São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Comerciantes de Goiás Velho reclamam de falta de recursos

Moradores afirmam que tiveram de pagar parte do valor para reconstruir cidade

Procurador do município devastado em 2001 afirma que críticas são infundadas e que repor perdas no comércio não está na lei

JOHANNA NUBLAT
DA ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DE GOIÁS

A cidade histórica de Goiás, devastada em uma enchente na virada de 2001 para 2002, virou modelo para a reconstrução da paulista São Luiz do Paraitinga. Só que moradores e comerciantes reclamam que a rápida recuperação teve suas limitações.
Em menos de um ano e meio, as pontes de Goiás Velho, como a cidade é conhecida, já estavam em seus lugares, assim como as belas fachadas coloridas e os calçamentos típicos.
Ainda hoje, porém, os habitantes reclamam que deveriam ter recebido mais recursos. Na maioria dos casos recolhidos pela Folha, os próprios moradores pagaram a mão de obra para a reconstrução de pisos e pintura de paredes.
Quem tinha comércio à beira do rio Vermelho -que transbordou e dividiu a cidade ao meio- acabou perdendo o local, demolido por se situar em área de risco, e ainda não conseguiu receber a verba da desapropriação. Esse é o caso de Adinair Almeida, 67. Quase dez anos após a enchente, ele ainda tem esperança de recuperar na Justiça o dinheiro da desapropriação de seu terreno. A loja em que alugava máquinas agrícolas ruiu em parte e foi demolida na sequência. Os filhos, que trabalhavam lá, deixaram a cidade por falta de emprego.
Nilton Medeiros, 38, tinha loja de produtos veterinários alugada vizinha à de Almeida. Tudo se perdeu, algo em torno de R$ 120 mil. Apenas há um ano conseguiu limpar o nome na praça, com a herança da mãe. Outra que perdeu tudo no comércio foi Eliane Berquo, 49. "Para o comércio não veio nada de verba, muita gente quebrou e não se levantou. Sinto o peso disso ainda hoje", diz. Ela integrou uma associação formada pelos comerciantes que tentaram conseguir recursos e até uma linha de financiamento. Não conseguiram, conta.
Reuniões com políticos e promessas de ajuda não faltaram, afirma Berquo. "Fico até meio deprimida quando vejo políticos fazendo visitas em áreas afetadas e prometendo dinheiro para reconstruir." A reconstrução de Goiás ocorreu num ano de eleição, assim como será a de Paraitinga.
Berquo também sofreu com a inundação de sua casa e a de sua mãe, Silvia Bueno, 74. Bueno mora a menos de 20 metros da Cruz do Anhanguera. Faz com a mão como foi a queda do monumento -o que foi repetido por outras mulheres da cidade. Sua casa teve três muros derrubados, parte do piso arrancada e a fachada abalada. Ela diz que pagou pela metade da recuperação e teve que mandar refazer parte do que foi feito pelo grupo que reergueu a cidade -um dos muros, por exemplo, caiu logo após ter sido refeito. "Podiam ter feito muito mais", conclui.
A casa ao lado, de Maria Peixoto, 79, foi uma das que perderam a fachada, que "ruiu como açúcar". Ficou para a dona da casa pagar a mão de obra para recolocação do piso perdido.
Dyogo Crosara, procurador do município, defende que muitas das críticas são infundadas. "As pessoas imaginam que o poder público é obrigado a reconstruir tudo, o que muitas vezes é impossível pela lei." Ele cita a reposição de móveis e das perdas econômicas no comércio. Lembra que houve apoio com a suspensão do pagamento do IPTU da área central naquele ano e afirma que a retomada da desapropriação ocorrerá em breve.
Diz ainda que o Iphan atua prioritariamente na fachada e no telhado das edificações, mas que, na enchente em Goiás, acabou reerguendo também a estrutura interna das casas.
O trabalho de reparação dos danos na cidade foi coordenado por Salma Saadi, superintendente do Iphan no Estado de Goiás. Ela foi enviada a São Luiz do Paraitinga para auxiliar os trabalhos de restauração a partir da experiência em Goiás.
A água que carregou móveis, paredes e até a Cruz de Anhanguera -situada no centro da cidade- transbordou do rio após uma forte chuva entre os dias 30 e 31 de dezembro de 2001, subindo cinco metros e inundando a cidade.
A cidade ainda celebrava o título de patrimônio histórico da humanidade, concedido pela Unesco no mesmo ano. Segundo levantamento do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), 130 edificações do centro histórico ficaram avariadas, tendo cinco tido perda total (incluindo a cruz). A estimativa dos gastos envolvidos na reconstrução variam de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões, consideradas verbas federais, estaduais e municipais e de empresas públicas e privadas.


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