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Comerciantes de Goiás Velho reclamam de falta de recursos
Moradores afirmam que tiveram de pagar parte do valor para reconstruir cidade
Procurador do município devastado em 2001 afirma que críticas são infundadas e que repor perdas no comércio não está na lei
JOHANNA NUBLAT
DA ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DE
GOIÁS
A cidade histórica de Goiás,
devastada em uma enchente na
virada de 2001 para 2002, virou
modelo para a reconstrução da
paulista São Luiz do Paraitinga.
Só que moradores e comerciantes reclamam que a rápida recuperação teve suas limitações.
Em menos de um ano e meio,
as pontes de Goiás Velho, como
a cidade é conhecida, já estavam em seus lugares, assim como as belas fachadas coloridas
e os calçamentos típicos.
Ainda hoje, porém, os habitantes reclamam que deveriam
ter recebido mais recursos. Na
maioria dos casos recolhidos
pela Folha, os próprios moradores pagaram a mão de obra
para a reconstrução de pisos e
pintura de paredes.
Quem tinha comércio à beira
do rio Vermelho -que transbordou e dividiu a cidade ao
meio- acabou perdendo o local, demolido por se situar em
área de risco, e ainda não conseguiu receber a verba da desapropriação. Esse é o caso de
Adinair Almeida, 67. Quase dez
anos após a enchente, ele ainda
tem esperança de recuperar na
Justiça o dinheiro da desapropriação de seu terreno. A loja
em que alugava máquinas agrícolas ruiu em parte e foi demolida na sequência. Os filhos,
que trabalhavam lá, deixaram a
cidade por falta de emprego.
Nilton Medeiros, 38, tinha
loja de produtos veterinários
alugada vizinha à de Almeida.
Tudo se perdeu, algo em torno
de R$ 120 mil. Apenas há um
ano conseguiu limpar o nome
na praça, com a herança da
mãe. Outra que perdeu tudo no
comércio foi Eliane Berquo, 49.
"Para o comércio não veio nada
de verba, muita gente quebrou
e não se levantou. Sinto o peso
disso ainda hoje", diz. Ela integrou uma associação formada
pelos comerciantes que tentaram conseguir recursos e até
uma linha de financiamento.
Não conseguiram, conta.
Reuniões com políticos e
promessas de ajuda não faltaram, afirma Berquo. "Fico até
meio deprimida quando vejo
políticos fazendo visitas em
áreas afetadas e prometendo
dinheiro para reconstruir." A
reconstrução de Goiás ocorreu
num ano de eleição, assim como será a de Paraitinga.
Berquo também sofreu com
a inundação de sua casa e a de
sua mãe, Silvia Bueno, 74. Bueno mora a menos de 20 metros
da Cruz do Anhanguera. Faz
com a mão como foi a queda do
monumento -o que foi repetido por outras mulheres da cidade. Sua casa teve três muros
derrubados, parte do piso arrancada e a fachada abalada.
Ela diz que pagou pela metade
da recuperação e teve que
mandar refazer parte do que
foi feito pelo grupo que reergueu a cidade -um dos muros,
por exemplo, caiu logo após ter
sido refeito. "Podiam ter feito
muito mais", conclui.
A casa ao lado, de Maria Peixoto, 79, foi uma das que perderam a fachada, que "ruiu como açúcar". Ficou para a dona
da casa pagar a mão de obra para recolocação do piso perdido.
Dyogo Crosara, procurador
do município, defende que
muitas das críticas são infundadas. "As pessoas imaginam
que o poder público é obrigado
a reconstruir tudo, o que muitas vezes é impossível pela lei."
Ele cita a reposição de móveis e
das perdas econômicas no comércio. Lembra que houve
apoio com a suspensão do pagamento do IPTU da área central naquele ano e afirma que a
retomada da desapropriação
ocorrerá em breve.
Diz ainda que o Iphan atua
prioritariamente na fachada e
no telhado das edificações, mas
que, na enchente em Goiás,
acabou reerguendo também a
estrutura interna das casas.
O trabalho de reparação dos
danos na cidade foi coordenado por Salma Saadi, superintendente do Iphan no Estado
de Goiás. Ela foi enviada a São
Luiz do Paraitinga para auxiliar
os trabalhos de restauração a
partir da experiência em Goiás.
A água que carregou móveis,
paredes e até a Cruz de Anhanguera -situada no centro da cidade- transbordou do rio após
uma forte chuva entre os dias
30 e 31 de dezembro de 2001,
subindo cinco metros e inundando a cidade.
A cidade ainda celebrava o título de patrimônio histórico da
humanidade, concedido pela
Unesco no mesmo ano. Segundo levantamento do Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),
130 edificações do centro histórico ficaram avariadas, tendo
cinco tido perda total (incluindo a cruz). A estimativa dos
gastos envolvidos na reconstrução variam de R$ 8 milhões
a R$ 10 milhões, consideradas
verbas federais, estaduais e
municipais e de empresas públicas e privadas.
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