São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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PM que matou estudante no Rio é absolvido

Promotor desistiu de pedir prisão de policial que atirou em Daniel Duque, 18, na saída da boate Baronetti, em Ipanema

Promotor diz que versões contraditórias dos amigos de Duque o levaram a desistir de pedido; família de jovem diz que houve corporativismo

Osvaldo Praddo/Agência O Dia
Sérgio Coelho consola a mulher, Daniela Duque, mãe de Daniel

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

O 3º Tribunal do Júri do Rio absolveu, por unanimidade, o policial militar Marcos Parreira do Carmo, autor do tiro que matou o estudante Daniel Duque, 18, na saída da boate Baronetti, em Ipanema (zona sul do Rio), no dia 28 de junho. A decisão saiu na madrugada de ontem, após o promotor do caso desistir de pedir a prisão do Parreira. A reviravolta deixou indignada a mãe do estudante. Aos gritos, ela foi expulsa do julgamento.
A família de Duque acusou o promotor de corporativismo, já que o policial era segurança da promotora Márcia Velasco, e disse que vai recorrer.
Os membros do júri acataram a tese de que o tiro foi disparado acidentalmente pelo policial durante uma briga entre os amigos de Duque e de Pedro Velasco, filho da promotora. Já o promotor Marcelo Monteiro, que havia denunciado Parreira à Justiça por homicídio, disse ter se convencido de que ele atirou em legítima defesa.
Monteiro alegou ter mudado de idéia após ouvir, durante o julgamento, os depoimentos dos amigos do estudante morto. O promotor chamou os jovens de mentirosos e afirmou que eles deram versões conflitantes entre si e diferentes das que haviam apresentado à Polícia Civil. Disse ainda que o policial estava "correndo risco de ser agredido por um bando de rapazes furiosos".
"Eles não conseguem contar a mesma história. Estão todos mentindo. Eu fui afundando na cadeira a cada amigo do Daniel que vinha. O único caminho para fazer justiça é a absolvição [de Parreira]", disse Monteiro durante o julgamento. Ele afirmou que havia conversado com os rapazes em 10 de setembro e que a versão apresentada por eles era diferente da que foi levada a júri.
Desde o dia do crime, os envolvidos se acusam de terem iniciado a confusão. Os amigos de Velasco afirmam que a briga teve início quando o estudante Gustavo Melo, amigo de Duque, abordou "de forma agressiva" uma menina que conversava com Bruno Monteiro Leite, do grupo de Velasco.
No depoimento, Melo negou a abordagem, disse que viu a confusão de longe e foi socorrer os amigos. À polícia, contudo, o estudante havia declarado que ele e Duque foram abordados na saída da boate pelo grupo de Velasco, que ameaçou bater neles. O juiz Sidney Rosa da Silva, que presidiu a sessão, apontou a contradição ao jovem e chegou a ameaçá-lo de prisão por estar, supostamente, mentindo. Melo alegou estar nervoso no dia do depoimento à polícia.
No julgamento, o PM repetiu a versão que deu para a polícia, na qual sua arma disparou acidentalmente quando Duque tentava tirá-la de sua mão.
"Meu filho não era pitbull. Ele foi executado. Isso só ocorreu porque ele [o policial] era segurança de uma promotora", diz Daniela Duque, mãe do jovem. Wagner Magalhães, advogado da família de Duque, disse que vai recorrer da decisão na semana que vem e que vai pedir a anulação do julgamento.


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