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PMs de Osasco são suspeitos de matar testemunha
Rita de Cássia de Oliveira foi morta no portão de sua casa com 4 tiros no rosto
Ela presenciou jovem de 23 anos ser rendido, apanhar por quase uma hora e depois ser morto por policiais no quintal de sua casa
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Policiais militares de Osasco
(Grande São Paulo) são suspeitos de forjar um caso de resistência para matar um jovem e
ainda assassinar, um mês depois, a principal testemunha
que ameaçava denunciar a farsa. A testemunha foi morta com
vários tiros no rosto, no portão
de casa, quatro dias antes de
seu depoimento.
Um dos PMs reconhecidos
nesse caso, o soldado Natanael
Viana de Freitas, já é investigado por suposta participação em
um grupo de extermínio que
atua em Osasco.
O grupo, cujos integrantes
agem encapuzados, pode ser o
responsável por mais de 30 assassinatos. Os homicídios são
investigados pela Polícia Civil
de Osasco e pela Corregedoria
da Polícia Militar.
A farsa teria sido montada
em um favela no Jardim Helena, periferia de Osasco, em janeiro deste ano.
Não era a primeira vez que o
desempregado Anderson Cruz
Cunha, 23, tinha sido abordado
com drogas por policiais.
Na vez anterior, dois meses
antes, o flagrante por tráfico foi
descaracterizado pela Justiça, e
ele foi solto. Segundo uma testemunha ouvida pela Polícia
Civil, Cunha teria dito que foi
ameaçado por Natanael. Seria
morto se fosse pego com drogas
novamente.
Os PMs afirmam que Cunha
estava armado e reagiu ao ser
pego com drogas, no dia 26 de
janeiro deste ano. Foi morto
com quatro tiros no peito.
O boletim de ocorrência foi
registrado por quatro PMs, mas
Natanael não é citado, apesar
de ter sido reconhecido na ação
por uma testemunha ouvida
posteriormente pela Polícia Civil. Ele seria o autor dos disparos. Seis carros da PM participaram da ação, a maioria da
Força Tática (grupo especializado em confrontos).
Cunha levou os tiros no quintal da casa da ajudante geral Rita de Cássia de Oliveira, 35. Para vizinhos e familiares de Cunha, Rita de Cássia disse que o
jovem foi rendido, apanhou por
quase uma hora e depois foi
morto a tiros. Ele teria implorado para não morrer. Rita afirmou que um PM atirava para o
alto enquanto Natanael disparava contra Cunha -a área foi
isolada pelos PMs.
O objetivo seria simular um
tiroteio. Antes disso, vários
PMs teriam participado das
agressões. Outras testemunhas
também disseram ter ouvido os
gritos e os pedidos de Cunha
para não morrer.
Tiros no rosto
Rita, que já conhecia Cunha,
disse que foi obrigada pelos
PMs a se trancar na sua própria
casa, mas conseguiu ver por
uma fresta na janela.
Na delegacia, no dia do crime,
ela não falou sobre o que viu.
Mas passou a dizer para vizinhos que não teria mais medo e
que iria denunciar a farsa quando fosse ouvida pela Polícia Civil de Osasco.
Quatro dias antes, foi chamada pelo nome na frente de sua
casa. "Tia Rita", disse um dos
assassinos. Era assim que era
chamada na vizinhança. Quando abriu o portão levou quatro
tiros no rosto.
Dois homens foram vistos
chegando na favela em uma
moto -ação semelhante a outras mortes atribuídas ao grupo
de extermínio de Osasco.
Rita morreu no hospital. Ela
não tinha antecedentes criminais nem inimigos, segundo investigação da Polícia Civil.
A uma vizinha, ouvida pela
polícia, Rita teria dito que Natanael foi o autor dos tiros contra ela. Por medo, familiares da
ajudante não quiseram falar sobre o caso com a reportagem.
O setor de homicídios da Polícia Civil só descobriu o assassinato dela por acaso. Sua morte foi registrada como comunicação de óbito -quando não há
indícios aparentes de agressão- , apesar de ela ter sido
atingida por vários tiros.
O boletim de ocorrência foi
registrado por um familiar. A
PM não compareceu ao local do
crime ou ao hospital onde ela
morreu, como é padrão em outras ocorrências envolvendo
morte por agressão. Nos casos
de morte no hospital, o primeiro boletim de ocorrência é de
tentativa de homicídio, o que
não ocorreu.
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