|
Próximo Texto | Índice
RIO
Supermercado constata edição em imagens de mulheres que teriam sido entregues a traficantes; preso aponta suposto acordo
Carrefour demite seis por fraude em fita
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
A Administração Central do
Carrefour constatou que houve
adulteração nas fitas do sistema
interno de vídeo da filial do supermercado em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, que registraram cenas de duas mulheres
furtando frascos de protetor solar
no dia 27 de janeiro.
Por causa da fraude, o Carrefour anunciou ontem a demissão
de seis funcionários da filial. A direção do supermercado contratou uma perícia própria para a
análise das cenas gravadas, que
atestou a edição das fitas.
""Elementos técnicos indiscutíveis apontam que houve uma edição da fita, além do descumprimento das normas da empresa",
disse o perito Mauro Ricart.
Foram demitidos os fiscais de
loja José Luís Ferreira e Flávio Augusto Grachet e o gerente de segurança Tadeu Pinto, que já estão
presos, e também o gerente-geral
Joaquim Antônio Almeida da Silva, o gerente de fiscalização de patrimônio Dalto Rodrigues de Andrade e o fiscal de loja José Marcelo da Silva Lisboa.
A principal fita apresentada pelo supermercado à polícia possui
uma interrupção de 4 horas e 40
minutos. O hiato tem início no
momento em que as desempregadas Andréa Cristina dos Santos,
30, e Geni Ribeiro Barbosa, 27, flagradas furtando frascos de filtro
solar, estão na sala dos seguranças
e tiram da bolsa a mercadoria.
Após a interrupção da fita, segundo Andréa e Geni disseram à
polícia, o segurança José Luís Ferreira teria telefonado para uma
mulher chamada Lolonga, que seria contato do traficante Telo, gerente do tráfico de drogas na Cidade de Deus, favela vizinha do
supermercado.
Segundo o relato, um traficante
chamado Quinho teria ido até o
supermercado e levado Geni ao
encontro de Telo na favela. Lá, ela
teria sido espancada e amarrada a
pneus que seriam incinerados. No
depoimento, Geni disse que foi
golpeada nas costas com paus e
teve os dedos da mão espremidos
com um alicate.
Exame feito pelo IML (Instituto
Médico Legal) em Geni comprovou lesões nas costas, em uma
vértebra lateral e nos dedos, provocada por objeto contundente.
Ela teria sido salva porque Andréa, que permaneceu no Carrefour, conseguiu fugir da sala dos
seguranças, correu para a tabacaria e chamou a polícia. Preocupado com a chegada dos policiais, o
segurança Flávio Augusto Grachet teria ido à Cidade de Deus
pedir aos traficantes a libertação
de Geni. Em depoimento à polícia, o dono da tabacaria, que pediu que seu nome fosse mantido
em sigilo, confirmou o depoimento de Andréa.
Confirmação
O traficante da favela Cidade de
Deus Ronald Alves de Almeida,
18, mais conhecido como Edredon, afirmou em depoimento à
41ª DP (Delegacia de Polícia) que
existe um acordo entre o tráfico e
a filial do Carrefour em Jacarepaguá para punir pessoas que pratiquem furtos no supermercado.
Segundo o traficante, o objetivo
seria manter a polícia afastada das
quatro bocas-de-fumo (local de
venda de drogas) da favela. Edredon pertence à quadrilha do traficante Telo, acusado de liderar a
sessão de tortura em Geni.
Outro lado
Procurada pela Folha, a Administração Central do Carrefour
afirmou ontem ""desconhecer
qualquer informação" sobre um
suposto acordo entre a filial e traficantes.
Edredon, que não participou do
espancamento de Geni, foi preso
anteontem sob acusação de outro
crime: o assassinato de Rômulo
Alves dos Santos, soldado do 14º
BPM (Bangu), que foi morto na
entrada da favela ao ser reconhecido por um grupo de 30 traficantes. O corpo de Rômulo foi encontrado carbonizado dentro de um
carro na entrada da favela.
Em depoimento ao delegado
adjunto da 41ª DP, Orlando Zaccone, Edredon afirmou que o
acordo para dar segurança a estabelecimentos comerciais não é
restrito ao Carrefour, estendendo-se a outras lojas da área.
O traficante detalhou as punições. No caso de um furto considerado simples, a punição seria
levar uma surra com paus e ter o
cabelo raspado. No caso de furto
ou roubo a moradores da favela, a
punição poderia chegar a tiros
nas mãos e expulsão.
Edredon confirmou à polícia
que forasteiros que roubam o comércio local recebem "a pena de
morte", como seria o caso de Andréa e Geni, que moram no bairro
da Pavuna.
Como a 2ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado do
Rio negou habeas corpus aos fiscais de loja José Luiz de Alcântara
e Flávio Augusto Grachet e ao gerente de segurança Tadeu Luís
Mendonça Pinto, o advogado dos
funcionários do Carrefour, Edson
Ribeiro, entrou com novo pedido
de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça.
Próximo Texto: Segurança: Funcionário da Anistia volta ao país e depõe Índice
|