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Fã de Robinho, agenciador espanhol promete emprego, mas exige comissão
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
À mesa de um restaurante
perto da Plaza Mayor, um dos
lugares mais visitados de Madri, surge a dica sobre como e
onde conseguir "trabajo". A senha é procurar a piscina desativada de Marbella, na periferia
de Madri, perto de outra praça,
a Elíptica, não tão conhecida e
histórica quanto a Mayor. Ao
lado de um ginásio da avenida
Oporto está a porta de entrada
de muitos brasileiros no mercado de trabalho espanhol.
É em Plaza Elíptica que está
uma churrascaria com anúncio
em português no letreiro (rodízio de carne, baby beef, restaurante e cafeteria, em letras prateadas e acompanhadas de um
touro) e que poderia ser confundida com um bar da Vila
Madalena. Dentro da churrascaria de Marbella é onde costumam se reunir aliciadores de
trabalhadores e brasileiros à
procura de trabalho.
Na tarde de ontem, enquanto
a população espanhola votava,
a Folha foi a Marbella. No estacionamento do lugar, um trio
de brasileiros deu mais informações sobre quem poderia
ajudar a arranjar um trabalho
em Madri, tudo ali mesmo, em
Marbella. Enquanto se preparavam para entrar em seus carros, todos Golfs modelos antigos e algo avariados, os brasileiros disseram que um certo
Miguel Luis era o "cara".
Espanhol, Miguel Luis ainda
não estava na churrascaria, segundo os brasileiros, mas chegaria ainda antes de anoitecer.
Questionados sobre como poderia identificar Miguel Luis,
os brasileiros riram e soltaram:
"Você não vai ter dúvida, o homem é um ímã! Quando ele
chega, todo mundo cola perto".
"El Puto Amo"
Como dito pelos brasileiros,
todos de Goiás, atualmente trabalhadores da construção civil
espanhola com salários entre
1.500 e 2.000 euros, Miguel
Luis chegou antes de anoitecer
e a sua entrada teve o efeito
anunciado. Miguel Luis vestia
uma camisa 7 do Real Madri,
com a frase "El Puto Amo" (gíria em espanhol para chefão)
estampada nas costas.
Falar de futebol foi o assunto
que o repórter usou para abordar Miguel Luis. Com um copo
de cerveja na mão, o espanhol
sorriu e perguntou se o repórter era da terra de Robinho. Ouviu que sim. Minutos depois, o
que realmente importava: a
Folha diz que ele fora indicado
por brasileiros como "hermano
de los trabajos en Madrid".
Ele pede uma cerveja ao interlocutor, que paga. Depois,
diz não ter como ajudar a arranjar trabalho, "mas que alguns amigos sabiam onde e como conseguir". Enquanto bebia, voltou a falar de futebol.
Então, de repente, o espanhol disse que poderia arrumar
"trabajo de camarero" (garçom). Para valorizar, tentou dizer que era a última vaga que tinha, que já havia sido reservada
para outro "brasileño", mas
que, como ele havia sido retido
por "La Migra" no aeroporto
internacional de Barajas, bastava o repórter se apresentar
novamente em Marbella, na
manhã de hoje (segunda-feira),
para trabalhar até sábado e receber 800 euros (R$ 2.032)
mensais, 200 semanais, "se não
faltar ou cometer burradas".
Ao ouvir do repórter a contraproposta de que ele também
queria se tornar um "mileurista", ou seja, ser um cidadão
com salário médio mensal de
pelo menos mil euros, Miguel
Luis riu outra vez e soltou, irônico: "É pegar ou largar, ok?".
"Se quiser começar a provar
seu valor, pode vir aqui amanhã, às 7h, para ir ao local de
trabalho às 8h. Deixe o seu passaporte comigo, pois será a minha e a sua garantia. Assim que
você começar, acertaremos minha comissão."
Na hora marcada para começar o trabalho de "camarero"
em Madri, o repórter já embarcava no aeroporto de Barajas
rumo a São Paulo, deixando o
emprego obtido para outro
"hermano brasileño" com o sonho de fazer a vida na Espanha.
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