São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


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Refugiado prejudica RJ, diz secretário

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O secretário da Segurança Pública do Estado do Rio, Josias Quintal, acusou ontem o governo federal de agravar os problemas do Rio ao acolher refugiados políticos de Angola.
De acordo com Quintal, o governo federal abandona os angolanos nas favelas do Rio, sem dar a eles condições dignas de vida.
Coronel da reserva da PM (Polícia Militar), Quintal previu em, entrevista à Folha, que, logo, angolanos estarão integrando as quadrilhas de traficantes nas favelas cariocas.
"Se não existe, hoje, o envolvimento comprovado, com certeza absoluta existirá dentro de algum tempo. Se não existe no presente, com certeza estão criando condições para o futuro", afirmou ele.
Segundo Quintal, as investigações da Polícia Civil e da Polícia Militar no complexo de favelas da Maré indicam não haver angolanos treinando traficantes com táticas de guerrilha ou participando de quadrilhas criminosas.
"Em momento algum tivemos isso comprovado. Isso de campo de treinamento na comunidade, no complexo, está mais do que verificado que não existe", disse Quintal, que se reuniu ontem com 15 lideranças comunitárias do complexo.
Entretanto, o secretário afirmou que, ao aceitar os refugiados, o governo federal prejudica o Rio.
"O governo brasileiro tem acordos internacionais e aceita essas pessoas em razão dos acordos. Agora, pegar esse pessoal e jogar na favela é crueldade com eles e conosco. O Rio já tem problemas
demais", disse Quintal.
Para o secretário, "os angolanos, a maioria absoluta, são pessoas de bem", mas que as miseráveis condições de vida nas favelas podem levá-los à criminalidade.
Quintal defendeu a ação policial em que foram cadastrados e fotografados os angolanos residentes no complexo da Maré.
Desde segunda-feira, o complexo está ocupado por cerca de 700 policiais. Na sexta-feira, seis favelados foram mortos em uma suposta guerra de traficantes.
As críticas à ação policial feitas pelo coordenador de Pesquisa e Cidadania da secretaria, Luiz Eduardo Soares, não são aceitas por Quintal.
Ideólogo da reestruturação policial em curso no governo Anthony Garotinho (PDT), Soares disse que os policiais não agiriam da mesma forma caso os suspeitos fossem dinamarqueses louros.
"Eu não tenho discriminação. Se tivesse dinamarqueses ou noruegueses naquele lugar, com certeza passariam pelo mesmo processo. Não podemos deixar a coisa nesse estado de desorganização. Vou manter essa linha. Esse controle, o Estado tem que ter", disse Quintal.


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