|
Próximo Texto | Índice
RUMO À PERIFERIA
Batalha judicial se arrasta há 30 anos; moradores e proprietários negociam saída pacífica
Justiça determina remoção da única favela do Alto de Pinheiros
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de cerca de 40 anos, a
única favela do Alto de Pinheiros,
bairro de classe média alta na zona oeste de São Paulo, está prestes
a ser desocupada. A Justiça decidiu pela reintegração de posse aos
proprietários da área e a saída dos
atuais moradores deve ocorrer
neste semestre.
A favela, localizada na rua Djalma Coelho, é vizinha de casas e
prédios de alto nível e fica próxima de áreas como a Vila Madalena e a praça do Pôr-do-Sol.
A decisão pela reintegração foi
tomada pelo Tribunal de Alçada
Civil, em segunda instância, no final do ano passado, e tem poucas
chances de ser modificada, conforme admitem os próprios advogados dos moradores.
De acordo com a Associação em
Defesa da Moradia, que representa os moradores na Justiça, aproximadamente 100 famílias vivem
no lugar.
Antonio de Arruda Sampaio,
advogado dos proprietários do
terreno, disse que a expectativa é
conseguir uma solução negociada
para a saída dos moradores. "A
esperança é que haja um entendimento entre as partes."
Os moradores da favela também esperam uma saída negociada, recomendada por seus próprios advogados. Representantes
dos proprietários da área discutem valores com algumas famílias
que vivem no local para que elas
deixem a favela. Segundo a Folha
apurou, esses valores variam em
torno de R$ 4.500, dependendo
do tamanho da casa.
O prazo que vem sendo discutido para a saída, dentro desse
acordo, vai até abril. Segundo os
moradores da área, as famílias
que vivem na favela estão cientes
da situação e não pretendem resistir à decisão judicial. Eles disseram que a intenção da maioria é
sair antes que haja uma ação de
despejo com uso de força policial.
A disputa judicial em torno da
área já vem se arrastando por
mais de 30 anos, com decisões favoráveis ora para os proprietários
do terreno, ora para os moradores
da favela. Com a decisão do Tribunal de Alçada Civil, no entanto,
a disputa jurídica parece ter chegado ao fim, apesar do recurso interposto pela defesa. "Eles vão ter
de sair", disse Edvaldo Falcão, um
dos advogados dos favelados.
Adenor Patrício de Almeida, 58,
conhecido como "seu Dinha", está no local há mais de 40 anos. Dono de um bar na favela e um dos
mais antigos ocupantes da área,
reconhece que terá de se mudar.
"Dessa vez não tem jeito. No final
de março já devem estar derrubando tudo."
Isso apesar de o local constar no
Plano Diretor -lei municipal que
orienta o crescimento e a ocupação da cidade- regional de Pinheiros como área de interesse
social, o que autoriza a prefeitura
a fazer parcerias com a iniciativa
privada para a construção de habitações para os atuais ocupantes.
No entanto, de acordo com a
subprefeitura de Pinheiros, nenhum projeto habitacional está
previsto para o local. A função social do local foi citada no recurso,
mas Falcão afirmou não acreditar
numa mudança da situação com
base nisso.
Próximo Texto: "Não tem jeito", afirma morador Índice
|