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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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"Secretaria não é para inglês ver"

DA SUCURSAL DO RIO

No cargo desde março, a secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, 43, diz que sua secretaria não é "para inglês ver" e que uma das prioridades do governo federal é implementar cotas para negros nas universidades públicas.
A Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) coordena, com o MEC, um grupo que discute políticas de ação afirmativa capazes de assegurar o acesso dos negros às universidades. O grupo teve a primeira reunião anteontem.

Folha - A Seppir não teve ainda nenhuma medida de impacto. Qual foi o seu trabalho até agora?
Matilde Ribeiro -
Eu comecei depois, peguei o carro em movimento. Boa parte do trabalho foi criar canais de relação com os ministérios para gerar programas, projetos e ações conjuntas. Não tenho a expectativa de grandes resultados ou medidas de impacto neste primeiro ano, o impacto é a estruturação da secretaria.

Folha - Qual a sua proposta sobre cotas na universidade?
Ribeiro -
Outra prioridade é a implementação de cotas. Desde a campanha, o presidente [Lula] acenou favoravelmente. Pesquisas dizem que, entre os que concluem o nível universitário, menos de 3% são negros. Somos [os negros] 50% da população. Precisamos de políticas afirmativas, e as cotas têm se constituído um caminho. Hoje, apenas uma federal está implementando esse sistema, a Universidade de Brasília. Entre 52 universidades, temos praticamente zero implementando cotas. Não tenho a ilusão de que seja 100%. Nosso trabalho será ampliar esse número.

Folha - Mas há uma meta de 20% das universidades federais com cotas, não? Como tem sido a negociação com o MEC?
Ribeiro -
Essa é uma meta que discutimos internamente. Mas o MEC tem que jogar força nisso, tem a sociedade civil. Não quero arriscar dizer que a meta é 20% porque pode ser mais. Não estamos discutindo só políticas de cotas. Estamos discutindo política de inclusão da população negra.

Folha - Há resistências na relação com os outros ministérios?
Ribeiro -
Um organismo dessa natureza não se basta, depende do outro. A forma de convencer é chamando para o diálogo. Não tenho encontrado resistências. Não é o ministro que faz o projeto, são seus assessores, tem de lidar com várias pessoas, apresentar várias vezes a idéia, isso torna o processo moroso. Mas não posso dizer que há resistências.

Folha - A Seppir não corre o risco de ser uma secretaria "para inglês ver"?
Ribeiro -
Se eu acreditasse nessa perspectiva de que é para inglês ver, eu não estaria aqui. A Seppir tem de ir se legitimando como necessária, como um organismo que trata de uma política que é importante para o governo e para o Brasil.


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