São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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Ser sambista era quase pecado, diz fundador

da Sucursal do Rio

Únicos fundadores vivos das duas escolas de samba mais tradicionais do Rio, o mangueirense Carlos Cachaça e o portelense Cláudio Bernardo da Costa vêem com um misto de alegria e saudade a transformação do samba de ritmo marginal em música nacional.
"Nós, sambistas, cansamos de ser expulsos dos bares a bengaladas. O samba era considerado um divertimento de pessoas com as quais não se devia ter amizade", lembra Costa.
Carlos Cachaça conta que os comissários de polícia saíam procurando os sambistas e queriam prendê-los.
"O comissário batia no meu ombro e perguntava: "O senhor é sambista?" Eu dizia: "Deus me livre, não sei nem o que é samba". Ser sambista era quase pecado", diz.
Os dois têm saudades dos tempos dos primeiros Carnavais. Acham que os sambas eram mais bonitos, melódicos e originais. Nos desfiles, não havia microfone, lembra Costa, e os integrantes levavam o samba "no gogó" (na garganta), para defender as cores da escola.
Costa se lembra do tempo da fundação do bloco Vai como Pode, antecessor da Portela, em 1926. Carlos Cachaça nasceu no lugar onde hoje fica a Vila Olímpica da Mangueira, projeto de formação de atletas da escola.
Parceiro de Cartola e autor de sambas como "Alvorada", "Amor de Carnaval" e "Não Quero Mais", Carlos Cachaça ainda é presidente de honra da Mangueira. Passou anos afastado da escola, por desentendimentos com antigos presidentes, mas se reaproximou e voltou a desfilar.
Diz que aprova os novos tipos de samba e defende a parceria mangueirense com o pagodeiro Alexandre Pires, que está cantando o samba da escola no CD dos sambas-enredo. "Antes, o samba era indesejado, agora é disputado. O samba hoje dá dinheiro, é um espetáculo do mundo, todos querem participar", resume.
Este ano, Carlos Cachaça será homenageado duas vezes pela Mangueira. É tema do enredo da escola-mirim Mangueira do Amanhã. No enredo da Mangueira adulta, "O Século do Samba", é citado como um dos grandes nomes da escola e da música popular brasileira.


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