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RECEITA
Com dinheiro da iniciativa privada, hospitais públicos têm leitos com equipamentos de ponta, TV e ar-condicionado
Parceria faz SUS oferecer tratamento "VIP"
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A parceria de hospitais públicos
com a iniciativa privada tem criado verdadeiros "oásis" dentro do
SUS. Com recursos de empresários, tanto a hotelaria como serviços antes só disponíveis na rede
particular já são uma realidade
para pacientes carentes.
Os acordos partem agora para a
área de gestão hospitalar. A FESEHF (federação dos hospitais
beneficentes do Estado de São
Paulo) está fechando uma parceria com a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) para a capacitação dos dirigentes das Santas
Casas e outros hospitais filantrópicos paulistas. A iniciativa é inédita no país.
Na área de serviços e de hotelaria, o Hospital de Câncer de Barretos (interior de São Paulo) é o
retrato de uma parceria de sucesso entre o público e o privado.
A instituição atende, em média,
cerca de 2.000 pacientes por dia,
sendo 98% deles do SUS.
Um desavisado que chega à ala
da UTI da unidade de Barretos,
por exemplo, pode julgar que esteja no lugar errado.
Tanto o mobiliário como os
equipamentos de última geração
não perdem em nada aos hospitais privados de ponta da capital.
Em geral, as UTIs públicas (e
muitas privadas) são instaladas
em enfermarias coletivas, com leitos separados por divisórias.
Em Barretos, as unidades contam com apartamentos individuais, com camas e equipamentos importados, e os doentes têm
direito a acompanhante. Nos
quartos há TV, sistema de ar-condicionado e sofás.
Verbas e homenagem
Todo conforto vem da renda de
leilões de gado, de shows promovidos por artistas e de CDs gravados por eles, que rendem R$ 600
mil mensais ao hospital.
Para homenageá-los, 11 pavilhões da instituição levam os nomes de Chitãozinho & Xororó,
Sérgio Reis, Leandro & Leonardo,
Xuxa Meneguel, Sandy e Junior,
Zezé Di Camargo & Luciano e
Sergio Reis, entre outros. Ainda
assim, a conta não fecha.
O hospital, mantido pela Fundação Pio XII, trabalha com um
déficit operacional estimado em
cerca de R$ 1,5 milhão por mês. O
orçamento que vem do SUS é de
R$ 4,5 milhões mensais.
"Se não fossem essas parcerias
já teríamos fechado as portas",
afirma Boian Petrov, diretor financeiro do hospital.
A instituição tem nove alojamentos, com de 400 leitos, para
pacientes de outros Estados sem
condições de se manter na cidade.
A Santa Casa de Louveira (interior de SP) segue o mesmo caminho da unidade de Barretos.
Uma parceria firmada entre os
empresários da cidade e o hospital possibilitou a reforma dos
quartos sob conceitos de humanização e hotelaria hospitalar.
Cada empresa "adotou" um
quarto do hospital e o reformou
por completo, trocando piso, banheiro, iluminação e pintura,
além da compra de camas, armários, cadeiras para acompanhante
dos doentes e televisão.
Em troca, as empresas ganharam uma plaquinha com nome na
entrada no quarto. O investimento foi de cerca de R$ 50 mil.
Também na capital
A enfermaria de clínica médica
do hospital São Paulo, ligado à
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), foi revitalizada com a
injeção de R$ 1 milhão, dinheiro
de empresários de São Paulo.
Os quartos têm televisão, frigobar e sofá para os acompanhantes. Há 21 leitos na ala masculina,
12 na feminina e cinco na UTI.
Segundo Antonio Carlos Lopes,
professor titular de clínica médica
da Unifesp, além da hotelaria, a
enfermaria contará com uma
uma sala de atendimento odontológico para os pacientes internados. Enquanto estiverem internadas, as mulheres também vão
passar por avaliação ginecológica.
"Uma das formas de recuperação dos pacientes é o conforto do
leito de internação", afirma Lopes. Outro diferencial é a sala de
procedimentos, que fica isolada
dos quartos, e a possibilidade de o
leito se tornar uma UTI, caso haja
necessidade. A unidade atende
exclusivamente pacientes do SUS.
Na área infantil há várias iniciativas desse tipo. O grupo Sanofi
Aventis, por exemplo, mantém
brinquedotecas em 11 hospitais
infantis públicos no país. Além de
brinquedos, há computadores,
TVs com vídeo, CDs e livros.
Um carrinho móvel, com gavetas para apresentações teatrais e
caixinha de música vai até os leitos de crianças que não podem se
locomover até a brinquedoteca.
O Ministério da Saúde não tem
um levantamento da participação
da iniciativa privada nos hospitais
públicos. Segundo o ministério,
cada instituição tem autonomia
para criar as parcerias.
Na avaliação de José Reinaldo
Nogueira de Oliveira Junior, presidente da FESEHF, as ações com
a iniciativa privada, embora desejáveis, ainda são isoladas.
"Depende muito do relacionamento do gestor com o empresariado local", afirmou.
Oliveira Júnior espera que a parceria com a CPFL habilite os gestores a procurar mais incentivos
na iniciativa privada. "Muitas instituições não têm uma imagem
tão boa, o que torna a iniciativa
mais difícil", declarou.
Para a professora Evelin Sá, professora aposentada da Faculdade
de Saúde Pública da USP e especialista em administração de serviços de saúde, as parcerias deveriam ser incentivadas até como
forma de fortalecer a qualidade da
assistência no serviço público.
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