São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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Parente de morta não crê em solução

DA SUCURSAL DO RIO

Sogra da monitora escolar Fabiana dos Santos Oliveira, 24, morta ontem na Rocinha (zona sul) durante um tiroteio entre traficantes, a dona-de-casa Dalmira de Moura, 50, disse não acreditar que a favela será pacificada. Ela mora na Rocinha desde 1974.
""Fabiana foi apenas mais uma vítima, mas nada vai mudar. Nesta semana, a polícia vai ficar por lá. Quando uma nova matança ocorrer em outra favela, eles vão deixar o lugar. Todos vão se comover com as outras mortes, e a Rocinha voltará a ser confusa. Com certeza, a Fabiana não será a última a morrer lá", disse Moura, à tarde, na portaria do Hospital Municipal Miguel Couto (Leblon, zona sul do Rio).
Além de perder a nora, a dona-de-casa teve o filho Edson de Moura, 28, marido de Fabiana, ferido a bala no conflito entre traficantes. Ele recebeu um tiro no cotovelo esquerdo, mas não corre risco de morte.
""A dor é muito grande. Perdi praticamente uma filha, que me deixou duas crianças para criar, uma de cinco meses e a outra de oito anos", disse Moura.
Com a morte da nora, a dona-de-casa perdeu o quarto parente em tiroteios.
Segundo Moura, a nora morreu quando seguia na garupa da motocicleta do marido para buscar uma irmã na entrada da favela.
""Eles faziam o trajeto quase todos os dias porque a irmã da Fabiana só chegava de madrugada do trabalho. Ela tinha muita preocupação com a menina. Gostava de subir o morro com ela", afirmou Moura.

Encapuzados
De acordo com a dona-de-casa, Fabiana foi baleada no peito quando a moto passava pelo largo da Macumba.
""Meu filho disse que vários homens com capuzes na cabeça começaram a atirar sem parar. Minha nora caiu da moto assim que foi baleada. O Edson se desesperou, parou a moto e também foi acertado. Mesmo assim, ele ainda teve forças para tirá-la do meio da rua", disse Moura.
""O pior de tudo é que muitos dizem que tenho que ficar feliz porque meu filho está vivo", acrescentou a dona-de-casa.
(SÉRGIO RANGEL)


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