São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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PMs de Osasco são suspeitos de matar testemunha

Rita de Cássia de Oliveira foi morta no portão de sua casa com 4 tiros no rosto

Ela presenciou jovem de 23 anos ser rendido, apanhar por quase uma hora e depois ser morto por policiais no quintal de sua casa

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Policiais militares de Osasco (Grande São Paulo) são suspeitos de forjar um caso de resistência para matar um jovem e ainda assassinar, um mês depois, a principal testemunha que ameaçava denunciar a farsa. A testemunha foi morta com vários tiros no rosto, no portão de casa, quatro dias antes de seu depoimento.
Um dos PMs reconhecidos nesse caso, o soldado Natanael Viana de Freitas, já é investigado por suposta participação em um grupo de extermínio que atua em Osasco.
O grupo, cujos integrantes agem encapuzados, pode ser o responsável por mais de 30 assassinatos. Os homicídios são investigados pela Polícia Civil de Osasco e pela Corregedoria da Polícia Militar.
A farsa teria sido montada em um favela no Jardim Helena, periferia de Osasco, em janeiro deste ano.
Não era a primeira vez que o desempregado Anderson Cruz Cunha, 23, tinha sido abordado com drogas por policiais.
Na vez anterior, dois meses antes, o flagrante por tráfico foi descaracterizado pela Justiça, e ele foi solto. Segundo uma testemunha ouvida pela Polícia Civil, Cunha teria dito que foi ameaçado por Natanael. Seria morto se fosse pego com drogas novamente.
Os PMs afirmam que Cunha estava armado e reagiu ao ser pego com drogas, no dia 26 de janeiro deste ano. Foi morto com quatro tiros no peito.
O boletim de ocorrência foi registrado por quatro PMs, mas Natanael não é citado, apesar de ter sido reconhecido na ação por uma testemunha ouvida posteriormente pela Polícia Civil. Ele seria o autor dos disparos. Seis carros da PM participaram da ação, a maioria da Força Tática (grupo especializado em confrontos).
Cunha levou os tiros no quintal da casa da ajudante geral Rita de Cássia de Oliveira, 35. Para vizinhos e familiares de Cunha, Rita de Cássia disse que o jovem foi rendido, apanhou por quase uma hora e depois foi morto a tiros. Ele teria implorado para não morrer. Rita afirmou que um PM atirava para o alto enquanto Natanael disparava contra Cunha -a área foi isolada pelos PMs.
O objetivo seria simular um tiroteio. Antes disso, vários PMs teriam participado das agressões. Outras testemunhas também disseram ter ouvido os gritos e os pedidos de Cunha para não morrer.

Tiros no rosto
Rita, que já conhecia Cunha, disse que foi obrigada pelos PMs a se trancar na sua própria casa, mas conseguiu ver por uma fresta na janela.
Na delegacia, no dia do crime, ela não falou sobre o que viu. Mas passou a dizer para vizinhos que não teria mais medo e que iria denunciar a farsa quando fosse ouvida pela Polícia Civil de Osasco.
Quatro dias antes, foi chamada pelo nome na frente de sua casa. "Tia Rita", disse um dos assassinos. Era assim que era chamada na vizinhança. Quando abriu o portão levou quatro tiros no rosto.
Dois homens foram vistos chegando na favela em uma moto -ação semelhante a outras mortes atribuídas ao grupo de extermínio de Osasco.
Rita morreu no hospital. Ela não tinha antecedentes criminais nem inimigos, segundo investigação da Polícia Civil.
A uma vizinha, ouvida pela polícia, Rita teria dito que Natanael foi o autor dos tiros contra ela. Por medo, familiares da ajudante não quiseram falar sobre o caso com a reportagem.
O setor de homicídios da Polícia Civil só descobriu o assassinato dela por acaso. Sua morte foi registrada como comunicação de óbito -quando não há indícios aparentes de agressão- , apesar de ela ter sido atingida por vários tiros.
O boletim de ocorrência foi registrado por um familiar. A PM não compareceu ao local do crime ou ao hospital onde ela morreu, como é padrão em outras ocorrências envolvendo morte por agressão. Nos casos de morte no hospital, o primeiro boletim de ocorrência é de tentativa de homicídio, o que não ocorreu.


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