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Prédio-clube invade Guarujá, que vive boom imobiliário
Na Enseada, onde prédios têm quatro pavimentos, duas
torres com 23 andares serão erguidas a 250 metros da orla
Região conta com dez
prédios em construção e
sete aguardando aprovação
da prefeitura; valor dos
imóveis chega a R$ 1 milhão
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARUJÁ
De um lado, a praia. Do outro,
um complexo com piscinas, cinema, atelier, lan house, redários, pistas de skate e caminhada -tudo dentro do prédio.
No Guarujá (litoral de SP),
megaempreendimentos que
mais parecem clubes têm relegado a areia e o mar ao segundo
plano. Na Enseada, onde a
maioria dos prédios tem apenas quatro pavimentos, duas
torres com 23 andares serão erguidas a apenas 250 m da orla.
No resto da área de 9.435 m2,
haverá spa, saunas, brinquedoteca, quadras poliesportiva e de
tênis, pizza lounge, bangalô e
outros itens de lazer.
Para o urbanista João Whitaker, da USP, a tendência dos
prédios-clube -importada de
São Paulo- é calcada na "moda
do medo". "Há um discurso
bem montado de marketing. É
só chegar e falar que a segurança já não é a mesma no local e
alimentar a idéia de que há alternativas mais seguras, oferecer entrincheiramento urbano", afirma.
Segundo ele, não há demanda por esse tipo de empreendimento. "É o mercado que constrói esses modismos imobiliários, assim como se inventa
uma pasta de dente. Nesse caso, há uma coisa que pegou, resultado da situação da violência urbana e da insegurança
que as classes altas sentem."
Para Carlos Alberto Campilongo, da Praias Negócios Imobiliários, responsável pelas torres da Enseada, a procura por
prédios-clube não é motivada
só pela segurança. "Todas as
pessoas querem qualidade de
vida. As pessoas não ficam dez
horas na praia. As pessoas vêm
de São Paulo, de uma semana
toda sem tempo, e querem fazer ginástica, usar um espaço
gourmet, ficar em terraços."
O Guarujá vive um boom
imobiliário não apenas por
causa dos prédios-clube. Há
dez prédios em construção. Sete aguardam aprovação da prefeitura. A maioria (11) está na
Enseada. O valor dos imóveis
chega a R$ 1 milhão.
Campilongo aponta três fatores para a expansão: estabilidade econômica, crescimento
do país e facilidades de financiamento. "Há ainda a recuperação do Guarujá, a melhoria
na estrada, uma preocupação
com o saneamento."
Dados da prefeitura mostram que as novas construções
abrangem áreas cada vez mais
amplas. Em 2005, a média era
de 418 m2 para cada construção. No ano seguinte, a média
pulou para 873 m2.
Até agosto deste ano, foram
237 alvarás para uma área de
322 mil m2 -a média é de 1.359
m2 para cada empreendimento.
A mudança no Plano Diretor
da cidade, aprovado neste ano,
também influencia o boom.
Antes, havia limitação de pavimentos nas chamadas zonas de
média densidade, caso de boa
parte da Enseada. Nos locais,
um prédio poderá ter agora até
75 metros de altura desde que
haja área suficiente de recuo.
Entre Astúrias e Tombo, três
torres de 16 andares vão ocupar
uma área de 8.900 m2. Uma lista de 35 atrativos compõe o
condomínio. Em volta, a maioria tem só quatro andares.
Para Whitaker, haverá impactos ambientais e estruturais. "Haverá um adensamento
populacional alucinante e uma
demanda por infra-estrutura
muito maior. No litoral, o problema evidente é o saneamento", diz. "Isso é uma aberração.
Há uma absoluta submissão do
poder público aos interesses do
mercado imobiliário."
Henrique Menin, da Secretaria Municipal de Infra-Estrutura, afirma que o potencial
construtivo não foi alterado. A
diferença, diz, é que os prédios
eram "gordos e baixos" e agora
serão "finos e altos" com o
mesmo número de unidades.
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