São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

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SAÚDE

Anna Paula, 23, foi escolhida por ter mais problemas

Portadoras de doença rara, 3 irmãs decidem quem receberá rim da mãe

EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

Mãe de três filhas que padecem de uma rara insuficiência renal crônica, Izilda Cristina Reinelt, 50, enfrentava há anos um dilema: a qual delas deveria doar seu rim.
Foram as filhas, porém, que decidiram a questão. Na noite do último Natal, Eva Cristina, 25, e as gêmeas Anna Maria e Anna Paula, 23, anunciaram que o rim deveria ser doado a Anna Paula, que vinha tendo mais problemas com as hemodiálises e o tratamento. Mãe e filha poderão passar pela cirurgia de transplante até o final do mês que vem.
Anna Paula conta que, quando ela tinha 16 anos, uma médica alertou que ela e as irmãs estavam perdendo as funções renais e precisariam passar por transplantes.
As três sofrem de uma disfunção chamada glomérulo esclerose focal, diagnosticada em 1998. Os primeiros sinais da doença, porém, apareceram quando elas ainda eram bebês -tinham um ano e dois meses de idade.
Há cerca de três anos, as irmãs começaram a se submeter semanalmente a sessões de hemodiálise -processo terapêutico em que o sangue passa por depuração por meio de um aparelho.
De lá para cá, descobriu-se que o pai, João Otávio Menezes Marques, 56, pode ter transmitido a disfunção às filhas, por herança genética. Por isso, ele não era um doador compatível.
Exames constataram que apenas a mãe poderia fazer a doação. A maneira menos dolorosa encontrada por Izilda foi deixar que as filhas decidissem a questão.
"Nós somos muitos unidos, sempre conversamos muitos. No começo, pensamos que não precisaríamos fazer a escolha, que apareceria um doador cadáver e resolveria o problema de duas", disse Anna Paula.
"Para mim continua sendo um misto de alegria e de expectativa pelas outras duas. Sinto que está se abrindo uma porta e que uma luz está entrando", disse Izilda.
Anna Paula, que receberá o rim da mãe, vive um sentimento parecido: "Foi muita emoção. Nós choramos e nos abraçamos. Mas a minha felicidade ainda não é completa", disse, referindo-se à situação de Eva e Anna Maria. "Tenho certeza que verei minhas irmãs bem", disse.


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