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Ser sambista era quase pecado, diz fundador
da Sucursal do Rio
Únicos fundadores vivos das
duas escolas de samba mais tradicionais do Rio, o mangueirense
Carlos Cachaça e o portelense
Cláudio Bernardo da Costa vêem
com um misto de alegria e saudade
a transformação do samba de ritmo marginal em música nacional.
"Nós, sambistas, cansamos de
ser expulsos dos bares a bengaladas. O samba era considerado um
divertimento de pessoas com as
quais não se devia ter amizade",
lembra Costa.
Carlos Cachaça conta que os comissários de polícia saíam procurando os sambistas e queriam
prendê-los.
"O comissário batia no meu ombro e perguntava: "O senhor é sambista?" Eu dizia: "Deus me livre, não
sei nem o que é samba". Ser sambista era quase pecado", diz.
Os dois têm saudades dos tempos dos primeiros Carnavais.
Acham que os sambas eram mais
bonitos, melódicos e originais.
Nos desfiles, não havia microfone,
lembra Costa, e os integrantes levavam o samba "no gogó" (na garganta), para defender as cores da
escola.
Costa se lembra do tempo da
fundação do bloco Vai como Pode,
antecessor da Portela, em 1926.
Carlos Cachaça nasceu no lugar
onde hoje fica a Vila Olímpica da
Mangueira, projeto de formação
de atletas da escola.
Parceiro de Cartola e autor de
sambas como "Alvorada", "Amor
de Carnaval" e "Não Quero Mais",
Carlos Cachaça ainda é presidente
de honra da Mangueira. Passou
anos afastado da escola, por desentendimentos com antigos presidentes, mas se reaproximou e voltou a desfilar.
Diz que aprova os novos tipos de
samba e defende a parceria mangueirense com o pagodeiro Alexandre Pires, que está cantando o
samba da escola no CD dos sambas-enredo. "Antes, o samba era
indesejado, agora é disputado. O
samba hoje dá dinheiro, é um espetáculo do mundo, todos querem
participar", resume.
Este ano, Carlos Cachaça será
homenageado duas vezes pela
Mangueira. É tema do enredo da
escola-mirim Mangueira do Amanhã. No enredo da Mangueira
adulta, "O Século do Samba", é citado como um dos grandes nomes
da escola e da música popular brasileira.
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