São Paulo, segunda-feira, 09 de dezembro de 2002

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RESERVA DE VAGA

"Cotistas" preferem cursos de história e serviço social a medicina

Cursos "elitistas" têm baixa procura

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo com o incentivo da reserva de vagas, não foi grande a procura dos candidatos negros e da rede pública no vestibular na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) por cursos tradicionalmente elitistas, como medicina e desenho industrial.
A Uerj será a primeira grande universidade pública a reservar vagas em 2003 para estudantes da rede pública e para negros. Para preencher as cotas (40% de negros e 50% de alunos da rede pública), vão ser feitos dois exames: um para os beneficiados e outro para os demais candidatos.
O curso de medicina, que no vestibular comum lidera o ranking de procura com 48,3 candidatos por vaga, foi somente o 12º na lista dos estudantes que entrarão por cotas, com 5,6 candidatos por vaga. Já a carreira de desenho industrial foi a quarta mais procurada do vestibular tradicional (23,28 candidatos por vaga), e a 14ª entre os que terão direito a cotas (apenas 4,8 por vaga).

Menos elitistas
Por outro lado, os candidatos negros e da rede pública continuaram procurando cursos menos concorridos e menos elitistas. Educação física, por exemplo, foi a segundo curso mais procurado, com 9,8 candidatos por vaga. História (7,8) e serviço social (7,6) foram o quarto e quinto, na ordem.
Em todas as carreiras, a relação candidato/vaga entre os alunos sem direito a cotas é muito maior do que entre os outros. Segundo Sônia Wanderley, da Uerj, uma das hipóteses que estão sendo discutidas pela universidade é que o curso de medicina, por exemplo, exige horário integral e, mesmo sendo gratuito, tem custos elevados com livros e material.
"Estamos discutindo propostas de apoio financeiro aos alunos para levar ao governo do Estado."
O frei Davi Santos, coordenador da ONG Educafro, que organiza cursos pré-vestibulares comunitários para negros e carentes, diz que os alunos afirmam sentir-se mais realizados nas profissões menos elitistas. "Muitos dos alunos de escola particular escolhem medicina pois o pai é médico. No nosso caso, quase 80% dos que entram na universidade não têm parente com curso superior."
O secretário da Educação do Estado do Rio, William Campos, diz que a greve da rede estadual, que durou mais de cem dias neste ano, pode ter interferido na escolha da carreira, já que o estudante pode não ter se sentido bem preparado para um exame tão concorrido. "Outra explicação para a procura por cursos de licenciatura é a valorização do magistério", afirma.


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