prática criminosa não-prescritível, não-digna de perdão e não-passível de fiança".
A dificuldade de combater a tortura, segundo o secretário, é resultado, em parte, de uma aceitação
social da prática: "A gente encontra pessoas que entendem, justificam, explicam e até defendem a
prática da tortura. É isso que alimenta a tortura nos porões de algumas organizações policiais".
Para Mamede, descaracterizar o
crime de tortura também é um
discurso corriqueiro. Nesse discurso, disse ele, insere-se o caso
do comerciante chinês naturalizado brasileiro Chan Kim Chang,
que morreu na semana passada.
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