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Para especialistas, operação traz riscos para as Forças Armadas
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
As Forças Armadas não deveriam ser usadas para fazer trabalho de segurança pública, como
ocorrerá no Rio, mas, já que foi
decidido acioná-las, elas devem
agir em apoio às ações das polícias
estaduais e da Política Federal,
com ênfase nas tarefas de inteligência. Este é o ponto de vista de
especialistas ouvidos pela Folha
na sexta-feira passada.
Um deles, o cientista político
Eurico de Lima Figueiredo, 58,
coordenador-executivo do Núcleo de Estudos Estratégicos da
UFF (Universidade Federal Fluminense), disse que as Forças Armadas "não vão resolver a situação e ainda podem ficar desprestigiadas em relação ao seu papel de
garantidoras da soberania externa e da integridade interna do
país". Isso, segundo ele, "deve ser
evitado a qualquer preço".
Para Figueiredo, o risco de desprestígio está implícito na possibilidade de enfrentamento entre
as tropas federais e os traficantes.
"Se os traficantes atiram, ela [a
tropa] fica em que posição? Não
vai poder revidar livremente, não
vai poder acionar seu poder de
destruição porque isso iria gerar
pânico urbano, tendo em vista a
letalidade das suas armas."
Para Figueiredo, o papel das
tropas deve ser de apoio a operações de cerco a áreas perigosas,
incluindo o fornecimento de
equipamentos e munições especiais, além de treinar as polícias
para agir, por exemplo, em uma
operação de tomada de morro.
Ele defende a necessidade de
uma ação integrada das Forças
Armadas com as polícias para trabalhos de inteligência, baseados
na telemática, que permitam, por
exemplo, rastrear uma arma pelo
número de série e chegar a ela pelo levantamento das possíveis rotas de tráfico pelas quais passou.
Falência
Para o antropólogo Gilberto Velho, 58, professor do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o uso das
Forças Armadas "é um recurso
extremo, emergencial e que só pode ser compreendido em razão da
falência do poder público do Estado do Rio de Janeiro para lidar
com uma questão que normalmente deveria ser controlada pelo
próprio Estado".
O instrumento correto para intervenção federal, na avaliação de
Velho, seria a PF, que precisaria
ser "reforçada, ampliada e qualificada" para ter condições de agir.
Velho avalia também que, se as
Forças Armadas estivessem fazendo corretamente a vigilância
das fronteiras, com a PF, e impedindo o desvio de armas dos
quartéis, elas já estariam contribuindo muito para melhorar a situação de segurança no Rio.
Para ele, a principal função das
tropas federais nessa intervenção
no Rio é atuar em investigação,
reativando, para desmontar quadrilhas, os serviços de inteligência
usados para reprimir adversários
do regime militar (1964-1985).
Na opinião de Velho, é preciso
criar uma coordenação permanente, com controle federal, para
desenvolver um trabalho de segurança de longo prazo no Estado,
mantendo-se ativo mesmo que as
tropas não estejam nas ruas.
O historiador Marcelo Freixo,
37, coordenador da ONG Centro
de Justiça Global, voltada à defesa
dos direitos humanos, diz que a
presença dos Forças Armadas "só
vai aumentar o enorme grau de
letalidade da ação policial".
Freixo argumenta que, em vez
das "ações imediatistas" em resposta a momentos de crise, os governos deveriam desenvolver um
planejamento de longo prazo, como o Plano Nacional de Segurança Pública, que considera "bem
feito" e "não prevê a ação do Exército". Ele também defende que os
militares atuem no trabalho de investigação para desbaratar as
quadrilhas de traficantes.
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