São Paulo, terça-feira, 10 de abril de 2001

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ADMINISTRAÇÃO

Datafolha indica que apoio à criação de CPI é maior entre moradores mais jovens, mais pobres e menos instruídos

77% querem investigação do lixo em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisa Datafolha realizada na semana passada aponta que 77% dos paulistanos são favoráveis à convocação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a contratação emergencial de empresas para serviços complementares de limpeza.
Até os simpatizantes do PT demonstram ser contrários às manifestações da prefeita Marta Suplicy e da bancada de seu partido na Câmara Municipal. A maioria dos petistas (79%) defende a instauração de uma investigação.
Logo após sua posse, a prefeita teve de contratar empresas, sem licitação, para recolhimento de entulhos, capinagem de praças e ruas, entre outras tarefas que haviam sido suspensas por seu antecessor, Celso Pitta (PTN).
A prefeitura decidiu pagar quase R$ 19 milhões a 16 empreiteiras por três meses de serviço. Dentre as agraciadas estão, três das principais doadoras de recursos para a campanha vitoriosa de Marta.
Em março, a Folha revelou que uma outra companhia, a Tercopav, havia sido constituída um mês antes de o PT iniciar a consulta de preços. Uma quinta empresa, a Construrban, é de propriedade de um militante petista que integrou o grupo de estudos que definiu as linhas do programa de governo de Marta para o problema do lixo na cidade.
O surgimento desses fatos fez a oposição ao governo da petista, liderada pelos vereadores do PSDB, exigir a instalação de uma CPI na Câmara Municipal. A prefeita chegou a se dizer favorável em determinado momento. "Estou pagando o mico que não tenho de pagar", afirmou em 17 de março, ao se referir a supostas irregularidades no setor nas gestões de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000).
A bancada do PT se dividiu quanto à investigação (no governo Pitta, o partido foi ardoroso defensor dos contratos do lixo). Mas a articulação dos líderes governistas conseguiu barrar a apuração desejada pelos tucanos.
Por fim, a própria Marta se opôs à CPI. Em 21 de março, ela disse que o objetivo da oposição "era colocar fumaça em coisas graves que estão acontecendo no Congresso Nacional", numa referência à troca de acusações de irregularidades entre os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jáder Barbalho (PMDB-PA).
Para dar provas ao público de que não há falhas no processo de contratação das 16 empreiteiras, a petista solicitou ao Ministério Público a conferência de toda a documentação do negócio.
A divulgação dessa polêmica ainda não atingiu a maioria da população adulta da capital paulista. Dos 1.538 entrevistados pelo Datafolha no último dia 3, 49% declararam ter conhecimento do debate. Os demais 51% disseram que não sabiam do assunto.
Nesse ponto, a pesquisa mostra um movimento curioso da formação da opinião dos eleitores. O maior grau de desinformação ocorre entre os mais jovens, os de menor renda e os de menor escolaridade. São eles, no entanto, os maiores defensores da CPI.
O líder da prefeita na Câmara, José Mentor (PT), explica a posição do seu partido sobre o assunto. Segundo ele, "não há um fato determinante que justifique a criação da comissão".
"A própria pesquisa revela que a população não acredita que há corrupção na administração", afirmou o vereador ao se referir aos 47% dos entrevistados que consideram ter visto Marta Suplicy agir contra a corrupção na administração municipal.
O líder da prefeita na Câmara Municipal disse ainda que, "quando há fatos, o PT vota a favor da criação de uma CPI".
Os eleitores paulistanos tendem a achar que o governo Marta é honesto. Segundo o Datafolha, 42% disseram que não existem casos de corrupção nesta administração. Em 2000, último ano de Celso Pitta na prefeitura, 94% consideravam que o desvio de dinheiro público era uma marca daquela gestão. Um ano antes, essa taxa era um ponto percentual acima.
A desconfiança em relação à lisura do governo do PT é maior entre os entrevistados que têm mais escolaridade (47% dos que têm o nível superior) e entre os que têm renda familiar superior a 20 salários mínimos (44%).
A pesquisa demonstrou, ainda, que para 49% dos entrevistados a corrupção na administração municipal diminuiu em relação à gestão de Pitta. Outros 41% consideraram que ficou igual. Dos 1.538 entrevistados, 7% não tinham opinião sobre o assunto.


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