São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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SAÚDE/TERAPIA

Uso de vitamina injetável divide opiniões de médicos

Tratamento ajuda a prevenir doenças, dizem defensores; para críticos, há risco à saúde

Técnica se baseia no preceito da medicina ortomolecular que acredita que o corpo precisa repor vitaminas, minerais e antioxidantes

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia de que a cantora Madonna chocou passageiros de um vôo ao injetar vitaminas em seu corpo após sete horas sem comer, em agosto, reacendeu a polêmica sobre a validade dessa terapia aplicada por clínicas em pacientes e usada por pessoas que buscam saúde, beleza e longevidade.
Especialistas ouvidos na última semana pela Folha deram opiniões diferentes, e até antagônicas, sobre o tema.
Com uma lista de pacientes que inclui Pelé, Xuxa e até o ator americano Sylvester Stallone, o geriatra e médico ortomolecular Eduardo Gomes de Azevedo defende a aplicação das vitaminas por meio de soros, mas diz que "o injetável se usa para você ter uma melhora mais rápida". "É só para a fase aguda do tratamento. Depois você toma por via oral."
Em sua clínica, a Anna Aslan, em São Paulo, passa uma média de 40 pacientes por dia. As aplicações são feitas com base no preceito de medicina ortomolecular de que o corpo precisa repor vitaminas, minerais e antioxidantes -substâncias que bloqueiam o efeito danoso dos radicais livres. "O solo mundial é pobre, com 70% de deficiência de minerais. Repomos zinco, cobre, vitamina C e complexo B, por exemplo."
No ramo há 30 anos, Azevedo diz que os resultados são muito bons e que nunca teve problemas. "É verificada a deficiência do paciente e montado um tratamento. Não há risco absolutamente nenhum."
Ele diz que um dos motivos para a resistência a essa terapia se deve à ação de uma indústria "marrom". "Ela não quer que se faça prevenção. Se você começa a tomar vitaminas e minerais, começa a não adoecer."
Invenção
José de Felippe Júnior, outro médico ortomolecular e presidente da Associação Brasileira de Medicina Complementar, porém, critica o uso da vitamina injetável. Ele diz que a medicina ortomolecular pode prevenir doenças, "mas com medidas lógicas e aceitas pela bioquímica e pela fisiologia".
"Não precisa dar vitamina na veia. Isso não é medicina ortomolecular, menos ainda biomolecular. Isso é invenção."
Opinião semelhante tem o presidente da Associação Brasileira pela Nutrição Saudável, Daniel Magnoni. Para ele, a injeção de vitaminas com o objetivo de prevenir doenças e retardar o envelhecimento não é válida. "Não tem nenhum trabalho com evidência clínica sério defendendo a técnica." Magnoni diz que, há cerca de 15 anos, começou a aumentar o número de clínicas antiestresse que prometem "longevidade", mas que fazem um serviço arriscado. "Eles injetam vitaminas em pessoas sãs, que acham que estão bem. Porém, há um risco grande para quem tem doenças estabelecidas."
O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antonio Carlos Lopes, diz que a vitamina injetável deveria ser usada apenas em pacientes graves hospitalizados, pacientes em período pós-operatório, atletas de alta performance, pessoas desnutridas, com dificuldade para digerir alimentos como alcoólatras e portadores de doenças como a Aids. Para ele, as vitaminas necessárias ao corpo estão nos alimentos.


Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI , da Reportagem Local

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