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ESTRADAS
Trauma pode fazer alunos deixarem de estudar ou se mudarem para Franca; Sacramento teve velório coletivo de 18 vítimas
Sobreviventes pensam em largar faculdade
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Penso em parar de estudar.
Acho que vou trancar a matrícula." Esse era o pensamento do estudante de educação física Fabrício Estival Ribeiro, que sobreviveu ao acidente de anteontem
com um ônibus em Rifaina (464
km de São Paulo).
Ele disse que só sobreviveu porque foi jogado para fora do ônibus
durante a queda do veículo. "Foi
horrível. Só vi na hora que estava
descendo [a serra". Estava todo
mundo desesperado, falando que
tinha acabado o freio", afirmou.
Para o estudante, a empresa Sacratur não deveria ter deixado o
ônibus viajar. Ribeiro, que quebrou uma perna e apresentava escoriações no rosto e na cabeça,
afirmou que, na saída de Sacramento, o ônibus já havia apresentado o problema.
Familiares de Érica Gonçalves
de Mattos informaram que ela
também pensa em parar de estudar por causa do acidente. "Ela já
disse que ou muda para Franca ou
pára de estudar. De ônibus ela
não viaja mais", disse um primo.
Já para o advogado Claudinei
Rezende Silva, o trajeto, feito em
aproximadamente uma hora e 20
minutos, sempre foi feito com segurança. Ele estudou em Franca
durante quatro anos e era amigo
de muitas vítimas do acidente em
Rifaina. "Foi um choque total. Fiquei sabendo por volta da 1h de
hoje [ontem" e vim para Franca.
Quando cheguei ao local, chovia
bastante", afirmou.
Na Santa Casa, o microempresário Gilberto Guará, 43, acompanhava a internação de sua mulher, Vera de Souza Guará, uma
das passageiras do ônibus. "Sempre foi uma viagem segura. Foi
mesmo uma fatalidade. O motorista era muito experiente", afirmou. Vera estuda pedagogia na
Unifran. Na Santa Casa, na manhã de ontem, cerca de cem pessoas buscavam informações sobre amigos e parentes.
Entre os estudantes mortos, sete
eram funcionários da Prefeitura
de Sacramento. "Estamos abalados", afirmou Sérgio Marcelino,
diretor do departamento de obras
urbanas da prefeitura, que coordenou o velório coletivo.
Luto coletivo
O comércio de Sacramento fechou ontem devido ao acidente,
que provocou a morte de 20 moradores da cidade. A prefeitura
decretou feriado no município.
No ginásio municipal, onde estava sendo realizado o velório de
18 das 20 vítimas, o clima de comoção era geral. Pelo menos 10
mil pessoas passaram pelo local
para se despedir dos mortos.
Familiares das vítimas se reuniam em torno dos caixões, colocados lado a lado na quadra. Alguns choravam incontidamente.
Um ambulatório, que foi improvisado dentro do ginásio, atendeu
pelo menos 20 pessoas até as
17h30 -a maioria com problemas de pressão. Elas eram medicadas com calmantes. "Não tem
explicação. A cidade inteira sente
o que aconteceu", afirmou Ilson
Valdo dos Santos.
"É uma coisa muito ruim. Não
sei o que explicar. Quando chegam o dia e a hora da pessoa, não
tem jeito", disse o pedreiro Gilberto Borges da Silva, 28, que é de
Sacramento e perdeu um irmão e
uma prima no acidente.
Por volta das 17h, quando o governador de Minas Gerais, Itamar
Franco (PMDB), deixou o ginásio, havia aproximadamente
6.000 pessoas aguardando o início
de uma missa.
Os corpos foram chegando aos
poucos. O enterro aconteceria a
partir do final da missa, ainda na
noite de ontem.
"Todo mundo está triste na cidade. Todos que estavam no ônibus foram procurar uma maneira
de melhorar a vida e acontece
uma tragédia dessas", afirmou
Paulo Pacheco. Um filho seu perdeu uma cunhada.
O pensamento em Deus era um
conforto para algumas famílias,
como no caso de Luís Carlos dos
Santos, 36. "Não queríamos esse
acidente, mas temos que pensar
que Deus quis", afirmou.
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