São Paulo, Quarta-feira, 10 de Março de 1999
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VIOLÊNCIA
Dados se referem às cidades; quando comparados os dois Estados, o Rio lidera homicídios intencionais; secretaria paulista contesta dados
Capital de SP é mais violenta do que a do Rio

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

Estudo realizado pelo governo fluminense aponta que, no confronto Rio-São Paulo de criminalidade, a capital paulista foi a campeã no ano passado: é mais violenta, registrou mais homicídios dolosos, furtos, roubos e furtos e roubos de veículos. Quando os Estados são comparados, contudo, há mais homicídios dolosos no Rio.
Esse levantamento faz parte de um documento comparativo sobre criminalidade elaborado pela Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio, com base em dados oficiais fornecidos pela secretaria da mesma área em São Paulo.
A secretaria paulista não reconhece a autenticidade dos números. Mas um fax obtido pela Folha confirma que as informações utilizadas no estudo comparativo são oficiais e foram enviadas ao Rio pelo órgão encarregado de organizá-las em São Paulo.
Segundo esse levantamento, em 1998 aconteceram 1.884 homicídios dolosos (intencionais) na cidade do Rio (33,7 por 100 mil habitantes), contra 5.157 em São Paulo (51,9 por 100 mil habitantes) -número praticamente igual ao registrado em todo o Estado do Rio no mesmo período (5.161 casos).
A diferença diminui quando se comparam as regiões metropolitanas das duas cidades -a Baixada Fluminense, na periferia do Rio, é considerada um dos locais mais violentos do país.
Nesse caso, na Grande São Paulo ocorreram 8.434 homicídios dolosos (48,9 por 100 mil habitantes), contra 4.311 no Rio (41,3 por 100 mil habitantes).
Os números mostram que a cidade do Rio é menos violenta do que os municípios da periferia -já que o índice por 100 mil habitantes cresce quando engloba a região metropolitana. Em São Paulo ocorre o contrário. A capital é mais violenta do que sua periferia.
Quando os índices globais de homicídios dolosos em universos por 100 mil habitantes dos dois Estados são comparados, entretanto, a situação se inverte. O Rio assume a dianteira. São 37,7 (5.161 casos) contra 33,6 (11.861 ocorrências) em São Paulo. Nos outros três quesitos -roubo, furto e roubo e furto de veículos-, São Paulo permanece à frente.
O maior índice desse levantamento é o de furtos (quando não há uso de coação ou de violência) na capital paulista -1.069 casos por 100 mil habitantes.

Contestação dos números
Amarildo Antunes, assessor de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, contesta a existência desses números. Mas a Folha obteve um fax da Coordenadoria de Análise e Planejamento da secretaria paulista datado do dia 11 de fevereiro que confirma a versão fluminense.
Antunes enviou um fax à Folha afirmando que ""não autoriza a publicação de fonte referente a informações estatísticas" fornecidas pela secretaria fluminense.
Segundo ele, só há números disponíveis até outubro de 1998 -os restantes, dois meses após o encerramento do ano, ainda não teriam sido finalizados. Mas ele não explicou a razão da demora.
Os números até outubro, contudo, conforme informa o documento enviado por fax por sua equipe, foram fechados em 5 de novembro de 1998, apenas cinco dias após a virada do mês.


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