São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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ACIDENTES

Número de ocorrências fatais na cidade de São Paulo é o menor desde 1979; multas de radares também diminuíram

Mortes no trânsito caem 7,5% em 2002

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A quantidade de mortes no trânsito da capital paulista caiu 7,5% no ano passado, atingindo a menor marca das últimas duas décadas, segundo dados do IML (Instituto Médico Legal) repassados à Folha pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
O balanço da violência no trânsito de São Paulo deve fechar 2002 com 1.412 mortes -sendo 826 ocupantes de veículos e 586 pedestres. As estatísticas de janeiro a outubro já foram concluídas, enquanto as de novembro e dezembro são projeções de técnicos. Em 2001, no primeiro ano da gestão Marta Suplicy, as mortes tiveram elevação de 0,6%, atingindo 1.526.
Considerando apenas os números já fechados, dos primeiros dez meses, a redução em 2002 chega a 7,8% em relação ao mesmo período de 2001 -de 1.290 para 1.189.
Especialistas ressalvam que, embora positiva, a queda ainda não é grande e poderia ser maior se houvesse investimentos da prefeitura de acordo com as normas do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), em vigor desde 1998. "Não se pode achar que é um problema resolvido. Ainda é uma temeridade", diz Roberto Scaringella, ex-presidente da CET.
Ele cobra, por exemplo, que 95% da arrecadação das multas seja revertida em melhorias para o trânsito, conforme prevê a lei. Os gastos anuais da CET giram em torno de R$ 200 milhões, enquanto a arrecadação com multas beira R$ 400 milhões. A prefeitura alega que toda a verba é gasta em trânsito e transporte, mas por outros órgãos e secretarias -explicação contestada por técnicos.
Com as 1.412 mortes de 2002, São Paulo beira 2,7 mortes por 10 mil veículos -marca que, embora inferior à média brasileira (acima de 6 por 10 mil) e à referência mundial para um trânsito minimamente seguro (3 por 10 mil), ainda supera em muito as médias de países desenvolvidos (1,2 na Inglaterra e Suécia, 1,5 no Japão e 1,7 na Alemanha, segundo dados de 1998). A proporção de mortes no trânsito por 100 mil habitantes -acima de 14- também bate de longe a de cidades como Nova York (4,8) e Los Angeles (6,4).
Mauricio Régio, assessor de segurança no trânsito da CET, afirma que a queda nas mortes em 2002 está ligada a projetos desenvolvidos na periferia e à otimização da fiscalização eletrônica.
As estatísticas da CET mostram que também houve uma redução na quantidade de multas dos radares em 2002 -de 5,9%, passando de 1,21 milhão, em 2001, para 1,14 milhão. "A relação é direta. Se há menos multas por excesso de velocidade, a tendência é haver menos mortes", diz Régio.
A quantidade de infrações dos radares, entretanto, ainda é alta -segunda maior marca anual desde 1997, quando os primeiros equipamentos eletrônicos foram instalados. Ela perde apenas para 2001, quando a CET mudou a margem de tolerância dos equipamentos fotográficos -que variava de 15 km/h a 20 km/h e foi reduzida para 10 km/h.
O assessor da CET cita dois projetos baratos para a redução, principalmente, de atropelamentos.
Um deles é a iluminação das faixas de travessia de pedestres, projeto que teve início em 1997, na gestão Celso Pitta. Até 2000, havia 743 dessas luminárias em São Paulo. Em 2001, foram instaladas mais 524 e, em 2002, mais de 700. O custo de cada uma varia de R$ 300 a R$ 800, e um estudo realizado há quatro anos mostrou que essa medida poderia reduzir os atropelamentos pela metade.
Régio também cita um programa de melhorias viárias feito em 12 corredores da periferia com altos índices de acidente, que inclui a colocação de ilhas de travessia para pedestres, semáforos e reforço da sinalização. O assessor da CET e os especialistas Philip Anthony Gold, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e Scaringella também avaliam ter havido influência da fiscalização eletrônica da velocidade.
No segundo semestre de 2002, a CET espalhou faixas identificando novos lugares que receberiam lombadas eletrônicas. A quantidade de equipamentos subirá de 31 para cem -sendo que 15 das novas já foram instaladas.
Os efeitos dos radares no trânsito são sentidos desde 1998. Junto com as novas regras do CTB, eles levaram à queda de mais de 30% das mortes em São Paulo.


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