São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Prédio-clube invade Guarujá, que vive boom imobiliário

Na Enseada, onde prédios têm quatro pavimentos, duas torres com 23 andares serão erguidas a 250 metros da orla

Região conta com dez prédios em construção e sete aguardando aprovação da prefeitura; valor dos imóveis chega a R$ 1 milhão

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUARUJÁ

De um lado, a praia. Do outro, um complexo com piscinas, cinema, atelier, lan house, redários, pistas de skate e caminhada -tudo dentro do prédio.
No Guarujá (litoral de SP), megaempreendimentos que mais parecem clubes têm relegado a areia e o mar ao segundo plano. Na Enseada, onde a maioria dos prédios tem apenas quatro pavimentos, duas torres com 23 andares serão erguidas a apenas 250 m da orla.
No resto da área de 9.435 m2, haverá spa, saunas, brinquedoteca, quadras poliesportiva e de tênis, pizza lounge, bangalô e outros itens de lazer.
Para o urbanista João Whitaker, da USP, a tendência dos prédios-clube -importada de São Paulo- é calcada na "moda do medo". "Há um discurso bem montado de marketing. É só chegar e falar que a segurança já não é a mesma no local e alimentar a idéia de que há alternativas mais seguras, oferecer entrincheiramento urbano", afirma.
Segundo ele, não há demanda por esse tipo de empreendimento. "É o mercado que constrói esses modismos imobiliários, assim como se inventa uma pasta de dente. Nesse caso, há uma coisa que pegou, resultado da situação da violência urbana e da insegurança que as classes altas sentem."
Para Carlos Alberto Campilongo, da Praias Negócios Imobiliários, responsável pelas torres da Enseada, a procura por prédios-clube não é motivada só pela segurança. "Todas as pessoas querem qualidade de vida. As pessoas não ficam dez horas na praia. As pessoas vêm de São Paulo, de uma semana toda sem tempo, e querem fazer ginástica, usar um espaço gourmet, ficar em terraços."
O Guarujá vive um boom imobiliário não apenas por causa dos prédios-clube. Há dez prédios em construção. Sete aguardam aprovação da prefeitura. A maioria (11) está na Enseada. O valor dos imóveis chega a R$ 1 milhão.
Campilongo aponta três fatores para a expansão: estabilidade econômica, crescimento do país e facilidades de financiamento. "Há ainda a recuperação do Guarujá, a melhoria na estrada, uma preocupação com o saneamento."
Dados da prefeitura mostram que as novas construções abrangem áreas cada vez mais amplas. Em 2005, a média era de 418 m2 para cada construção. No ano seguinte, a média pulou para 873 m2.
Até agosto deste ano, foram 237 alvarás para uma área de 322 mil m2 -a média é de 1.359 m2 para cada empreendimento.
A mudança no Plano Diretor da cidade, aprovado neste ano, também influencia o boom. Antes, havia limitação de pavimentos nas chamadas zonas de média densidade, caso de boa parte da Enseada. Nos locais, um prédio poderá ter agora até 75 metros de altura desde que haja área suficiente de recuo.
Entre Astúrias e Tombo, três torres de 16 andares vão ocupar uma área de 8.900 m2. Uma lista de 35 atrativos compõe o condomínio. Em volta, a maioria tem só quatro andares.
Para Whitaker, haverá impactos ambientais e estruturais. "Haverá um adensamento populacional alucinante e uma demanda por infra-estrutura muito maior. No litoral, o problema evidente é o saneamento", diz. "Isso é uma aberração. Há uma absoluta submissão do poder público aos interesses do mercado imobiliário."
Henrique Menin, da Secretaria Municipal de Infra-Estrutura, afirma que o potencial construtivo não foi alterado. A diferença, diz, é que os prédios eram "gordos e baixos" e agora serão "finos e altos" com o mesmo número de unidades.


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