São Paulo, Sábado, 09 de Outubro de 1999
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EDUCAÇÃO
Estudantes ficam fora de programa de financiamento de mensalidade por serem pobres demais
Governo nega crédito a 18 mil carentes

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

O crédito educativo do governo federal para o ensino superior não paga os estudos de alunos ""pobres demais".
O critério foi definido pelo próprio Ministério da Educação (MEC), que gerencia a verba do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), órgão que administra o crédito.
Dos 80 mil universitários que pediram empréstimo para custeio de mensalidades, neste semestre, 49,2 mil conseguiram passar pela avaliação inicial do ministério, segundo dados do governo.
Outros 33,8 mil tiveram seu pedido negado. Desses, 18,5 mil (55%) foram desclassificados por ter renda familiar insuficiente.
O número de alunos aceitos é inferior à estimativa inicial de 60 mil pessoas beneficiadas, ou seja, 10,8 mil vagas sobraram e, segundo o governo, serão reaproveitadas no ano que vem.
Os demais pedidos de empréstimo negados o foram por falta de vagas nas universidades, que definiram as cotas que queriam receber do Fies. A seleção, segundo o governo, pegou a fatia do meio da população, entre os mais carentes e os menos carentes.
O estudante excluído do Fies tem dois caminhos para estudar: passa no concorrido vestibular das universidades públicas ou disputa bolsas nas particulares.
Segundo o diretor do Fies, Floriano Pesaro, 31, as regras foram criadas para reduzir a inadimplência. ""No início do ano, de cada cem alunos beneficiados, 60 não estavam pagando o governo. Isso levou o programa à falência."
O governo considerou como inaptos aqueles que, para pagar 30% da mensalidade, comprometiam 60% do ganho da família. O programa cobre 70% do preço da faculdade.
Por exemplo, para uma mensalidade de R$ 400, o Fies libera R$ 280, e o estudante paga R$ 120. Nesse caso, é excluído quem ganha menos de R$ 200.
O prazo para quitação do financiamento é de uma vez e meia o período do curso. Por exemplo, quem estudou quatro anos terá seis anos para saldar a dívida.
A taxa de juro é de 9% ao ano e não há mais a correção monetária pela TR (Taxa Referencial), como havia no modelo anterior.
"O Fies tem uma lógica contrária. O aluno que não tem condições de ter um fiador ou que não pode pagar as mensalidades fica de fora", disse Wadson Ribeiro, 23, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Para ele, o modelo de financiamento tem de ser revisto para atender um número maior de alunos e, principalmente, aqueles que não têm condições de pagar.
O Ministério da Educação estuda abrir mais 50 mil vagas no início do ano que vem. No total, serão investidos cerca de R$ 80 milhões no próximo semestre.
A lista com os alunos pré-selecionados deveria ter sido divulgada ontem. Mas, até as 19h, as instituições ainda não podiam acessar a relação na Internet. Por conta desse atraso na divulgação, o MEC deverá ampliar o prazo para a entrega da documentação necessária para a efetivação do crédito, que era o próximo dia 25.


Colaborou Cleide Floresta da Reportagem Local

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