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Em Goianápolis, "todos" conhecem alguém que voltou
JOHANNA NUBLAT
ENVIADA ESPECIAL A GOIÁS
"Você é o Neto?" "Yes", responde João Neto Soares, 42,
que chegou há 19 dias da Pensilvânia, nos Estados Unidos,
após uma estadia de três anos e
meio. Detalhe: o inglês de Neto
é curto. "Sei me comunicar."
"O inglês de lá é diferente do
que se fala aqui", diz. "Aqui", no
caso, é a cidade de Goianápolis
(GO), a 33 km de Goiânia.
A reportagem perguntou a
cerca de 30 pessoas nas ruas de
Goianápolis quem conhecia alguém que acabara de voltar dos
EUA. Todos conheciam, pelo
menos, duas pessoas. "Se for
deportado, então, tem um
monte", disse um transeunte.
Mas esse não é o caso de Neto, que voltou porque quis. "Na
época valia a pena ir porque o
dólar estava bem cotado. Agora, que está baixo, não compensa. Juntei dinheiro, mas, quando cheguei, já não valia mais
nada, infelizmente. Só paguei
as dívidas. Dez anos atrás era
diferente", lamenta. Mesmo assim, não se diz arrependido.
Ele deixou Goianápolis e um
emprego de compra e venda de
carros. Lá, trabalhou em construção e cultivou o carinho do
chefe, o único que teve nos três
anos. "Só não fazia desmanche
e carregar lixo; o resto era comigo", conta.
Além do dólar, o que puxou
Neto de volta foi a saudade da
família e dos costumes. "Lá você paga até para encher o pneu
de ar. Aqui não, as pessoas te
convidam para almoçar e tomar café", diz, oferecendo jabuticabas recém-colhidas.
A saudade da família também
foi o que trouxe da Flórida Elimar Silva, 33, há três meses de
volta a Goianápolis. "Ih, demais
da conta. Você percebe que largou uma esmeralda para trás."
Ele entrou no país ilegalmente, pelo México. A idéia era "fazer um pezinho de vida", voltar
e abrir um supermercado. Não
deu certo. O dólar barato queimou suas economias, que ele
terminou de gastar com a passagem de volta. Em vez do supermercado, ele trabalha na lavoura de tomate. E se diz feliz,
diferente de quando estava lá.
"Quem não fala a língua é escravizado", diz Luciana Ferreira da Macena, 36. Hoje, ela mora em Goiânia, mas até outubro
ela vivia com os dois filhos pequenos -sete e nove anos- em
Nova York. Só agüentou ficar
cinco meses, mesmo legalmente no país e falando bem inglês.
A baixa do dólar foi definitiva.
Nair, mulher de Neto Soares,
deixou de presenciar o casamento de duas filhas e o nascimento do primeiro neto, quando morava nos EUA.
Com a volta da avó, o netinho
ganhou vários brinquedos. Ursos de pelúcia, caminhões e bonecos -e Nair não gastou um
centavo americano. Recolheu
tudo do lixo. E mostra com orgulho: os tapetes da casa vieram do mesmo lugar.
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