São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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Total de mortos em 99 supera 4 anos

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O número de presos mortos desde o início do ano até agora durante motins em presídios de São Paulo já é quatro vezes maior do que o índice dos últimos quatro anos.
De 95 a 98, de acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária, morreram três detentos em presídios paulistas.
Neste ano, somente o incidente na Penitenciária 2 de Pirajuí (interior de SP) foi responsável pela morte de 13 presos -o quádruplo dos últimos quatro anos.
Somando-se as 13 mortes registradas até o momento no sistema penitenciário com as sete mortes de ontem na Cadeia Pública de Praia Grande (de responsabilidade da Secretaria da Segurança Pública), verifica-se que o número de presos (20) assassinados neste ano já se aproxima do total de detentos mortos no ano passado (24), segundo o Ilanud (órgão da ONU que trata da violência).
Em São Paulo, a administração de DPs e cadeias públicas é de responsabilidade da Secretaria da Segurança Pública e a de presídios, da Secretaria da Administração Penitenciária.
Os responsáveis pela área prisional de São Paulo estão tentando entender a razão de terem ocorrido motins tão violentos, com números tão altos de vítimas.
Detalhe: grande parte desses incidentes tem acontecido em presídios com lotação normal. A superlotação costuma ser considerada o principal problema desencadeador de rebeliões.
E, ao contrário do que muitas vezes ocorre, os episódios recentes aparentemente não estão tendo envolvimento de agentes do Estado (policiais, carcereiros) -resultam de brigas entre os presos.
Para o secretário-executivo do Ilanud, Oscar Vilhena Vieira, o aumento da agressividade entre presos pode estar associado à disputa na prisão de grupos criminosos cada vez mais organizados do lado de fora, como, por exemplo, quadrilhas de traficantes.
"A guerra entre grupos criminosos mais organizados tende a continuar na prisão quando membros deles são detidos", disse Vieira.
O secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, considera que os novos incidentes graves envolvendo presos são "um reflexo da atual cultura da violência, presente em toda a sociedade".
Iara Aparecida de Paula, do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de SP, disse que a "disputa por liderança na cadeia" é um dos fatores que podem estar estimulando a violência interna.
O secretário-adjunto da Segurança Pública, Mário Papaterra Limongi, informou que a secretaria vai dar prioridade à transferência de presos como forma de evitar o acirramento da violência nas cadeias ainda superlotadas.


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