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SAÚDE PÚBLICA
Nova análise não detecta substância que havia provocado suspensão da comercialização, em 30 de agosto
SP anula proibição da venda de Majipack
DA REPORTAGEM LOCAL
O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo liberou
ontem a fabricação do filme de
PVC embalado e comercializado
pela empresa Inproco sob o nome
fantasia de Majipack. Com isso, a
autoridade sanitária reverteu decisão tomada no dia 30 de agosto,
que proibia a Inproco de fabricar
e vender o Majipack e determinava a inutilização de todas as unidades do produto recolhidas nos
pontos-de-venda.
Tanto a proibição quanto a liberação derivaram de laudos emitidos pelo Instituto Nacional de
Controle de Qualidade em Saúde
da Fundação Instituto Osvaldo
Cruz (INCQS/Fiocruz).
No primeiro laudo, o INCQS
apontou a presença no Majipack
de ftalato, uma substância que pode ser cancerígena quando aparece em níveis superiores ao limite
fixado pela resolução 105 da
Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). A Anvisa libera o ftalato até o limite de 3% da
composição do produto.
O laudo que agora liberou o Majipack, considera "satisfatório" o
produto, embora não especifique
índices de presença de nenhuma
das substâncias da amostra.
O gerente-geral da Inproco,
João Bosco Sieh, 60, sempre alegou a "inocência" do Majipack.
Baseava sua defesa no fato de a Inproco apenas rebobinar o filme de
PVC fabricado pela Goodyear.
A Goodyear, por sua vez, dizia
que desde outubro de 2003 o ftalato não era mais usado na fabricação do filme de PVC. Havia sido
substituído por outra substância,
sobre a qual não pesa suspeita de
causar câncer em humanos.
Tanto a Inproco quanto a
Goodyear pediram, assim que comunicadas da proibição, que o
INCQS fizesse nova análise do
Majipack, o que foi feito.
A pesquisadora da Fiocruz,
Shirley Abrantes, 51, pós-doutorada em química orgânica e coordenadora dos dois estudos, disse
que recebeu nova amostra do Majipack em setembro. Chegou a ir
até a fábrica da Goodyear, em
Americana (SP), para inspecionar
a produção do filme de PVC. Deu
no laudo "satisfatório".
O INCQS errou? Abrantes diz
que não houve erro. "Esses produtos são comercializados sem
data de fabricação ou numeração
de lotes. O mais provável é que o
primeiro laudo tenha sido feito
sobre uma amostra de filme fabricado antes da substituição do ftalato. Basta que um supermercado
tivesse estoques altos de Majipack
fabricados antes da substituição,
para explicar o primeiro laudo."
O gerente-geral da Inproco não
pretende exigir reparação por ter
paralisado a produção do Majipack durante mais de um mês.
"Nossa maior preocupação agora
é restabelecer a normalidade na
fábrica. Sabemos que foi uma
confusão, mas ela está resolvida."
O diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear, Luiz Carlos
Martins, rejeita a versão do
INCQS. Segundo ele, ainda que o
primeiro laudo tenha sido feito
com base em amostra fabricada
antes da substituição do ftalato, "a
Goodyear nunca usou o aditivo
em níveis acima do permitido".
A celeuma em torno do Majipack decorre, em grande parte, de
um excesso de zelo. O ftalato não
é, comprovadamente, causador
de câncer em seres humanos. Segundo a International Agency for
Research on Cancer (Iarc), ligada
à Organização Mundial de Saúde,
o ftalato é carcinogênico e causa
infertilidade em ratos e camundongos. Inexistem, porém, dados
epidemiológicos que permitam
estender os efeitos para humanos.
A cautela em relação ao uso do
ftalato em filmes plásticos (eles
servem para dar maleabilidade ao
produto e são empregados até em
brinquedos) acontece por causa
da semelhança entre o aditivo e as
moléculas de gordura encontradas em queijos e frios. Isso facilita
a transferência do ftalato para os
alimentos que, em geral, são embalados pelos filmes de PVC.
A própria Abrantes diz que estudos internacionais de prestígio
não fazem referência a um só caso
de carcinoma humano que possa
ser relacionado ao uso de ftalato
em filmes de PVC.
A Fiocruz analisou todas as
marcas existentes no mercado.
Todas estão liberadas.
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