São Paulo, terça-feira, 09 de novembro de 2004

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SAÚDE PÚBLICA

Nova análise não detecta substância que havia provocado suspensão da comercialização, em 30 de agosto

SP anula proibição da venda de Majipack

DA REPORTAGEM LOCAL

O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo liberou ontem a fabricação do filme de PVC embalado e comercializado pela empresa Inproco sob o nome fantasia de Majipack. Com isso, a autoridade sanitária reverteu decisão tomada no dia 30 de agosto, que proibia a Inproco de fabricar e vender o Majipack e determinava a inutilização de todas as unidades do produto recolhidas nos pontos-de-venda.
Tanto a proibição quanto a liberação derivaram de laudos emitidos pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fundação Instituto Osvaldo Cruz (INCQS/Fiocruz).
No primeiro laudo, o INCQS apontou a presença no Majipack de ftalato, uma substância que pode ser cancerígena quando aparece em níveis superiores ao limite fixado pela resolução 105 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa libera o ftalato até o limite de 3% da composição do produto.
O laudo que agora liberou o Majipack, considera "satisfatório" o produto, embora não especifique índices de presença de nenhuma das substâncias da amostra.
O gerente-geral da Inproco, João Bosco Sieh, 60, sempre alegou a "inocência" do Majipack. Baseava sua defesa no fato de a Inproco apenas rebobinar o filme de PVC fabricado pela Goodyear.
A Goodyear, por sua vez, dizia que desde outubro de 2003 o ftalato não era mais usado na fabricação do filme de PVC. Havia sido substituído por outra substância, sobre a qual não pesa suspeita de causar câncer em humanos.
Tanto a Inproco quanto a Goodyear pediram, assim que comunicadas da proibição, que o INCQS fizesse nova análise do Majipack, o que foi feito.
A pesquisadora da Fiocruz, Shirley Abrantes, 51, pós-doutorada em química orgânica e coordenadora dos dois estudos, disse que recebeu nova amostra do Majipack em setembro. Chegou a ir até a fábrica da Goodyear, em Americana (SP), para inspecionar a produção do filme de PVC. Deu no laudo "satisfatório".
O INCQS errou? Abrantes diz que não houve erro. "Esses produtos são comercializados sem data de fabricação ou numeração de lotes. O mais provável é que o primeiro laudo tenha sido feito sobre uma amostra de filme fabricado antes da substituição do ftalato. Basta que um supermercado tivesse estoques altos de Majipack fabricados antes da substituição, para explicar o primeiro laudo."
O gerente-geral da Inproco não pretende exigir reparação por ter paralisado a produção do Majipack durante mais de um mês. "Nossa maior preocupação agora é restabelecer a normalidade na fábrica. Sabemos que foi uma confusão, mas ela está resolvida."
O diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear, Luiz Carlos Martins, rejeita a versão do INCQS. Segundo ele, ainda que o primeiro laudo tenha sido feito com base em amostra fabricada antes da substituição do ftalato, "a Goodyear nunca usou o aditivo em níveis acima do permitido".
A celeuma em torno do Majipack decorre, em grande parte, de um excesso de zelo. O ftalato não é, comprovadamente, causador de câncer em seres humanos. Segundo a International Agency for Research on Cancer (Iarc), ligada à Organização Mundial de Saúde, o ftalato é carcinogênico e causa infertilidade em ratos e camundongos. Inexistem, porém, dados epidemiológicos que permitam estender os efeitos para humanos.
A cautela em relação ao uso do ftalato em filmes plásticos (eles servem para dar maleabilidade ao produto e são empregados até em brinquedos) acontece por causa da semelhança entre o aditivo e as moléculas de gordura encontradas em queijos e frios. Isso facilita a transferência do ftalato para os alimentos que, em geral, são embalados pelos filmes de PVC.
A própria Abrantes diz que estudos internacionais de prestígio não fazem referência a um só caso de carcinoma humano que possa ser relacionado ao uso de ftalato em filmes de PVC.
A Fiocruz analisou todas as marcas existentes no mercado. Todas estão liberadas.


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