São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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Revista encontra 20 celulares nas celas

da Agência Folha, em Praia Grande

Vinte aparelhos de telefone celular tinham sido apreendidos até as 18h de ontem na revista que policiais civis e militares realizavam nas 64 celas do Cadeião.
Depois que os presos se recolheram, grupos de policiais passaram a vasculhar cela por cela. Eles retiravam os presos, revistavam cada um e procuravam na cela objetos e armas escondidos.
"Pelo simples fato de haver celulares aí dentro, você calcula como a cadeia funciona. Com um celular, você pode combinar tudo com quem está fora", disse a advogada Renata Ucci, da Comissão de Direitos Humanos da OAB.
Ela afirmou já ter recebido denúncias de casos de extorsão supostamente praticados por funcionários. Para Renata, há dificuldade para investigar porque os denunciantes não querem formalizar a queixa, com medo de represálias.
"Se as pessoas que visitam são revistadas, se os advogados passam por detectores de metais, de que maneira essas armas e celulares entram na cadeia?", indagou.
Ela afirmou que há cinco anos acompanha rebeliões de presos na cidade, e ontem, pela primeira vez, foi impedida de ter acesso ao interior da cadeia.
Diante da cadeia, mulheres de presos, que conseguiram acesso ao local se embrenhando na mata que circunda a prisão, gritavam e esmurravam o portão principal afirmando que os maridos estavam sendo agredidos. "Eu sabia que iria ter rebelião. Meu marido me telefonou pelo celular às 5h", disse Karina Silva Rodrigues, 18. Segundo ela, o motivo da rebelião seriam os maus-tratos aos quais os presos supostamente são submetidos.
Lúcia Galvão, 53, mãe de um preso de 29 anos, disse que os detentos e os visitantes obtêm privilégios quando aceitam pagar a funcionários. "Aqui é tudo pago. Quem não tiver dinheiro, não entra."
"Para entrar um colchão, você tem de pagar R$ 70", afirmou uma mulher que se identificou apenas como Solange, cujo marido cumpre 20 anos de pena, condenado por dois homicídios.
O Cadeião tem capacidade para receber até 512 presos (oito em cada uma das 64 celas). Na prisão ocorreu a maior fuga de presos na Baixada Santista -em 7 de setembro de 1996, quando 93 detentos fugiram correndo pelo portão.


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