São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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VIOLÊNCIA
Presos foram assassinados a golpes de estilete por outros detentos, segundo versão oficial da direção da cadeia
Rebelião faz 7 mortos em Praia Grande

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Policiais militares se preparam para invadir a cadeia pública de Vila Mirim, em Praia Grande (SP)


FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Praia Grande

Sete presos foram assassinados na manhã de ontem na Cadeia Pública da Vila Mirim, o chamado Cadeião de Praia Grande (SP), após uma tentativa de fuga frustrada à qual se seguiu uma rebelião que durou cerca de 11 horas.
A maioria dos mortos é composta de detentos que ocupavam a cela do "seguro", compartimento destinado aos presos jurados de morte. Pelo menos um deles, Geraldo Magela Costa, 53, era "faxina" (responsável pela limpeza) e, supostamente, teria sido executado por ter boa relação com a administração da cadeia.
De acordo com o diretor da cadeia, delegado Paulo Fernando Felipe, os presos foram mortos a golpes de estilete pelos próprios amotinados depois que agentes impediram uma fuga em massa durante a madrugada. Representante da OAB foi impedida de entrar na cadeia para confirmar essa versão.
A tentativa de fuga ocorreu por volta das 5h. Armados de revólveres, os presos quebraram os cadeados das celas e iniciaram a fuga pela porta da frente. Com o auxílio de cordas feitas de pano, parte deles tentou escalar o muro da cadeia, mas não conseguiu.
Segundo o delegado Paulo Felipe, os presos saíram dos pavilhões atirando contra os agentes de segurança que se encontravam nas torres da cadeia.
Não houve feridos durante o tiroteio, segundo a direção da cadeia. Sem êxito na tentativa de fuga, os presos voltaram para os pavilhões e iniciaram a rebelião, invadindo o "seguro", de onde tiraram os detentos que foram mortos.
Os corpos dos presos assassinados ficaram durante a maior parte do dia estendidos no pátio. Foram recolhidos somente às 17h30, uma hora e meia depois de a rebelião ter se encerrado. Os nomes dos mortos não tinham sido divulgados até o início da noite de ontem.
Para conter a rebelião, as Polícias Civil e Militar reuniram um aparato de 52 carros. Toda a área da prisão foi cercada. Às 16h, um grupo de 70 policiais militares e outro de policiais civis entrou na cadeia.
A decisão de invadir o pátio e os pavilhões para obrigar os presos a retornar às celas e submetê-los a revista foi tomada antes da chegada do GER (Grupo Especial de Resgate, da Polícia Civil, especializado em rebeliões), vindo de São Paulo.
"Já existe uma atitude tomada no sentido de invadir a cadeia para conseguir uma revista. Então, ficaremos aqui somente para dar apoio", disse ao chegar Osvaldo Gonçalves, delegado do GER.
Gonçalves afirmou que, embora armados, os presos não impuseram resistência à entrada dos policiais. Segundo o delegado, eles não fizeram reivindicações nem depredaram a cadeia, que tem 512 vagas, mas ontem abrigava 679 detentos.
O delegado Paulo Felipe afirmou não saber como as armas em poder dos presos foram introduzidas na cadeia. Investigação interna vai apurar se funcionários entregaram os revólveres aos detentos.


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