São Paulo, quarta, 9 de setembro de 1998

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FERIADO TRÁGICO
Segundo relato de pessoas que sobreviveram ao acidente, as chamas invadiram os ônibus rapidamente
"O ônibus avançou em direção ao fogo, eu gritei ao motorista, mas já era tarde"

Cleo Velleda/Folha Imagem
Divina Ferreira e seu marido, Aristóteles Ferreira, feridos no acidente, abrigados no albergue de Leme


do enviado especial

Os sobreviventes do acidente envolvendo cinco veículos no km 197 da via Anhanguera tiveram menos de 30 segundos para escapar dos ônibus em chamas.
"Tivemos 20 segundos para saltar pelas janelas", disse o comerciante Osvaldo Moura, 52, que conseguiu se salvar com a mulher e os três filhos. O seu filho mais novo, Gustavo, 8, ocupava a segunda fila do primeiro ônibus acidentado, e saltou assim que as chamas invadiram o veículo.
"Não chegou a 30 segundos o tempo que nos restou para não morrer", contou o passageiro do segundo ônibus, o representante comercial João Bastos Vaz, 30, que perdeu a mãe, Maria Mesquita, 64.
Ele conseguiu salvar sua mulher, Osilene, e o filho Eduardo, de 2 anos e 8 meses. "Na confusão, perdi a minha mãe", disse Vaz.
Os passageiros do primeiro ônibus contam que sentiram o veículo balançando depois de sair da pista e que viram uma labareda de fogo se aproximando.
"O ônibus avançou em direção ao fogo. Cheguei a gritar ao motorista para ele brecar, mas já era tarde. Sentimos a batida e as labaredas entrando no ônibus", disse Moura. "Depois que o ônibus começou a sacudir, começaram os gritos e o fogo que entrou consumiu tudo", afirmou Vaz.
O representante comercial contou que os sobreviventes começaram a abrir e quebrar janelas para tentar retirar o maior número possível de passageiros.
Outra dificuldade enfrentada pelos passageiros era escolher o local para saltar, uma vez que os ônibus estavam rodeados por fogo.
Vaz disse que a chegada dos dois ônibus estava prevista para as 6h de ontem em Uberaba, onde os romeiros assistiriam uma missa antes de partir para Anápolis.
A estudante Francisca dos Santos, 18, estava dormindo com outros jovens e crianças no assoalho de um dos ônibus quando foi acordada pelo clarão do fogo. "Foi horrível. Só conseguíamos ver gente pulando pelas janelas", disse Francisca, que conseguiu pôr para fora sua irmã Marília, 10.
Segundo a garota, no acostamento da rodovia pessoas rolavam na grama na tentativa de apagar o fogo nas roupas. Algumas não conseguiam ser socorridas porque seus corpos estavam muito quentes. Algumas vítimas chegaram a tirar a roupa para tentar escapar das chamas.



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