São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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SISTEMA PRISIONAL

Preso foi agredido

Detentos ligados ao PCC são jurados de morte

DA REPORTAGEM LOCAL

DA FOLHA VALE

Pelo menos 30 presos ligados ao PCC estão jurados de morte na Casa de Detenção de São Paulo, no complexo do Carandiru (zona norte), considerado o quartel-general da facção que organizou a maior rebelião da história do país.
Segundo funcionários do presídio, uma nova briga começou nas penitenciárias estaduais, entre os integrantes do PCC, que o governo distribuiu por meio de transferências após a rebelião em série, e facções contrárias a eles.
Ontem de manhã, às 7h30, detentos atacaram um preso supostamente ligado ao PCC no pavilhão 9, um dos maiores do complexo. Ele precisou ser transferido às pressas para o pavilhão 4 e chegou a ter ferimentos leves.
O diretor interino da Detenção, Sergio Zeppelin Filho, confirmou a agressão, mas negou que ela tenha ocorrido em razão da briga entre facções contrárias ao PCC. Segundo ele, os detentos do pavilhão 9 se revoltaram contra o agredido, por causa de um ato de indisciplina dele contra um funcionário. ""É natural que os presos que querem paz se revoltem contra um bagunceiro."
Essa disputa entre facções, que chegou a causar até rebeliões no interior, como em Bauru, deixou tenso o clima nas penitenciárias, segundo o Sindicato dos Agentes Penitenciários de São Paulo, que vem mapeando a situação das prisões no Estado. ""É possível ver presos armados, com facas e, dependendo do horário, não se entra em determinados pavilhões", disse um agente penitenciário da Casa de Detenção.
Na semana passada, funcionários do IRT de Tremembé, presídio que funciona em regime semi-aberto, no Vale do Paraíba, foram atacados por detentos encapuzados ao aplicar uma punição em um dos condenados. Eles registraram boletim de ocorrência.
Segundo a Polícia Civil, um grupo de presidiários agrediu um dos agentes -responsável pela guarda da cela de castigo do presídio- e libertou um reeducando que estava sendo mantido ali. O recolhimento em cela disciplinar, por lei, pode ser usado por no máximo 30 dias contra quem desrespeitou as normas internas.
Como estavam encapuzados, os agressores não foram reconhecidos nem punidos. No início da semana, um detento conseguiu fugir da unidade após ter sido ajudado por cerca de 50 presos.
Uma sindicância foi aberta para apurar o caso e os líderes do princípio de motim foram castigados com a transferência para o regime fechado. Ontem à noite outros três detentos fugiram do local.
Segundo a assessoria da Secretaria da Administração Penitenciária, o clima nos presídios do Estado é ""tranquilo".
O secretário da pasta, Nagashi Furukawa, por meio de assessor, disse que era esperada uma disputa de poder dentro das unidades, após o isolamento dos líderes em Taubaté, mas que a dimensão disso não é de uma guerra.
Os principais líderes do PCC foram transferidos do complexo do Carandiru, no último dia 16, para a Casa de Custódia de Taubaté.
Dois dias depois, estourou a revolta em 29 prisões de São Paulo e cerca de 10 mil pessoas, entre parentes de detentos e funcionários, ficaram como reféns.
Depois disso, a Secretaria da Administração fez mais de 600 transferências do complexo, espalhando simpatizantes e soldados da facções pelo Estado.


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