COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma moldura com o rosto de uma mulher desenhado a lápis foi pendurada, ontem, do lado de fora de uma casa na rua Antonio Vitorino Costa, em Ferraz de Vasconcelos, a poucos metros de onde os quadros de Pablo Picasso e Candido Portinari, do Masp, foram encontrados na terça. A brincadeira do tatuador Diego Marcos, 24, era um termômetro do clima na vizinhança ontem. "É a Monalisa", dizia ele.
A maioria dos moradores do Jardim Sara, bairro de Ferraz de Vasconcelos perto da estação de trem, nunca foi a um museu. Entre aqueles que estavam na rua ontem, nenhum conhecia sequer a avenida Paulista, onde fica o Masp.
"Eu poderia até ter visto eles entrarem e saírem com o quadro que não iria nem desconfiar que era uma pintura milionária. Ainda mais uma mulher feia daquelas", disse a dona-de-casa Luciana Aparecida Rodrigues Ribeiro, 26, comentando a tela de Picasso. A filha dela, Franciele, 10, lamenta não ter visto as obras. "Já estudei Picasso na escola, queria pelo menos ter dado uma olhadinha."
As duas viram a movimentação de policiais anteontem e contaram que pensaram "em tudo", menos que eles estivessem recuperando as obras de arte. "Aqui é uma região sossegada, mas, de vez em quando, acontece roubo ou morte. Agora, dois quadros... não dava para imaginar", disse Luciana.
A última vez que a vizinhança havia visto tantos carros de polícia foi em maio, quando o mentor do seqüestro e do assassinato do casal Liana Friedenbach, 16, e Felipe Caffé, 19, foi recapturado a um quarteirão dali. Ele havia fugido da Fundação Casa (ex-Febem) e estava com uma tia.
Na casa onde estavam os quadros havia um cadeado no portão, mas as portas estavam destrancadas. Dentro de um dos pavimentos, um cachorro preso latia, enquanto os outros pisos eram espiados por quem havia pulado o muro. "A gente até colocou água para o cachorro", disse um dos vizinhos.


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