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Logística de enterro de Hussein faz queixo cair
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
No país dos desfiles das escolas de samba esse tipo de coisa
não comove. Mas os funerais
do rei Hussein, que assisti na
TV de lenço em punho, foram
um espetáculo que não deve se
repetir tão cedo.
Quantos enterros conseguem
reunir quatro presidentes americanos, Clinton, Bush, Carter e
Ford (Reagan, coitado, a mulher Nancy não deixa nem mais
fotografar)? Quando eles surgiram na escada do Air Force
One, parecia que um mount
Rushmore contemporâneo fora
esculpido sob encomenda para
homenagear o rei.
Ieltsin, Blair, Schroeder, Chirac: a lista de dignitários não
podia ser mais imponente. Nada mal para o rei de um paiseco
feito de areia e pobreza.
O Brasil se fez representar
apenas pelo embaixador na
Jordânia. Faz sentido. Como
raspa do tacho que somos e,
agora, mais raspa ainda depois
que nossos sonhos de ocupar
uma cadeira no Conselho de
Segurança da ONU foram para
a cucuia, que sentido faria
mandar um Felipe Lampreia
ou um Marco Maciel para os
funerais de um líder cujo país
não mantém ligações comerciais importantes conosco?
Hussein era descendente direto de Maomé. Algum católico, por acaso, já ouviu falar em
um parente de Jesus reconhecido pela Igreja Católica? Se essa
pessoa existisse, imagine a importância que não teria. Pois
essa é a dimensão de Hussein
para os muçulmanos.
E esse laço faz com que seja
ainda mais significativa a elegia lida por Bibi Netanyahu
antes de embarcar para o enterro em Amã. Aparentemente
comovido, ele se desmanchou
em elogios e terminou dizendo:
"Descanse em paz, sua majestade". Nem parecia o mesmo
sujeito que, se pudesse, arrancaria o tornozelo de um muçulmano a dentadas.
Fico imaginando o que não
deve ter sido organizar a chegada e a acomodação de tantos
chefes de Estado.
Fui ao enterro de Ayrton Senna. Lembro que para entrar no
cemitério cada convidado devia mostrar uma credencial recebida previamente em casa.
Como nas corridas de Fórmula
1 e nos desfiles das escolas, existiam credenciais para vips,
convidados menos especiais e
imprensa.
E me recordo também que Zé
Victor Oliva, dono da empresa
que organizou o enterro (de
forma impecável, diga-se), mal
dormiu entre a morte do piloto
no domingo e a quinta-feira,
quando ele foi sepultado.
QUALQUER NOTA
American Express
Alô, Fernanda Montenegro! Não
se esqueça de que somos o país da
inveja. De hoje em diante, nem sonhe em sair de casa sem um pé de
arruda na bolsa!
Focinheira neles
Já que querem proibir a criação
no país das raças pitbull, rottweiler
e mastim napolitano, por que não
aproveitam também para fechar as
academias de jiu-jitsu que formam
animais bem mais perigosos? Na
Pholianafaria do último fim-de-semana, gangues de valentões distribuíram pancada nas barbas da polícia.
Bate-estaca
Por falar em Pholianafaria, por
que o desfile não volta para a frente
do shopping Iguatemi, onde existe
um número bem menor de prédios
residenciais?
E-mail: barbara@uol.com.br
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