|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIANÇA
Oficial de projetos da Unicef diz que aprovar a medida é ir na contramão das propostas sérias de políticas de segurança
Redução da idade penal é criticada em evento em BH
ELAINE RESENDE
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM BELO HORIZONTE
A possibilidade da redução da
idade penal de 18 anos para 16
anos foi criticada ontem no Seminário Brasileiro de Crianças e
Adolescentes Trabalhadores, que
acontece em Belo Horizonte.
Lidja Maria do Nascimento Pereira,19, que já participou de quatro conferências internacionais
sobre trabalho infantil, criticou as
tentativas para mudar a lei.
Segundo ela, que é educadora
social do Movimento Nacional de
Meninos e Meninas de Rua, "a redução permite que o governo não
cumpra uma responsabilidade
que é dele, já que o próprio governo não cria condições de vida digna para crianças e adolescentes".
O artigo 23 do Código Penal
Brasileiro estabelece que todo jovem acima de 18 anos é penalmente responsável pelos seus crimes. Mas, com o aumento da violência em todo país, surgiram tentativas para reavaliar a lei. Hoje a
Câmara de Deputados tem 14
projetos que tratam do assunto.
O relator da PEC (Proposta de
Emenda Constitucional) sobre a
imputabilidade penal, deputado
Inaldo Leitão (PSDB-PB), afirma
que a "idade penal deve ser feita a
partir de uma avaliação biopsicológica, e não biológica".
"Se um jovem de 16 ou 17 anos,
que pode votar, cometer um crime eleitoral, não será punido por
causa da lei", diz. O deputado
acrescenta que "esse tipo de norma não compromete a ordem democrática e constitucional".
A deputada federal Nair Lobo
(PMDB-GO) disse que "muitos
psicólogos e psicanalistas consideram um jovem de 16 anos apto
a responder criminalmente pelo
delito cometido". Ela afirma que o
acesso à informação é grande,
"inclusive nas camadas mais pobres". "Por mim eu punha 12
anos. O jovem fala "sou de menor"
e fica tudo por isso mesmo."
O artigo 112 do ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente) diz
que o adolescente infrator, apesar
de ser penalmente inimputável, é
convocado a se responsabilizar
pela sua conduta, cumprindo medidas socioeducativas. Assim, o
menor de 18 anos pode ser advertido, prestar serviços à comunidade ou cumprir a determinação do
juiz em "internatos".
"Essa privação da liberdade deve acontecer em condições que
possibilitem os objetivos de reintegrar, ressocializar e abrir espaços para recuperação", disse a advogada e socióloga Arabela Rota,
que participou do seminário.
Para o coordenador nacional do
Movimento Nacional de Meninos
e Meninas de Rua, Rodrigo
Stumph González, a aprovação
dessa proposta de emenda pelo
Congresso só reforça o problema
da criminalidade.
"Além de não haver mais vagas
nos presídios, o sistema carcerário brasileiro diminui a possibilidade de reinserção desses jovens", diz. González afirma que os
argumentos defendidos pelos favoráveis à redução da idade não
se baseiam em dados estatísticos.
Em junho de 99, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) realizou uma pesquisa em
6.413 unidades de privação de liberdade (as chamadas Febens) e
chegou aos seguintes números:
66% cometeram crimes contra a
propriedade ou o patrimônio;
21.5% contra a vida ou a integridade pessoal; 3.5% contra a liberdade sexual e 9% praticaram alguma transgressão referente ao uso
ou porte de drogas.
"Aprovar essa medida é ir na
contramão das propostas mais sérias de políticas de segurança pública", diz o oficial de projetos do
Unicef, Mário Volpi.
O Seminário Brasileiro de
Crianças e Adolescentes Trabalhadores vai terminar amanhã,
com a redação de um documento
final com as conclusões de cada
grupo temático.
Texto Anterior: Paraná: Ex-secretário é acusado de dirigir alcoolizado Próximo Texto: Jovens contam seus dramas em seminário Índice
|