São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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Logística de enterro de Hussein faz queixo cair

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

No país dos desfiles das escolas de samba esse tipo de coisa não comove. Mas os funerais do rei Hussein, que assisti na TV de lenço em punho, foram um espetáculo que não deve se repetir tão cedo.
Quantos enterros conseguem reunir quatro presidentes americanos, Clinton, Bush, Carter e Ford (Reagan, coitado, a mulher Nancy não deixa nem mais fotografar)? Quando eles surgiram na escada do Air Force One, parecia que um mount Rushmore contemporâneo fora esculpido sob encomenda para homenagear o rei.
Ieltsin, Blair, Schroeder, Chirac: a lista de dignitários não podia ser mais imponente. Nada mal para o rei de um paiseco feito de areia e pobreza.
O Brasil se fez representar apenas pelo embaixador na Jordânia. Faz sentido. Como raspa do tacho que somos e, agora, mais raspa ainda depois que nossos sonhos de ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU foram para a cucuia, que sentido faria mandar um Felipe Lampreia ou um Marco Maciel para os funerais de um líder cujo país não mantém ligações comerciais importantes conosco?
Hussein era descendente direto de Maomé. Algum católico, por acaso, já ouviu falar em um parente de Jesus reconhecido pela Igreja Católica? Se essa pessoa existisse, imagine a importância que não teria. Pois essa é a dimensão de Hussein para os muçulmanos.
E esse laço faz com que seja ainda mais significativa a elegia lida por Bibi Netanyahu antes de embarcar para o enterro em Amã. Aparentemente comovido, ele se desmanchou em elogios e terminou dizendo: "Descanse em paz, sua majestade". Nem parecia o mesmo sujeito que, se pudesse, arrancaria o tornozelo de um muçulmano a dentadas.
Fico imaginando o que não deve ter sido organizar a chegada e a acomodação de tantos chefes de Estado.
Fui ao enterro de Ayrton Senna. Lembro que para entrar no cemitério cada convidado devia mostrar uma credencial recebida previamente em casa. Como nas corridas de Fórmula 1 e nos desfiles das escolas, existiam credenciais para vips, convidados menos especiais e imprensa.
E me recordo também que Zé Victor Oliva, dono da empresa que organizou o enterro (de forma impecável, diga-se), mal dormiu entre a morte do piloto no domingo e a quinta-feira, quando ele foi sepultado.

QUALQUER NOTA

American Express
Alô, Fernanda Montenegro! Não se esqueça de que somos o país da inveja. De hoje em diante, nem sonhe em sair de casa sem um pé de arruda na bolsa!

Focinheira neles
Já que querem proibir a criação no país das raças pitbull, rottweiler e mastim napolitano, por que não aproveitam também para fechar as academias de jiu-jitsu que formam animais bem mais perigosos? Na Pholianafaria do último fim-de-semana, gangues de valentões distribuíram pancada nas barbas da polícia.

Bate-estaca
Por falar em Pholianafaria, por que o desfile não volta para a frente do shopping Iguatemi, onde existe um número bem menor de prédios residenciais?

E-mail: barbara@uol.com.br


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