São Paulo, Quinta-feira, 09 de Dezembro de 1999


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SAÚDE
Pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina indica uma nova terapia de reposição hormonal
Soja reduz os sintomas da menopausa

BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha

Consumida e venerada há cerca de 5.000 anos no Oriente, a soja começa a ser encarada como uma espécie de "elixir da longa vida" também no Ocidente.
Primeiro foi a FDA, agência dos EUA responsável pela regulamentação de remédios e de alimentos, que no mês passado atestou os benefícios do alimento na prevenção de doenças cardíacas e redução do nível de colesterol no sangue, ratificando uma série de estudos realizados desde a década de 70.
Agora, uma pesquisa da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, mostra que o consumo frequente de soja também contribui para aliviar os desconfortos provocados pela menopausa, como as "ondas de calor", insônia, dor de cabeça e irritabilidade.
Pioneiro no Brasil, o trabalho será apresentado hoje, em Campinas (SP), durante seminário sobre alimentos funcionais e prevenção de doenças, promovido pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).
A pesquisa, conduzida por dois cientistas coreanos radicados no Brasil (Dong Koo Yum, engenheiro de alimentos e Kyung Koo Han, médico ginecologista), investigou os efeitos do isoflavona (fitormônio presente na soja) na síndrome do climatério, os sintomas que precedem o aparecimento da menopausa.
Os resultados, segundo Koo Han, foram animadores (veja quadro ao lado). Das 40 mulheres tratadas com isoflavona (grupo 1), 32 (80%) apresentaram redução dos sintomas da menopausa.
O trabalho também mostrou que o fitormônio da soja contribui para a redução do nível de colesterol no sangue.
Das 35 mulheres que apresentavam taxas elevadas de colesterol no início da pesquisa, 32 mostraram redução dos níveis após o tratamento com o isoflavona.

Reposição hormonal
Quando a mulher entra na menopausa, há uma redução significativa do hormônio estradiol, que chega a quase zero.
Isso provoca alteração da elasticidade dos vasos sanguíneos e degeneração progressiva dos tecidos, acarretando sintomas como "ondas de calor", suor excessivo, insônia e irritação.
"Normalmente se utiliza a reposição hormonal com estrógeno natural para reduzir esses distúrbios. Esse tratamento, porém, traz alguns riscos. Algumas pesquisas indicam que o uso de estrógeno está relacionado a um aumento discreto nos índices de câncer de mama e do endométrio", explica Koo Han.
Já o isoflavona é assimilado pelo organismo humano da mesma forma que o estrógeno, com a vantagem de não apresentar efeitos colaterais.
"Pelo contrário, o fitormônio da soja ajuda a prevenir alguns tipos de câncer, as doenças coronárias e a osteoporose", diz Koo Han.
Ele pretende agora verificar se o isoflavona, a exemplo do que acontece na terapia de reposição hormonal com estrógeno, também contribui para o rejuvenescimento da mulher.
Koo Han diz que não há contra-indicação para o isoflavona, a não ser para pessoas alérgicas à soja.
Pesquisas feitas com ratos, porém, indicaram que o fitormônio da soja provoca infertilidade. "Acho improvável que isso possa acontecer em humanos", diz Han. "Bilhões de pessoas consomem soja diariamente na Ásia, e a população continua crescendo."
Alguns cientistas, porém, como Stephen Barnes, da Universidade do Alabama (EUA), recomendam o consumo da própria soja, em vez do isoflavona em cápsulas. Pelo menos até que sejam melhor conhecidos possíveis efeitos tóxicos dos extratos altamente enriquecidos do fitormônio.
Na forma de grão, o consumo recomendado por Koo Han é de 50 g diários, como preventivo, ou 100 g diários para quem já apresenta os sintomas da menopausa.
"O problema é que 100 g por dia de soja in natura pode engordar", diz Koo Han, que costuma prescrever cápsulas de isoflavona às suas pacientes.



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