São Paulo, terça, 10 de fevereiro de 1998

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SAÚDE
Pesquisa revela que remédio não teve efeito
Tratar doença de Chagas crônica é ineficaz

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

O tratamento da doença de Chagas na fase crônica é ineficaz e desnecessário. Essa é a conclusão de estudo realizado pela médica-assistente do Incor (Instituto do Coração), Barbara Ianni.
Barbara estudou o comportamento de 33 pacientes com a forma indeterminada da doença. Metade deles tomou remédio para matar o Tripanossoma cruzi , e o restante não foi submetido a nenhum tratamento.
A pesquisa mostrou que o uso do remédio não teve nenhum efeito sobre o protozoário. Segundo a médica, como não há comprovação dos efeitos do remédio nessa fase, o uso do medicamento não compensa por causa dos fortes efeitos colaterais que provoca.
"O remédio pode causar anorexia, náusea e até infecções nos nervos das pernas. São efeitos muito ruins", afirma a médica. O resultado da pesquisa -que será publicada no próximo número da revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a "Arquivos Brasileiros de Cardiologia"- serviu de base para nortear a estratégia do Incor em relação a pessoas com a forma indeterminada da doença.
A recomendação do hospital é não usar remédios para tentar matar o protozoário. Quando o paciente tem os sintomas da doença, a orientação é tratar apenas os efeitos.
"Mas isso não é a regra geral dos hospitais. Há muita divergência ainda de qual é a melhor forma de combater o protozoário."
Um médico que discorda da tese de Barbara é o infectologista Vicente Amato Neto. "Ainda não temos remédios maravilhosos para tratar a doença, mas acho que a conclusão dessa médica é mais pessimista do que se pode prever."
A doença de Chagas é transmitida por meio da picada do barbeiro, um inseto comum no interior do Brasil. O protozoário se aloja no coração, intestino e esôfago, podendo causar desde inflamações a uma parada cardíaca.
A estimativa é de que 60% das pessoas infectadas pelo protozoário não desenvolvam os sintomas da doença. Um quarto do total teria sintomas leves e 10% desenvolveriam problemas no coração.
No Brasil, calcula-se que existam 6 milhões de pessoas com o protozoário. No Incor, há cerca de 2.000 sendo acompanhadas.



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