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BELO HORIZONTE
Orientados por voluntários, 72% dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa deixam de cometer infrações
Programa ajuda jovem a não voltar ao crime
ELAINE RESENDE
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O trabalho de 230 voluntários
em Belo Horizonte está ajudando
a cidade a alcançar, de forma pioneira, um nível de sucesso na recuperação de jovens infratores
considerado recorde.
Setenta e dois por cento dos
adolescentes entre 12 e 18 anos
que cumprem medidas socioeducativas determinadas pelo Juizado da Infância e da Juventude da
capital mineira não retornaram
ao crime desde que o projeto foi
implantado, em 1997.
Os voluntários, chamados de
orientadores, fazem parte do programa Liberdade Assistida, implantado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social,
em parceria com o Juizado da Infância e da Juventude e a Pastoral
do Menor. Em três anos, 941 jovens já passaram pelo projeto.
C.D.F., 18, participa do programa desde julho do ano passado,
depois de ter cometido um assalto
à mão armada. Ele é orientado pelo dentista Cláudio Manoel de
Meireles, 50, que há 20 anos dedica parte de seu tempo a quem necessita de assistência.
O jovem afirma que conversar
com uma pessoa "mais experiente e competente" ajuda a perceber
outras vivências e a aprender com
elas. Depois de fazer um curso de
serralheiro, ele conseguiu um emprego, pelo qual recebe R$ 250,00
por mês. Está também cursando o
segundo ano científico.
Ele reconhece que a presença do
voluntário contribui para seu desenvolvimento. "Quando a gente
não tem alguém para conversar,
para dar carinho, a gente só pensa
em maldade", diz.
Meireles afirma que não existe
uma fórmula para atender esses
adolescentes, já que cada caso
merece uma orientação diferente.
"Quando o indivíduo é sacado do
meio criminoso e muda de ambiente, ele passa a comparar valores e a mudar, além de se sentir
realmente parte da sociedade",
afirmou Meireles.
A função do orientador é examinar cuidadosamente as situações que levaram esses jovens à
prática do crime e guiá-los para
um caminho melhor.
As reuniões acontecem esporadicamente e o voluntário "cuida"
do menor durante um período
mínimo de seis meses. Os adolescentes também se encontram
com os técnicos da Prefeitura de
Belo Horizonte, que avaliam se
eles estão realmente cumprindo o
que foi determinado pelo Juizado,
que recebe boletins bimestrais sobre cada caso.
"Cabe ao voluntário estimular a
descoberta de novos valores, o
resgate da dignidade e a conquista
de horizontes ainda mais amplos
na vida", afirma a gerente de medidas socioeducativas da Prefeitura de Belo Horizonte, Carla Machado de Castro.
A parceria é pioneira no Brasil.
Carla acredita que os bons resultados se devem, em muito, ao
apoio dos voluntários. A gerente
cita o caso de uma voluntária que
alfabetizou um rapaz de 16 anos
por conta própria.
Outro voluntário realizou o sonho de um adolescente admirador de música: levou o garoto para um concerto. "O orientador
tem um olhar individual em relação ao adolescente, o que o poder
público não tem como fazer",
afirma Carla.
Decisão judicial
O juiz da Vara da Infância e da
Juventude de Belo Horizonte,Tarcísio José Martins Costa, diz que o
êxito do programa também se deve ao cumprimento imediato da
decisão judicial, que é monitorada pelos voluntários.
O programa conquistou, em 99,
o prêmio Socioeducando, criado
por entidades que lidam com a
questão da criança e do adolescente, como o Unicef (Fundo das
Nações Unidas para a Infância).
Segundo a secretária-executiva
do prêmio, Karina Spozato, a experiência de Belo Horizonte é a de
maior destaque no país.
"É eficaz, por atingir esse número expressivo, e criativa, já que é o
único projeto nacional que conseguiu reunir órgão público, igreja,
Justiça e comunidade", afirma
Karina Spozato.
Segundo dados do Ministério
da Justiça de 1998, 26% dos Estados não possuem nenhum programa de liberdade assistida.
O programa também se mostra
eficiente para as contas da cidade.
A prefeitura gasta, por mês, R$ 80
para cada adolescente. Já nos casos de internação, são aplicados
R$ 1.300 mensais por jovem.
Faltam, no entanto, voluntários.
Atualmente o programa tem 380
jovens inscritos e 230 orientadores. Os interessados em participar
do Liberdade Assistida podem ligar para 0/xx/31/3277-4578.
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