São Paulo, Sábado, 09 de Outubro de 1999
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FRAUDE
Sebastião José Rodrigues, que pagou para ser amputado, pode também perder direito a aposentadoria
Gerente que mandou cortar a própria mão é indiciado e pode ser condenado a 9 anos

Renata Freitas/Folha Imagem
Sebastião José Rodrigues, ao lado da mulher, Claudia dos Santos, na janela do Hospital Ipiranga, em São Paulo


OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

O gerente de vendas Sebastião José Rodrigues, 31, que pagou R$ 300 a um amigo para ter a mão esquerda amputada, pode ser condenado a nove anos de prisão. Na tarde de ontem, Rodrigues foi indiciado pela polícia por tentativa de estelionato e falsa comunicação de crime.
O primeiro delito tem como pena máxima oito anos de reclusão. A pena da falsa comunicação é de um ano. Além disso, Rodrigues deve ficar sem qualquer tipo de aposentadoria. Segundo o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), o órgão não paga aposentadoria a quem chega à invalidez por meio fraudulento, que é o que aconteceu com o gerente.
Rodrigues confessou anteontem ter pago R$ 300 ao autônomo Antônio Elisvânio Severino Silva, para que ele cortasse sua mão esquerda e a jogasse em um córrego. O objetivo dele era receber R$ 900 mil de três apólices de seguro por invalidez permanente que havia feito há cerca de um mês.
A amputação ocorreu na noite de terça-feira, em uma praça na Vila Leme (zona sudeste de SP).
Com o prêmio do seguro, Rodrigues pagaria os cerca de R$ 700 mil de dívidas que tem com fornecedores da empresa de telefones que possui em São Caetano do Sul (Grande São Paulo).
Devido às dívidas, Rodrigues vinha sendo ameaçado de morte. O proprietário anterior da empresa foi assassinado há cerca de um ano, provavelmente por causa das dívidas com fornecedores.
"Apesar de não ter dado entrada nos papéis, ele tinha a intenção de dar um golpe no seguro. Por isso, houve estelionato", afirmou o delegado Marcos Parra, do Depatri (Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio), responsável pelo indiciamento de Rodrigues.

Buscas pela mão
Silva foi preso na noite de anteontem e negou ter cortado a mão do gerente. Segundo ele, quem fez a amputação foi a mulher de Rodrigues, Cláudia dos Santos (leia texto ao lado).
Silva, porém, confirmou ter jogado a mão e o machado utilizado no crime no rio Tamanduateí, na Mooca, próximo ao local do crime. Isso fazia parte do plano, pois Rodrigues temia que, caso sua mão fosse reimplantada, ele perdesse direito a receber o valor do seguro de vida.
Desde a madrugada de ontem, bombeiros fizeram buscas no rio Tamanduateí para encontrar o braço e o machado. Mas, até as 20h de ontem, a busca havia sido infrutífera.
"Acho difícil que encontrem a mão, que já deve ter sido comida por animais no rio. Mas vamos tentar achar pelo menos o machado, que é uma prova importante", declarou o delegado Parra.
Na madrugada de ontem, Silva, após ter sido indiciado, foi libertado pela polícia.

Mudança de rumos
A situação penal de Silva e de Cláudia é ainda pior do que a de Rodrigues. Os dois foram indiciados pelos mesmos crimes do gerente e ainda por lesão corporal gravíssima, que pode dar outros oito anos de condenação, totalizando 17 anos de pena.
Dois dos crimes (estelionato e lesão corporal) são inafiançáveis, mas, como não houve flagrante e os três envolvidos têm bons antecedentes, emprego e residência fixa, eles devem ficar em liberdade até o julgamento.
O indiciamento dos três foi um endurecimento da polícia no caso. Na noite de anteontem, o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Depatri, havia afirmado que Rodrigues seria indiciado apenas por falsa comunicação de crime. Cláudia e Silva também seriam enquadrados em lesão corporal. Mas, na opinião dele, não havia crime de estelionato.
Mas, após ouvir criminalistas, os delegados consideraram haver indícios de estelionato e mudaram o indiciamento.
O gerente Rodrigues deve ter alta médica hoje do Hospital Ipiranga, onde está internado desde a madrugada de quarta-feira. Segundo os médicos, ele não corre mais riscos de vida, mas ainda sente dor no membro amputado (leia texto na página 3-2).
Após deixar o hospital, Rodrigues deve ser interrogado pelos policiais do Depatri. O interrogatório pode acontecer ainda hoje.
A polícia quer esclarecer algumas dúvidas que ainda restam no caso, como a participação da mulher do gerente, Cláudia, no planejamento da amputação.


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