Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Secretaria não é para inglês ver"
DA SUCURSAL DO RIO
No cargo desde março, a secretária de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, Matilde Ribeiro,
43, diz que sua secretaria não é
"para inglês ver" e que uma das
prioridades do governo federal é
implementar cotas para negros
nas universidades públicas.
A Seppir (Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial) coordena, com o
MEC, um grupo que discute políticas de ação afirmativa capazes
de assegurar o acesso dos negros
às universidades. O grupo teve a
primeira reunião anteontem.
Folha - A Seppir não teve ainda
nenhuma medida de impacto. Qual
foi o seu trabalho até agora?
Matilde Ribeiro - Eu comecei depois, peguei o carro em movimento. Boa parte do trabalho foi
criar canais de relação com os ministérios para gerar programas,
projetos e ações conjuntas. Não
tenho a expectativa de grandes resultados ou medidas de impacto
neste primeiro ano, o impacto é a
estruturação da secretaria.
Folha - Qual a sua proposta sobre
cotas na universidade?
Ribeiro - Outra prioridade é a
implementação de cotas. Desde a
campanha, o presidente [Lula]
acenou favoravelmente. Pesquisas dizem que, entre os que concluem o nível universitário, menos de 3% são negros. Somos [os
negros] 50% da população. Precisamos de políticas afirmativas, e
as cotas têm se constituído um caminho. Hoje, apenas uma federal
está implementando esse sistema,
a Universidade de Brasília. Entre
52 universidades, temos praticamente zero implementando cotas. Não tenho a ilusão de que seja
100%. Nosso trabalho será ampliar esse número.
Folha - Mas há uma meta de 20%
das universidades federais com cotas, não? Como tem sido a negociação com o MEC?
Ribeiro - Essa é uma meta que
discutimos internamente. Mas o
MEC tem que jogar força nisso,
tem a sociedade civil. Não quero
arriscar dizer que a meta é 20%
porque pode ser mais. Não estamos discutindo só políticas de cotas. Estamos discutindo política
de inclusão da população negra.
Folha - Há resistências na relação
com os outros ministérios?
Ribeiro - Um organismo dessa
natureza não se basta, depende do
outro. A forma de convencer é
chamando para o diálogo. Não tenho encontrado resistências. Não
é o ministro que faz o projeto, são
seus assessores, tem de lidar com
várias pessoas, apresentar várias
vezes a idéia, isso torna o processo
moroso. Mas não posso dizer que
há resistências.
Folha - A Seppir não corre o risco
de ser uma secretaria "para inglês
ver"?
Ribeiro - Se eu acreditasse nessa
perspectiva de que é para inglês
ver, eu não estaria aqui. A Seppir
tem de ir se legitimando como necessária, como um organismo
que trata de uma política que é
importante para o governo e para
o Brasil.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Panorâmica - Violência: Seguranças de filho de Lula reagem a assalto em rua de bairro paulistano Índice
|