São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARNAVAL
Personagens da União, Mangueira e Portela somam 387 anos
Maiores de 90 marcam desfiles de escolas de samba cariocas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio


Juntos, quatro personagens do Carnaval do Rio deste ano somam 387 anos e, de um jeito ou de outro, fazem de suas vidas uma marca da festa.
O jornalista Barbosa Lima Sobrinho, 102, foi escolhido como tema do enredo da União da Ilha do Governador. O sambista Moreira da Silva, 96, será um dos homenageados pela Mangueira no enredo "O Século do Samba".
A seu lado estará Carlos Moreira de Castro, o venerado Carlos Cachaça, 96, único fundador ainda vivo da escola. E o sócio número um da Portela, Cláudio Bernardo da Costa, 93, adiou uma cirurgia na vista para poder desfilar. É também o único fundador vivo.
Dos quatro, só Barbosa Lima Sobrinho, estreante no samba, ainda não sabe se vai desfilar, embora não lhe falte vontade. Tem medo da emoção na avenida, e a família aguarda um parecer médico.
A vitalidade de Barbosa Lima surpreende. Três vezes por semana, ele dá 500 pedaladas na bicicleta ergométrica. Ainda comanda as sessões da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), entidade que preside.
Preocupa os filhos quando sobe na escada para apanhar livros nas prateleiras mais altas. "Não há porque se preocupar, eu fui atleta, sei cair", diz o jornalista, que, na juventude, foi jogador de futebol de um clube pernambucano.
Sua receita, além de exercício físico constante, inclui bem-estar espiritual: "É preciso aceitar as mudanças do mundo, rebelar-se contra as injustiças, mas sem querer alterar o que está além do nosso alcance".
O sambista mangueirense Carlos Cachaça -que já não faz jus ao apelido- está preparando o terno verde e rosa, cores da escola, para o desfile e sonha com o bicampeonato. Indagado sobre sua longevidade, ri: "Muita farra, muita alegria, muito samba".
Ele nunca fumou e já não bebe. Explica que para viver muito e bem não há receita, "é ir vivendo". Ele tem problemas de hipertensão e caminha com alguma dificuldade, mas a memória é clara. "Ainda me lembro de como era a Mangueira. Não tinha nada, era só mato."
Moreira da Silva, inventor do samba de breque e ainda com shows em cartaz, está eufórico com a homenagem mangueirense. É uma espécie de malandro sem vícios: não fuma, não bebe e tem alimentação leve. "Meu único vício é mulher. Acho que sexo faz bem para a saúde. Estou dando um tempo agora, mas nunca tomei Viagra."
Para Cláudio Bernardo da Costa, da Portela, o segredo é "ter um temperamento bom, porque a gente encontra de tudo na vida". Diz que sempre fumou e bebeu de forma moderada. "Apesar de ser do samba, eu não era das noitadas", conta.
Costa diz que, depois do desfile, fará a operação para tratar a catarata. Não tem medo: "Já vivi tanto, que, se Deus me der mais Carnavais, vou virar o século".


Texto Anterior: CPI do PPB livra vereador de investigação
Próximo Texto: Ser sambista era quase pecado, diz fundador
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.