São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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TRAGÉDIA
Morte do menino de 6 anos foi presenciada por 3.000 pessoas que estavam no Vostok, em Pernambuco
Garoto é morto por 5 leões em circo

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

O garoto José Miguel dos Santos Fonseca Jr., 6, foi atacado e morto às 19h de ontem por cinco leões do circo Vostok, que está instalado no estacionamento do shopping center Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Cerca de 3.000 pessoas presenciaram o ataque.
Houve tumulto, e a platéia teve de ser esvaziada. Segundo José Miguel dos Santos Fonseca, pai do menino, o ataque aconteceu durante o intervalo da apresentação, quando ele, seus dois filhos, Jr. e Mirela, 3, e outras pessoas foram tirar fotos dos cavalos, em um cercado fora do picadeiro.
A foto foi autorizada pelo apresentador, que indicou o caminho. O trajeto, acompanhado por um funcionário, incluía uma passagem ao lado da jaula dos leões, no picadeiro. O avanço do leão aconteceu na volta para a platéia.
Um dos cinco leões puxou o menino das mãos de Fonseca. "Minha menina viu o irmãozinho ser arrastado", afirmou o pai.
"O leão colocou as duas patas para fora da jaula, puxou o menino para dentro, abocanhou a cabeça e balançou o garoto. Aí, os outros leões o atacaram", disse o músico Severino Ferreira da Silva, 32,que estava a dois metros de Jr.
A força com que o leão o puxou chegou a envergar as grades da jaula. O espaço entre uma barra e outra é de 10 centímetros. O menino, depois de agarrado, foi arrastado cerca de 30 metros por um corredor de aço, que termina em uma caçamba de caminhão também gradeada.
A Polícia Militar chegou ao local às 20h, uma hora depois do ataque. Primeiro, tentou afastar os leões do corpo do menino, dando tiros para o alto.
Como eles não se afastavam, a polícia atirou em dois deles, que acabaram sendo mortos, segundo o tenente Adriano Freitas. Os outros três leões foram isolados.
"Meu filho foi morto por imprudência. Vou processar o circo. Não pelo dinheiro, mas pela irresponsabilidade", afirmou Fonseca. Ele disse que não sabe como contar o fato à sua mulher, que está grávida de oito meses.
O delegado do distrito de Prazeres, Dorgival do Carmo Accioly, instaurou inquérito por homicídio culposo.
Às 22h10, houve um tiroteio. Dois dos três leões que estavam isolados em um compartimento dentro da jaula estouraram a grade e voltaram a atacar o corpo.
A polícia interveio e atirou com revólveres e fuzis contra os animais. Os dois morreram. Houve correria e um dos policiais ficou ferido ao tropeçar em uma grade.
Até as 22h30 de ontem, o corpo do menino, totalmente dilacerado, ainda permanecia dentro da jaula à espera do IML (Instituto Médico Legal). A área estava isolada, e cerca de 50 policiais militares estavam no local.
José Nemésio de Sena, perito do Instituto de Criminalística, constatou que o vão da grade da jaula, que era de 10 cm, abriu para 16 cm com a força do leão.
Segundo ele, existem evidências de supostas falhas de segurança, como a falta de grade de proteção perto da jaula do picadeiro.
Ele disse ainda que o túnel que liga o caminhão à jaula está amarrado com cordas de náilon e deveria ser com barras de ferro.



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