|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RESERVA DE VAGA
"Cotistas" preferem cursos de história e serviço social a medicina
Cursos "elitistas" têm baixa procura
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo com o incentivo da reserva de vagas, não foi grande a
procura dos candidatos negros e
da rede pública no vestibular na
Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro) por cursos tradicionalmente elitistas, como medicina e desenho industrial.
A Uerj será a primeira grande
universidade pública a reservar
vagas em 2003 para estudantes da
rede pública e para negros. Para
preencher as cotas (40% de negros e 50% de alunos da rede pública), vão ser feitos dois exames:
um para os beneficiados e outro
para os demais candidatos.
O curso de medicina, que no
vestibular comum lidera o ranking de procura com 48,3 candidatos por vaga, foi somente o 12º
na lista dos estudantes que entrarão por cotas, com 5,6 candidatos
por vaga. Já a carreira de desenho
industrial foi a quarta mais procurada do vestibular tradicional
(23,28 candidatos por vaga), e a
14ª entre os que terão direito a cotas (apenas 4,8 por vaga).
Menos elitistas
Por outro lado, os candidatos
negros e da rede pública continuaram procurando cursos menos concorridos e menos elitistas.
Educação física, por exemplo, foi
a segundo curso mais procurado,
com 9,8 candidatos por vaga. História (7,8) e serviço social (7,6) foram o quarto e quinto, na ordem.
Em todas as carreiras, a relação
candidato/vaga entre os alunos
sem direito a cotas é muito maior
do que entre os outros. Segundo
Sônia Wanderley, da Uerj, uma
das hipóteses que estão sendo discutidas pela universidade é que o
curso de medicina, por exemplo,
exige horário integral e, mesmo
sendo gratuito, tem custos elevados com livros e material.
"Estamos discutindo propostas
de apoio financeiro aos alunos para levar ao governo do Estado."
O frei Davi Santos, coordenador
da ONG Educafro, que organiza
cursos pré-vestibulares comunitários para negros e carentes, diz
que os alunos afirmam sentir-se
mais realizados nas profissões
menos elitistas. "Muitos dos alunos de escola particular escolhem
medicina pois o pai é médico. No
nosso caso, quase 80% dos que
entram na universidade não têm
parente com curso superior."
O secretário da Educação do Estado do Rio, William Campos, diz
que a greve da rede estadual, que
durou mais de cem dias neste ano,
pode ter interferido na escolha da
carreira, já que o estudante pode
não ter se sentido bem preparado
para um exame tão concorrido.
"Outra explicação para a procura
por cursos de licenciatura é a valorização do magistério", afirma.
Texto Anterior: Violência: Garota baleada na escola morre no Rio Próximo Texto: Urbanismo: Atrás da Sé, lojas evangélicas dominam rua Índice
|