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SAÚDE
Pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina indica uma nova terapia de reposição hormonal
Soja reduz os sintomas da menopausa
BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha
Consumida e venerada há cerca
de 5.000 anos no Oriente, a soja
começa a ser encarada como uma
espécie de "elixir da longa vida"
também no Ocidente.
Primeiro foi a FDA, agência dos
EUA responsável pela regulamentação de remédios e de alimentos, que no mês passado atestou os benefícios do alimento na
prevenção de doenças cardíacas e
redução do nível de colesterol no
sangue, ratificando uma série de
estudos realizados desde a década
de 70.
Agora, uma pesquisa da Escola
Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, mostra que o consumo frequente de
soja também contribui para aliviar os desconfortos provocados
pela menopausa, como as "ondas
de calor", insônia, dor de cabeça e
irritabilidade.
Pioneiro no Brasil, o trabalho
será apresentado hoje, em Campinas (SP), durante seminário sobre alimentos funcionais e prevenção de doenças, promovido
pelo Instituto de Tecnologia de
Alimentos (Ital).
A pesquisa, conduzida por dois
cientistas coreanos radicados no
Brasil (Dong Koo Yum, engenheiro de alimentos e Kyung Koo
Han, médico ginecologista), investigou os efeitos do isoflavona
(fitormônio presente na soja) na
síndrome do climatério, os sintomas que precedem o aparecimento da menopausa.
Os resultados, segundo Koo
Han, foram animadores (veja
quadro ao lado). Das 40 mulheres
tratadas com isoflavona (grupo
1), 32 (80%) apresentaram redução dos sintomas da menopausa.
O trabalho também mostrou
que o fitormônio da soja contribui para a redução do nível de colesterol no sangue.
Das 35 mulheres que apresentavam taxas elevadas de colesterol
no início da pesquisa, 32 mostraram redução dos níveis após o
tratamento com o isoflavona.
Reposição hormonal
Quando a mulher entra na menopausa, há uma redução significativa do hormônio estradiol, que
chega a quase zero.
Isso provoca alteração da elasticidade dos vasos sanguíneos e degeneração progressiva dos tecidos, acarretando sintomas como
"ondas de calor", suor excessivo,
insônia e irritação.
"Normalmente se utiliza a reposição hormonal com estrógeno
natural para reduzir esses distúrbios. Esse tratamento, porém, traz
alguns riscos. Algumas pesquisas
indicam que o uso de estrógeno
está relacionado a um aumento
discreto nos índices de câncer de
mama e do endométrio", explica
Koo Han.
Já o isoflavona é assimilado pelo
organismo humano da mesma
forma que o estrógeno, com a
vantagem de não apresentar efeitos colaterais.
"Pelo contrário, o fitormônio da
soja ajuda a prevenir alguns tipos
de câncer, as doenças coronárias e
a osteoporose", diz Koo Han.
Ele pretende agora verificar se o
isoflavona, a exemplo do que
acontece na terapia de reposição
hormonal com estrógeno, também contribui para o rejuvenescimento da mulher.
Koo Han diz que não há contra-indicação para o isoflavona, a não
ser para pessoas alérgicas à soja.
Pesquisas feitas com ratos, porém, indicaram que o fitormônio
da soja provoca infertilidade.
"Acho improvável que isso possa
acontecer em humanos", diz Han.
"Bilhões de pessoas consomem
soja diariamente na Ásia, e a população continua crescendo."
Alguns cientistas, porém, como
Stephen Barnes, da Universidade
do Alabama (EUA), recomendam
o consumo da própria soja, em
vez do isoflavona em cápsulas.
Pelo menos até que sejam melhor
conhecidos possíveis efeitos tóxicos dos extratos altamente enriquecidos do fitormônio.
Na forma de grão, o consumo
recomendado por Koo Han é de
50 g diários, como preventivo, ou
100 g diários para quem já apresenta os sintomas da menopausa.
"O problema é que 100 g por dia
de soja in natura pode engordar",
diz Koo Han, que costuma prescrever cápsulas de isoflavona às
suas pacientes.
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